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IMIGRAÇÃO | Primeiro ministro David Cameron diz que protegerá Reino Unido da ’praga’ dos imigrantes

O primeiro-ministro David Cameron garantiu nesta quinta-feira que protegerá o Reino Unido da "praga" de imigrantes que quer entrar no país, com o agravamento da crise no porto francês de Calais, onde dezenas de pessoas tentam diariamente atravessar o Eurotúnel para chegar da França à Inglaterra.

André Barbieri São Paulo | @AcierAndy

quinta-feira 30 de julho de 2015 | 20:53

Centenas de imigrantes, sobretudo da África e do Oriente Médio, entraram ontem à noite nas instalações do túnel, o que terminou com cerca de 300 detenções, segundo fontes francesas, enquanto calcula-se que mais de 3,5 mil pessoas tentaram atravessar esta semana.

Em declarações desde o Vietnã, onde realiza uma visita oficial, Cameron advertiu a estes imigrantes ilegais que "não encontrarão refúgio" no Reino Unido, pois o governo britânico tem intenção de deportá-los.

"Isto nos coloca a toda prova, porque tem uma praga de imigrantes que chegam através do Mediterrâneo buscando uma vida melhor, desejando vir ao Reino Unido porque o país tem melhores os trabalhos, uma economia em crescimento, e é um lugar incrível para viver", declarou ao canal "ITV".

Essas declarações racistas ocorrem no dia seguinte à morte de um imigrante sudanês, atropelado por um caminhão quando tentava atravessar o Eurotúnel a pé.

O conflito operário da empresa de trem MyFerryLink no porto de Calais paralisou a travessia regular de muitos caminhões que tomam o Canal da Mancha em direção à ilha britânica, o que possibilita aos imigrantes esconderem-se no seu interior para tentar atravessar o Mar do Norte.

É o método que milhares de imigrantes, em sua maioria africanos, utilizam para chegar ao Reino Unido, escapando da miséria de seus próprios países, assolados coma intervenção estrangeira de governos como o francês e o britânico. Nos últimos dois meses, nove imigrantes morreram no túnel e nos seus arredores, onde foi levantado um acampamento provisório de imigrantes.

Vários deputados conservadores e o líder do eurofóbico e anti-inmigração UKIP, Nigel Farage, pediram ao governo que envie o Exército para resolver os engarrafamentos e atrasos causados pela crise migratória, que afetam o setor do transporte e os britânicos que tentam atravessar à França para curtir férias.
Farage disse, além disso, que apesar de Cameron ter usado uma linguagem agressiva para "parecer duro", duvida que resolva a situação.

O governo francês enviou 120 policiais à zona de Calais para ajudar a empresa gerente do Eurotúnel a deter os imigrantes que tentam chegar à Inglaterra por esse túnel ferroviário abaixo do canal da Mancha.

Paralelamente, o governo britânico investirá 7 milhões de libras (cerca de 10 milhões de euros) em medidas de proteção para caminhões com destino ao Reino Unido e a instalação de uma nova cerca de segurança – a que foi utilizada na cúpula da OTAN de setembro no País de Gales.

A praga das ocupações militares do imperialismo britânico

A propaganda dos “melhores trabalhos e uma economia em crescimento” não condiz com a realidade. A taxa de desemprego no Reino Unido é de 6%, aumentando em 15 mil pessoas o número de desempregados desde maio. Os cortes na saúde e na educação públicas levaram 250 mil pessoas às ruas de Londres neste último dia 20 de junho contra a austeridade do governo Cameron.
Mas além disso, a ida de imigrantes, totalmente marginalizados, perseguidos pelo racismo policial e com os trabalhos mais precários nas periferias de Londres, Manchester e Liverpool, tem a ver com a opressão nacional européia sobre seus países.

Desde 2011, o Reino Unido é o principal aliado norteamericano nos bombardeios na Península Arábica e no Chifre da África, na Etiópia, no Djibuti, na Somália, no Sudão do Sul, na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo. O exército britânico ocupa o Sudão do Sul durante uma guerra civil sangrenta entre o governo local e sete milícias. O governo francês não fica atrás: a França é o país que mais coordenou ataques militares na África nos últimos anos, participando de invasões no Mali, em Níger, na República Centro-Africana, no Chade, na Somália e no Sudão.

Em um mecanismo perverso, as grandes potências exploram o continente africano e geram guerras obrigando milhares a uma vida de miséria e êxodo, enquanto fortalecem a defesa europeia e impedem a entrada dos que fogem da morte, das perseguições e da fome.

Esta “praga” das guerras, invasões e ocupações militares, que destroem as condições de vida da população local a serviço do assalto dos recursos naturais, é “natural” para Cameron, que através da exploração da África e da Ásia constrói a riqueza britânica, “esse país incrível de se viver”.

A chamada crise migratória está no centro dos debates dos países da União Europeia. Milhares de imigrantes morrem por ano nas águas do Mediterrâneo, que se converteu numa verdadeira fossa comum às portas da Europa, devorando os corpos de milhares de homens, mulheres e crianças que fogem desesperados da guerra e da fome “organizada exemplarmente” pelas potências imperialistas na África e na Ásia.

Os movimentos migratórios forçados sempre foram uma constante no capitalismo desde sua origem e hoje estão atravessados pela dinâmica da crise mundial. O movimento em defesa do direito dos imigrantes, para acabar com as leis antimigratórias, com a repressão costeira, os CIEs, a xenofobia e a islamofobia, é imediatamente uma bandeira da classe trabalhadora nativa nos países da Europa e de todo o mundo.




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