Nessa segunda-feira, 12, 70% da frota de ônibus voltou a circular em Natal, após acordo da Seturn e da prefeitura com a Defensoria do estado, firmado no dia 8 de setembro. Uma medida que parecia um alívio para a população que, apesar da pandemia, seguiu trabalhando ou buscando alguma forma de renda e necessitando do serviço, que chegou a reduzir sua frota pela metade.
quarta-feira 16 de setembro de 2020 | Edição do dia
Contudo a Seturn, junto à prefeitura de Natal, impuseram uma série de modificações nas rotas de ônibus que significarão um prejuízo para a maioria da população. A Secretaria de Municipal de Transporte e Transito Urbano (STTU) justificou as medidas alegando que irão diminuir o tempo de espera dos usuários e diminuir custos, na realidade encurtaram trajetos, diminuíram o itinerário e aumentaram os casos em que a população deverá realizar integração para se locomover de um ponto a outro da cidade. Além disso, cedeu um acordo para empresa voltar a rodar apenas 70%, quando o comércio já está 100% aberto.
Algumas das linhas que mais sofreram modificação são as que saem da Zona Norte até a Zona Sul da cidade, como a linha 26, que antes ia até Ponta Negra, agora vai só até o Shopping Midway, com nome N-26, obrigando aqueles que trabalham em Ponta Negra, no Natal Shopping, por exemplo a pegar integração. A mesma coisa aconteceu com a linha 02, também da Zona Norte, que chegava até o Via Direta e agora para no shopping Midway.
Outras foram fusionadas, como a 13 e a 25, diminuindo a cobertura de ônibus em alguns dos pontos que elas passavam. Linhas como o 83 e 54 não mais chegarão até à vila de Ponta Negra, bairro com mais de 14 mil habitantes e que ficarão com apenas três linhas para se deslocar. Linhas como a 44 e 85 foram simplesmente cortadas. Tudo isso significa que a população, sobretudo dos bairros mais afastados do centro, terá menor acesso à cidade.
Esses são apenas alguns dos exemplos do que está acontecendo. Há menos de um mês a Seturn havia declarado que queria aumentar novamente a passagem esse ano alegando prejuízo com a pandemia. Não sendo possível ir adiante com alguma proposta, essa verdadeira máfia planeja, junto ao prefeito Álvaro Dias do PSDB, fazer com que tenhamos que pegar integração e pagar duas passagens para fazer o mesmo trajeto, já que muitas linhas passam de hora em hora, sem contar o horário de pico.
Empresas como a Guanabara, Santa Maria, Trampolim e Jardinense, e outras, demitiram cerca de 1000 trabalhadores rodoviários, sobretudo cobradores, durante a pandemia, jogando a conta nas costas desses trabalhadores e suas famílias, essenciais para o funcionamento da cidade. E mesmo assim, foram agraciadas com isenções de 50% do Imposto Sobre Serviços (ISS), e do Imposto Sobre Consumo e Serviços (ICMS) por parte da prefeitura e do governo estadual de Fátima Bezerra (PT). Desde 2013 que a prefeitura anuncia que irá fazer nova licitação de ônibus, mas essas mesmas empresas seguem com o monopólio, lucrando em cima de um direito básico da população a se deslocar pela cidade e sugando recursos da cidade.
São verdadeiras máfias que chantageiam com o custo de vida da população, que vem amargando já com o aumento do preço dos alimentos no mesmo momento em que o auxílio emergencial está sendo cortado pela metade por parte do governo Bolsonaro, numa cidade que 53% dos que tem idade para trabalhar está desempregada, segundo dados do IBGE.
Todas as linhas suspensas, fusionadas e de itinerário reduzido precisam voltar imediatamente, e todos os trabalhadores demitidos durante a pandemia devem ser recontratados. Além disso, a Seturn alega prejuízo durante a pandemia, mas não abre o livro de contas da empresa e os contratos com a prefeitura. É necessário exigir pela mobilização que essas contas estejam abertas a toda população.
Veja a declaração da estudante e militante do MRT, Marie R. sobre o ataque à SETURN sobre a população:
Os rodoviários e a população devem decidir sobre o funcionamento dos transportes de Natal!
Natal foi palco da Revolta do Busão que incendiou todo o país em 2013, com manifestações massivas que questionavam o aumento das passagens do transporte público e cada aspecto de precariedade da vida que a crise econômica começava a proporcionar. Às custas de muita repressão, essa revolta foi desviada com a criação de um Conselho Municipal de Transporte e Mobilidade, que mantem a decisão dos transportes nas mãos dessas máfias. Não atoa hoje a situação é cada vez pior, com as mesmas lata-velhas circulando e passagens subindo a cada ano.
Hoje, os rodoviários de Porto Alegre - RS estão acampando em frente ao sindicato para exigir que convoque uma forte mobilização contra o corte de linhas, as demissões da categoria e do delegado sindical, Digão, uma demissão política por parte da empresa. São exemplo, assim como os trabalhadores dos Correios que se enfrentam com os planos privatizantes de Bolsonaro, Guedes, e do General Floriano Peixoto, que recebem salários de R$ 40 mil enquanto chamam os direitos trabalhistas dos ecetistas de “privilégios”.
As centrais sindicais, como a CUT que dirige o sindicato de rodoviários, e entidades estudantis precisam fazer de tudo para que em cada local de trabalho e estudo se organize uma forte luta em defesa do direito a transporte para a imensa maioria da população que nunca teve direito à quarentena. Recuperando as linhas perdidas, e obrigando as Seturn a abrir suas contas, abrindo caminho para que reivindiquemos a estatização dos transportes sob controle dos trabalhadores e usuários, que são os únicos que realmente tem interesse garantir as necessidades da população. Todos aqueles candidatos que se reivindicam parte da esquerda precisam defender isso nessas eleições e convidamos todos a tomarem a levantem essas bandeiras junto com o Esquerda Diário.