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Racismo Capitalismo e a cidade de Campinas

Com uma elite regional que se ergueu sobre o sangue e o suor da população negra a escravidão, exploração e violência contra o negro é parte do DNA da cidade de Campinas.

quinta-feira 30 de março de 2017 | Edição do dia

[Foto: Ex-escravos em fazenda de Campinas no início do século XX. Acervo do MIS Campinas SP.]

A escravidão é uma ato de extrema violência. Em Campinas o tratamento brutal dados aos escravos pode ser observado nas forcas construídas pela cidade, o patíbulo (forca) - presente no largo da santa cruz atualmente (praça quinze de novembro) no bairro do Cambuí - foi construída para a sentença do escravo cabinda Elesbão, que fora enforcado em 1835. Sua sentença foi a forca, decapitação e partes do seu corpo espalhado pela cidade, ele junto a outro escravo foram acusado de assassinar seu senhor em Jundiaí e foram capturados em Campinas; naquele momento a execução era pública, na praça, como forma de coagir e reafirmar a autoridade do regime escravocrata. O pelourinho ficava a 200 metros do atual largo das andorinhas, ali eram executadas as sentenças das chibatadas. Todo o desenvolvimento econômico e o surgimento de uma aristocracia ligada ao café, o ouro verde, em Campinas se a partir da exploração de trabalhadores escravizados; e para tanto é utilizado de forte violência para conter qualquer levantamento dos escravos. Desde da origem da cidade, para produção do açúcar, até o auge do café Campinas atingiu o posto de maior contingente de escravos da província, isso de 1864 até meados dos 1880, como aponta o estudo de Amaral Lapa no livro Cidade Cantos e Antros.

Foto: Terreiro de café na região de Campinas, em 1888

Eric Williams, no livro Capitalismo e Escravidão, demostra como o racismo surge da necessidade material, ou seja, da necessidade de justificar ideologicamente a condição de exploração as quais iam sendo submetidos os negros africanos. A ideologia racista surge como base moral para a barbárie que se iniciava no continente, no processo de colonização dos povos nativos e a escravização dos negros africanos nas "plantation" (monocultura de exportação) como no plantio de cana de açúcar. "A escravidão no Caribe tem sido identificada com o negro de uma forma demasiado estreita. Com isso deu-se uma feição racial ao que é basicamente um fenômeno econômico. A escravidão não nasceu do racismo: pelo contrário, o racismo foi consequência da escravidão. O trabalho forçado no Novo Mundo foi vermelho, branco, preto e amarelo; católico, protestante e pagão." Essa ideologia vai se transformando e ganhando formas diferentes nos diversos países do continente, isso devido a fatores como a proporção da população negra em comparação a população branca. Nos EUA vemos um racismo aberto e brutal como mostra do documentário A História do Racismo e do Escravismo produzido pela BBC. No Brasil, por ser composto por uma população em sua maioria negra, o racismo assume contornos sutis mais não menos brutal. É essa máquina da escravidão que permite o surgimento do capitalismo como aponta Eric Williams.

Uma breve retomada histórica permite-nos ver os trabalhadores que produziam a riqueza nos séculos passados, dá para entender como ocorre a formação da burguesia brasileira, herdeira da escravidão ligada diretamente ao tráfico de escravos e ao latifúndio, como mostra no livro Questão negra, marxismo e classe operária no Brasil. A burguesia nacional nasce entre a massa negra e a pressão da metrópole e utiliza da formação de uma classe média branca como forma de conter a luta e reproduzir os valores morais burgueses entre eles centralmente o racismo. Estes fatores contribuíram muito para durante o processo de transição para sociedade capitalista com o trabalho assalariado, como aponta o estudo de Florestan Fernandes, a população negra fosse espoliada moralmente, economicamente, culturalmente e excluída dos polos mais dinâmicos do mercado de trabalho que iam se formando, sendo posta a margem da sociedade no que ele denomina de ralé -
pessoas em situação de desemprego, em postos precários e degradantes, enfrentando constante repressão policial.

Atualmente não tem como negar que o racismo tem como base material a divisão da classe operária, isso implica em trabalhadores brancos aceitar que colegas negros se coloquem nos posto precários com salário rebaixados, o que faz baixar de conjunto a preço da força de trabalho. Precisamos compreender que nascemos em uma sociedade racista e esse racismo é uma forma de gerar passividade e aceitação da condição de existência dos negros, ou seja, num sistema capitalista já desumano e perverso aumentar ainda mais o grau de exploração a um setor específico dos trabalhadores.

No capitalismo o racismo é introjetado desde de criança, é inerente ao modo de produção, é necessário romper com essa ideologia e assumir a luta dos negros como bandeira de toda a classe operária, enxergar Zumbi dos Palmares, Dandara e tantos outros lutadores e lutadoras como símbolo de todos os trabalhadores. Repudiar a teoria da democracia social de Gilberto Freyre, que retira o conflito de classe e retira o negro enquanto sujeito, negando a raça dizendo que existe uma miscigenação, este argumento é falso e funcional ao capitalismo brasileiro com uma população majoritariamente negra. A história vem sendo deturpada, a luta e resistência negra é apagada do processo de abolição. Temos de ter como exemplos os jacobinos negros no Haiti em 1791, onde se levantaram no que era a colonia mais importante da França, com maior produção de açúcar, e venceram exércitos franceses e ingleses deixado com medo os senhores de escravos de todo o continente.




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