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DEBATE SOBRE MARXISMO | Primeiro encontro do Grupo de Estudos Marxistas da UERJ reúne mais de 50 pessoas

Nessa segunda-feira, 10, ocorreu a primeira reunião do Grupo de Estudos Marxistas da UERJ. A grande participação, com mais de 50 pessoas comparecendo, mostrou o grande interesse e o espaço que existe para as ideias marxistas atualmente no Rio. Veja um pouco do que foi discutido e saiba o local, horário e bibliografia do próximo encontro.

terça-feira 11 de julho de 2017 | Edição do dia

A maior parte dos presentes eram estudantes da UERJ, mas também estiveram presentes estudantes secundaristas, servidores públicos, professores da rede pública, assistentes sociais e também um docente da própria UERJ.

A diretora do Centro Acadêmico de Serviço Social (CASS) e militante da Faísca, Isabela Santos, abriu a discussão colocando aos presentes um pouco dos motivos que levaram a convocação para a construção desse grupo. Atualmente a UERJ enfrenta a pior crise de sua história e a responsabilidade direta é do governo de Luiz Fernando Pezão (PMDB), que procura jogar os custos da crise econômica sobre os ombros dos trabalhadores e do povo. A resistência que vem sendo demonstrada pelos servidores e estudantes da UERJ é exemplar, mas sabemos que é impossível vencer apenas com as forças desses setores, pois a crise extrapola em muito os limites da universidade e mesmo do estado do Rio.

Nesse sentido, o grupo de estudos vem para contribuir também nessa luta, pois o marxismo nos fornece ferramentas teóricas para compreendermos a crise da universidade, os mecanismos utilizados pelos governos e patrões para descarregar essa crise sobre nós e a possibilidade de formularmos um programa que responda a altura dos ataques que vem sendo desferidos.

Em seguida, Simone Ishibashi, doutoranda do programa de economia da UFRJ e editora da revista Ideias de Esquerda, abriu a discussão falando sobre a importância da construção de ferramentas teóricas de estudo e difusão do marxismo, da força que possuem essas ideias e como é necessário tomar elas de forma viva para poder compreender a realidade atual. Se Marx utilizou o materialismo dialético para analisar o capitalismo e a necessidade e possibilidade de sua superação, hoje enfrentamos também novos desafios colocados por um sistema que se ampliou e se fortaleceu imensamente, e cuja derrubada é uma tarefa para nossa geração a partir da apropriação dessas ferramentas teóricas.

Ela apresentou alguns dos instrumentos que utilizamos para essa construção, como o canal no YouTube Ideias de Esquerda que traz vídeos discutindo conceitos marxistas e questões políticas contemporâneas de grande importância de modo acessível e popular. E também a revista Ideias de Esquerda, cujo primeiro número está disponível online e o segundo tem lançamento previsto para agosto.

Também Fernando Pardal, doutorando em Letras pela USP e editor do Esquerda Diário, apresentou aos presentes um pouco da perspectiva com a qual os impulsionadores do grupo enxergam o marxismo. Procurou resgatar a história do marxismo como uma forma de compreender o mundo no sentido de transformá-lo, fato que colocou desde o início o marxismo em oposição às correntes filosóficas que se detém na especulação, jamais procurando compreender a realidade para poder intervir nela.

Nesse sentido, foram discutidas brevemente algumas formas como o próprio marxismo foi deturpado ao longo de mais de 150 anos de sua existência, passando desde os primórdios do reformismo alemão, em que Bernstein e seus apoiadores foram responsáveis pela primeira grande deturpação das ideias marxistas, tirando de seu programa e horizonte estratégico a revolução e a derrubada do Estado capitalista, até o stalinismo, que transformou o marxismo em uma série de dogmas estéreis e lhe extraiu seu caráter dialético, tornando-se enfim o coveiro de dezenas de processos revolucionários no século XX.

Também na academia se extirpou o marxismo de sua essência, o que quase sempre é feito a partir de sua fragmentação em diversas disciplinas que escolhem que parte do marxismo é “válida” e qual deve ser jogada fora. Assim, Marx foi destituído de seu patamar de revolucionário ao entrar nos currículos acadêmicos para se tornar um economista, um filósofo, um cientista político, um sociólogo e até um crítico artístico... desde que fosse esquecida a integralidade de sua visão materialista e dialética para a transformação revolucionária da sociedade.

Nesse processo de retirar o marxismo de seus verdadeiros donos, os trabalhadores, também contribuiu enormemente o processo que chamamos de restauração burguesa, que se deu em diferentes aspectos. No aspecto objetivo e econômico, a restauração capitalista em diversos estados onde a propriedade privada fora abolida, como Rússia, China e os países do leste europeu significou um novo respiro para o capitalismo. Paralelamente, no aspecto subjetivo esse retrocesso permitiu a ascensão de um discurso por parte da burguesia que afirmava que havíamos chegado ao “fim da história”, com o comunismo demonstrando sua inviabilidade e seu fracasso definitivo, e o capitalismo “provando” ser o sistema econômico e social definitivo.

Assim, o grupo de estudos se propõe a ser um espaço para retomar o marxismo como uma ferramenta revolucionária de transformação social, colocando a teoria a serviço da luta pela emancipação humana.

O debate sobre o texto seguiu explorando conceitos fundamentais como o de ciência (e como a burguesia procura defender uma suposta “neutralidade” científica), mais-valia, luta de classes, de base e superestrutura entre outros que surgiram a partir do debate sobre o texto de Lenin indicado como base, “As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo”. Também foi discutido o contexto da produção do texto, no período entre as revoluções de 1905 e 1917 e no qual Lenin procura difundir os fundamentos teóricos do marxismo em meio ao processo de retomada e reconstrução do Partido Bolchevique duramente perseguido pela repressão tzarista que se seguiu à derrota da revolução de 1905.

Os participantes demonstraram grande interesse e entusiasmo com a iniciativa do grupo, fazendo da discussão uma troca muito intensa e viva. Por fim se decidiu pela convocação da segunda reunião na semana que vem, segunda-feira, 17, às 18h, na sala 9059 da UERJ. O texto discutido será “O Método da Economia Política”, de Marx. Todos estão convidados a comparecer e fortalecer essa iniciativa.

Leia também: Começa hoje o Grupo de Estudos Marxistas da UERJ




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