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UNIVERSIDADE | Quem paga as contas da crise financeira da USP na Faculdade de Educação?

sábado 15 de agosto de 2015 | 02:36

O que o ex-presidente Lula chamou de “marolinha” em 2008, está se configurando atualmente como um verdadeiro tsunami. Todos sabemos, porque sentimos de variadas formas cotidianamente, que a crise econômica mundial chegou ao Brasil, desde a cebola no supermercado até os cortes na educação pelo governo federal que já beiram cerca de 13 bilhões desde o começo do ano.

É claro que o primeiro setor a receber cortes é sempre um direito social. Sob os desmandos do PSDB, na maior universidade do país, mostra-se através das salas super lotadas (ao ponto de alunos terem que assistir aula no chão – veja aqui e aqui ), dos cortes de bolsas de pesquisa e permanência, na demissão e sobrecarga de trabalhadores, na tentativa de ataque à dedicação exclusiva dos docentes, etc.

E é obvio que os cortes são seletivos e atingem preferencialmente os cursos de menor demanda mercadológica, de menos inserção da iniciativa privada, como os cursos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humana (FFLCH) e a Faculdade de Educação (FEUSP) que, não por acaso, formam basicamente professores.

(Estudantes assistindo às aulas na Faculdade de Letras da USP. Leia maisaqui)

Nesta volta às aulas na FEUSP sentimos a crise através dos cortes até nas questões mais elementares, como papel higiênico e limpeza. É mais comum entrarmos nos banheiros de nossa escola e encontrarmos eles sujos, com mal cheiro e sem papel do que ao contrário. Na semana passada vários alunos estavam trazendo papel higiênico de suas próprias casas. E não se trata de uma exclusividade de nossa faculdade, é também comum passar por outras faculdades do campus e se deparar com os mesmos problemas.

A falta de papel higiênico, assim como d’água foi insistentemente denunciada pelos professores em greve do estado de São Paulo. No estado, aulas foram suspensas por falta d’água, alunos, professores e demais funcionários tinham que levar papel higiênico de casa, daí pra pior. Tratam-se de condições mínimas para se ensinar e aprender.

O que há por trás desta bizarra situação não é o descuido dos trabalhadores terceirizados que se desdobram para dar conta do serviço, já que também houve cortes de funcionários deste setor na USP inteira. E sim quais são as medidas adotadas pela reitoria de Zago para “resolver” ou amenizar os efeitos da crise financeira na nossa universidade e que não afetam os privilégios e interesses da casta burocrática de professores do Conselho Universitário (CO) da USP, as empresas privadas e de terceirização, com as quais mantêm estreitas relações. E que não solucionam!

Pra além do repasse do ICMS historicamente insuficiente para as universidades estaduais paulistas (e que sofreu ameaça de mais um ataque advindo do governo Alckmin no começo deste ano com a tentativa de passar na Lei de Diretrizes Orçamentárias um repasse de até 9,57% do ICMS, ou seja, assegurar em lei que poderia repassar muito menos do que a já deficitária verba, de acordo com seus interesses), sabemos que dinheiro público é concedido a iniciativa privada dentro da USP (disfarçadas de fundações de apoio) e que professores ligado ao CO recebem super salários (só da parte oficializada, portanto, cabível de ser declarada), como escancarado pela greve de 118 dias dos trabalhadores ano passado, comprovando, assim, que a suposta crise está longe de ser os trabalhadores e estudantes, bem como os serviços oferecidos à comunidade. A “solução” dada pela reitoria à crise orçamentária passa longe destas questões e bem perto do corte na permanência estudantil, qualidade de ensino e as péssimas condições de trabalho.

Na Faculdade de Educação, se não bastasse os cortes das cotas da pró-aluno nas licenciaturas, até mesmo as fichas de estágios que anteriormente eram distribuídas pela instituição foram cortadas. Levando-se em consideração que a carga de leitura é bem alta, torna-se dispendioso o valor no final do mês gasto com cópias dos materiais de estudo. Enquanto isto reina o imobilismo de nosso instrumento de luta estudantil, o centro acadêmico.

Não nos enganemos, a crise é a reitoria, não a toa negam-se a abrir as contas da universidade aos demais professores, estudantes, funcionários e comunidade. Além das denúncias, que podem ser feitas por qualquer estudante, professor ou funcionário no Esquerda Diário (enviando textos para [email protected]), precisamos retomar com força nossos fóruns de democracia, deliberação e organização, compondo as assembleias, auto organizando setores de mulheres, negros e lgbts a partir de suas demandas nos locais de trabalho e estudo, exigindo centros acadêmicos e DCE combativos e somando-nos aos atos e demais mobilizações chamados pelos trabalhadores e estudantes que defendem um projeto de universidade voltado aos interesses dos trabalhadores que a sustentam.


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