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BRASÍLIA | Quilombo que ajudou a erguer Brasília pode perder terras para condomínios de luxo

Se já não bastasse doses diárias de racismo e desrespeito com comunidades quilombolas por parte de Bolsonaros, governantes, empresários e capitalistas de todo tipo, a empresa imobiliária que tem Sarney como sócio tem o propósito de levantar condomínios de luxo no lugar de bairro de operários que, em 1959, ergueram Brasília.

terça-feira 3 de julho de 2018 | Edição do dia

O antigo bairro de operários Cidade Livre (1959) hoje é conhecido por Núcleo Bandeirante. Eis uma demonstração de que a cidade nunca foi e nem é livre para os trabalhadores negros, seja em 1959 ou mesmo hoje.

Após 272 anos de existência e resistência, moradores do Quilombo Mesquita e sua história se vêem ameaçados de expulsão de suas terras. Motivo? A exploração capitalista imobiliária e a valorização das terras da região, com outra figura política envolvida, José Sarney, que mesmo aposentado continua a atacar trabalhadores em sua grande maioria pobres e negros. Procurado a respeito, Sarney esquivou-se e não se pronunciou.

Estes Quilombolas, que tiveram enorme importância na construção de Brasília e quase nunca são lembrados e muitas vezes nem citados na história brasileira, são exaltados no livro Quilombo Mesquita-História - Cultura e Resistência, de Manoel Barbosa Neres, pesquisador e morador da comunidade no Distrito Federal, que faz divisa com estado de Goiás, que conta como foi a importância dos quilombolas para construírem Brasília.

Eles construíram vilas com hospedarias, cantinas, refeitórios e também abasteciam com frutas, verduras, ovos, carnes, leite, pão... tudo produzido, colhido e transportado em carros de boi e carroças até os canteiros de obras, pois além dos responsáveis pelas obras não darem as devidas condições aos candangos - como ficaram conhecidos os migrantes trabalhadores que levantaram Brasília com muito suor e sofrimento -, quem mais ajudou no sustento dessa empreitada foram os quilombolas desta comunidade, que sofre com a diminuição de suas terras e com a possibilidade de terem suas terras e suas vidas em comunidade extraídas pela ganância capitalista, a exploração imobiliária.

A ex presidente da associação, Sandra Pereira Braga, diz que a proposta da atual gestão não tem apoio da maioria dos moradores da comunidade e que teria sido articulada em conluio entre fazendeiros, empresas e especuladores, muito interessados nas terras. Segundo ela, o Incra deveria ter feito estudos e consultas dentro da comunidade e que a redução beneficiaria a Divitex Pericuimã, empresa que tem o Sarney e Kakay como sócios e estariam muito interessados nas terras para construção de condomínios luxuosos, que com o crescimento de Brasília, o seu entorno é especulado e valorizado.

Pessoas ligadas à Sarney dizem que não haveria nenhuma manifestação do ex presidente. Kakay, o sócio, afirma que é somente investidor e nunca foi até o local, dizendo que desconhece tal ação da empresa. Já os advogados da Divitex Pericumã Empreendimentos Imobiliários, representado por Orlando Diniz Pinheiro afirmam que a empresa comprou terras na região 2 anos antes do início da regularização do quilombo e que os quilombolas nunca habitaram o terreno e que questionam judicialmente as terras já definidas pelo Incra como ancestral da comunidade. Ainda segundo um advogado, "as famílias que pleiteiam a demarcação foram todas elas compradoras de terras na região e não posseiras de área quilombola", mostrando toda sua ganância em representar judicialmente empresas que tem o intuito somente em obter lucros e deixar à míngua os membros desta comunidade e trabalhadores que ali vivem, pois foram expulsos do entorno da capital.

Sandra Pereira Braga contesta e diz que seus antepassados habitam a região há pelo menos 300 anos e que após a fundação de Brasília o quilombo ainda luta para que a importância na construção seja reconhecida, mas hoje, o mais importante é manter o quilombo Mesquita, pois sem ele, Brasília não existiria.

Nós do MRT e do Esquerda Diário repudiamos veementemente toda e qualquer política que coloquem em risco a vida e a paz de comunidades quilombolas, e nos posicionamos claramente contra os especuladores capitalistas e suas tentativas de eliminarem minorias para seguir avançando com seus lucros.




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