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CUBA-VATICANO | Raúl Castro: "Se o Papa continuar assim, voltarei a rezar e voltarei à Igreja"

Assim o presidente cubano resumiu o encontro que teve com o Papa Francisco no domingo passado no Vaticano. Uma clara afirmação da orientação política em Havana: estreitar relações com as instituições mais obscuras e reacionárias - a Igreja Católica e o imperialismo estadunidense.

quarta-feira 13 de maio de 2015 | 00:00

Nesta segunda feira, já de retorno a Cuba, recebeu o presidente francês François Hollande, que foi à ilha para "apoiar" o processo de abertura econômica e a "reintegração plena" do país na política internacional.

A entrevista entre Jorge Bergoglio e Raul Castro foi "estritamente privada" e durou um pouco mais de 50 minutos. Muito pouco do que foi falado saiu à luz. Castro agradeceu mais uma vez a mediação da Igreja que levou à aproximação histórica entre Estados Unidos e Cuba, que, no dia 17 de dezembro de 2014, anunciaram o retorno das negociações oficiais e diretas depois de 50 anos. Também serviu para preparar a visita que o Papa fará à Cuba e aos Estados Unidos no mês de setembro, com a qual esperam novos avanços na relação bilateral com a abertura, por acaso, de embaixadas em Washington e Havana.

Mas a frase de Castro sobre o encontro em uma conferência de imprensa foi muito mais eloquente que as míseras declarações oficiais: "Eu leio todos os discursos do Papa. Se ele continuar falando assim, lhes garanto que vou voltar a rezar e ir à Igreja. E não estou brincando". O encontro com Jorge Bergoglio realmente foi histórico, não somente pelo fato de uma visita deste nível não acontecer desde finais dos anos 90, quando estava sendo preparada a visita de João Paulo II a Cuba para abençoar as políticas pro capitalistas do Período Especial, mas é histórico também porque simboliza o período de melhores relações desde que, devido à Revolução de 1959, o Estado cubano rompeu laços com a Igreja Católica, um dos principais instrumentos de opressão das massas cubanas junto ao exército do ditador Fulgencio Batista.

O interesse da igreja por uma transição organizada ao capitalismo, diferentemente dos anos 90, coincide agora não somente com o interesse da burocracia castrista, mas também com o giro histórico que deu a Casa Branca. A estratégia de confrontação direta para derrotar aos irmãos Castro (que teve seu ápice durante os anos 90 com as selvagens leis Torricelly e Helms-Burton), Barack Obama substituiu por uma mais pragmática e eficaz, aceitando como interlocutores a burocracia e o governo cubanos.

As profundas e vertiginosas mudanças que estão acontecendo em Cuba se confirmam também com a visita de Hollande nesta segunda-feira, que foi recebido por Fidel e Raul Castro. A viagem do presidente francês tem um caráter histórico e profundamente político, vindo de uma das principais potências imperialistas do planeta. É o primeiro chefe de estado europeu que visita Cuba logo depois do restabelecimento das relações entre Washington e Havana.

As palavras de Hollande prometendo fazer "tudo possível" para reintegrar ao país caribenho à política internacional e reiterando o pedido de que os Estados Unidos suspenda o bloqueio econômico que mantêm sobre a ilha desde 1962 não foram casuais nem improvisadas. A mensagem é clara: a França tenta se colocar à frente da "normalização" das relações entre União Europeia e Cuba.

A delegação de funcionários e empresários que acompanhou o presidente mostram a importância que tem para o Estado francês as mudanças em curso na ilha. Vários membros de seu gabinete e CEO’s de grandes empresas como Air France, Total ou Accor estiveram presentes. Ao interesse político de "não ficar fora" da transição em Cuba, se soma o interesse econômico.

É que a abertura da economia cubana ao mercado internacional promete importantes negócios com a ampliação e modernização da Zona Franca do Porto de Mariel, junto com a ampliação do Canal do Panamá e a construção de um ainda maior em Nicarágua (em projeto), para transformar a zona em um importante ponto de passagem do comércio mundial.

Não são poucos os interesses da França nesta região do Caribe, onde está a maior parte dos seus territórios (colônias) ultramarinos, como as ilhas de Martinica, Guadalupe e outras.

Hollande, assim como o Papa Francisco e Barack Obama, demonstra quais são seus interesses: uma abertura de Cuba ao serviço dos monopólios imperialistas, contra os interesses dos trabalhadores e do povo cubanos.

(Tradução: Cristina Santos)




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