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CRISE ECONÔMICA E POLÍTICA | Programa do PT na TV: vendendo passado para omitir o drama do presente

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

sexta-feira 7 de agosto de 2015 | 01:04

Ontem à noite foi ao ar a propaganda do PT. Em diversas cidades do país foram ouvidos panelaços em alguns bairros, como já havia ocorrido em outros pronunciamentos de Dilma ou do PT. Com Dilma e o PT tendo atingido “o volume morto” segundo a definição de Lula, a propaganda visou enfrentar esta perda de popularidade propondo uma série de argumentos do passado para fomentar esperança na situação da economia e na condução de Dilma do país. O objetivo do programa era dirigir-se aos setores que tiveram aumento em sua renda e pequenas melhorias em suas vidas nos anos de crescimento econômico, enquanto os lucros patronais disparavam.

Esta peça de marketing político revela muito pelo que ela disse, mas também pelo que ela omitiu.

Reconhecendo a crise econômica e armando discurso para segurar o governo

Todo o programa de aproximadamente dez minutos foi conduzido por atores e contou com a presença do presidente do partido, Rui Falcão, Lula e Dilma nesta sequência. Dilma apareceu só no final já depois de “erguida” por Lula e pela propaganda. O alvo da propaganda era os setores que tiveram alguma melhoria em sua renda e consumo durante os anos de crescimento econômico, a tão propagada “classe C”.

Marcante em todos os discursos, seja dos atores, seja de Falcão, Lula e Dilma, foi o reconhecimento da crise econômica que passa o país. Um ator e a própria presidenta chega a falar que vários brasileiros estariam (e estamos) “em sofrimento”. Reconhecido isto o programa buscou marcar diversos investimentos feitos em toda a década petista e com isto fomentar esperança que o PT saberia conduzir melhor.

Buscando criar empatia a partir do passado, no programa o governo admite erros mas que “nunca mudariam de lado”, o lado dos mais fracos. Porém a verdade é que a pequena fatia do bolo que a classe trabalhadora teve acesso nos anos de crescimento econômico ocorreram enquanto as patronais obtinham não pequenas melhorias mas lucros recordes e agora são retiradas rapidamente estas melhorias e com grande “sofrimento”.

Ciente do descontentamento, uma preocupação central do programa era reconhecer a crise econômica mas buscar argumentar para que não a tornemos crise política. Para que os trabalhadores descontentes não caiam no discurso de oportunistas. De fato Aécio ou Cunha falando em defesa dos trabalhadores é oportunismo, mas não deixa de ser irônico uma presidente que prometeu não mexer em direitos “nem que a vaca tussa” e que dias depois começou a fazer isto a torto e direito, venha falar de oportunismo...

O programa argumentou que a crise econômica se resolve com medidas “corajosas” e com sábia condução. Vale um parênteses no “coração valente” e sua coragem, a que temos visto até aqui é para cortar dos direitos dos trabalhadores e não dos privilégios dos políticos, dos empresários ou para confiscar bens de corruptos. Voltando ao programa, nele se argumentou como a crise econômica atual não é das mais graves que o país já enfrentou, mas que a maior dificuldade estaria nos riscos de crise política.

Sem mencionar a palavra “golpe” o programa buscou armar pela via das falas dos atores e de Rui Falcão uma comparação do perigo da crise econômica tornar-se crise política com a ditadura militar, repetindo alguns elementos do discurso que sindicalistas da CUT e CTB estão usando nos locais de trabalho. Ou seja, engula seu descontentamento, não importa teu desemprego, cuidado que pode desembocar em crise e ditadura. Uma associação que não se sabe ainda se muitos dos telespectadores farão.

Fim da especulação: Lula defende Dilma

Há meses uma especulação ronda muitas análises políticas, Lula romperia com Dilma? O programa não deixa dúvidas. Lula defende Dilma. Tal como ele havia indicado no congresso do PT, o “volume morto” atinge todos. Então para buscar se erguer e erguer seu partido dedicam o programa todo a fornecer argumentos para tentar erguer Dilma.

Esta “novidade” do criador defender sua “criatura” foi acompanhada de Lula reconhecer que também aplicou um “ajuste” na economia, porém, tal como no ajuste de Dilma na parte de Lula o imenso aumento no desemprego, o corte de direitos dos aposentados e do funcionalismo foram omitidos. Menciona-se as durezas de ajustes mas não se fala neles, tal como se não falar deles faria passar mais rápido, e não a complexa relação da economia nacional com a política, luta de classes, com a economia e luta de classes mundial... na versão deles, o ajuste de Lula passou rápido porque foi ele que fez, e não porque a economia brasileira se “colou” em um imenso ciclo de crescimento da economia mundial...

O ajuste de verdade, os sofrimentos de verdade não existiram

Em meio a muitos números de gastos efetuados em anos anteriores o programa omitiu as durezas do ajuste atual. Mostrando gastos com o FIES não mencionou o imenso corte que este programa de financiamento nas universidades foi cortado, o corte de mais de R$ 10 bilhões tanto na pasta da educação como na saúde não existiram. O lema “Pátria Educadora” sumiu, talvez tenha sido apagado junto com a energia elétrica de universidades federais que não conseguem sequer pagar suas contas. O aumento no desemprego, os cortes em direitos de aposentados, pensionistas, no seguro desemprego (“nem que a vaca tussa...”) também não. Só a reivindicação do chamado Plano de Proteção ao Emprego, que corta salários dos trabalhadores.

Todos os “ajustes” jogados nas costas da classe trabalhadora apareceram como algo inevitável, natural, há cortes porque uma imensa parte do orçamento nunca é questionada. A sangria diária de recursos para abastecer os cofres dos detentores da dívida pública, que consome 45% do orçamento federal, não foram obviamente mencionados, mesmo quando milhares de brasileiros estão sofrendo estas consequências, chegando ao cúmulo do funcionalismo gaúcho que está tendo seus salários parcelados para honrar estas “obrigações financeiras”.

Corrupção e Petrobras ausentes, porque será?

Uma notável ausência em todo o programa foi um tema que está na boca do povo: a corrupção. Nem sequer o discurso usado nas eleições, de que os culpados estariam sendo punidos e que mais corrupção estaria vindo à tona porque os governos do PT permitiram isto. A completa omissão neste tema mostra como o governo Dilma e o PT já dão este tema como “perdido” e focaram unicamente em um discurso que mediram que é mais defensável, o da crise econômica.

Porém, mesmo no assunto econômico, o velho carro-chefe do discurso petista, a Petrobrás e o pré-sal também não apareceram, nem sequer em imagens. Evidentemente esta omissão liga-se ao desejo de ocultar o tema “perdido” da corrupção, porém também liga-se a dificuldade que o PT e Dilma estão para defender suas posições inclusive entre os petroleiros. Com anúncio de uma imensa privatização parcial do sistema Petrobrás este não é dos melhores temas para se abordar para sair do “volume morto”.

Não será de esperança e passado que venceremos as crises

A tentativa de Lula e Dilma em mostrar esperança ao governo dela só tinha passado e esperança para vender. De braços cruzados este rolo compressor de medidas contra a classe trabalhadora seguirá em curso. Parados deixaremos políticos e juízes, mancomunados uns com os outros, tratarem da corrupção, caçando um ou outro, mas deixando intactos esquemas, operadores políticos e financeiros as custas de afetar outros. O chamado de Lula e Dilma a esperar não corresponde as necessidades prementes da classe trabalhadora: emprego, renda, saúde, educação, e uma resposta a imensa corrupção. Esta resposta também não virá de mãos da direita mostrada no programa do PT nas figuras de Aécio, Caiado e Paulinho da Força, ou de outros como Cunha e dos jornalões oposicionistas. Esta força só pode vir da classe trabalhadora, por isto é necessário a construção de um pólo da esquerda anti-governista contra a direita e contra o governo, como temos afirmado em diversas matérias deste Esquerda Diário.

Revisado as 16:19 no dia 8 de agosto de 2015




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