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29 DE AGOSTO | Porque as mulheres negras devem ir ao Encontro de Mulheres e LGBT do Pão e Rosas

Odete AssisMestranda em Literatura Brasileira na UFMG

quinta-feira 27 de agosto de 2015 | 02:42

Nesse final de semana acontecerá o Encontro de Mulheres e LGBT do Pão e Rosas. Diante de tantos ataques vindos de todos os partidos da ordem, como PT, PSDB, PMDB entre outros, esse encontro pretende ser o primeiro passo para que os setores oprimidos possam levantar-se contra toda forma de opressão e exploração que nos afeta cotidianamente construindo nas ruas um forte movimento pra lutar por nossos direitos. O encontro contará com a presença da fundadora do Pão e Rosas na Argentina, Andrea D’Atri e da candidata a vice-presidente da Argentina, Miryan Bregman, pela Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (FIT). Além disso, estarão presentes no encontro mulheres e LGBT, estudantes e trabalhadoras de diversas categorias como professoras, trabalhadoras da USP, metroviárias, bancárias, entre outras.

Nós mulheres negras além de sofrermos com o machismo também sofremos com o racismo. Em um país como o Brasil, onde o mito de uma suposta igualdade entre as raças tenta mascarar o racismo estrutural de nossa sociedade, é fundamental construir uma alternativa de luta.

Os ataques implementados desde o inicio do ano nos afetam diretamente. Os cortes e ajustes de Dilma, as MPs e PLs, a regulamentação da terceirização e a recente Agenda Brasil é um ataque ao conjunto da classe trabalhadora, sobretudo aos setores mais oprimidos e explorados, como nós. Pela aliança com setores conservadores e reacionários Dilma mantém a criminalização do aborto, deixando com que milhares de mulheres morram todos os anos, e sabemos que no Brasil as mortes por aborto clandestino tem raça e classe. Assim como permanece as tropas brasileiras no Haiti, estuprando essas mulheres, mantendo a dominação e exploração desse país a serviço da ONU e do imperialismo. A violência policial assassina nosso povo todos os dias e agora querem prender nossos jovens, reduzido a maioridade penal, como propõe a direita conservadora ou aumentando as penas do ECA, como Dilma articula com Serra.

Somos nós mulheres negras que ocupamos os piores postos de trabalhos, somos a maioria entre as trabalhadores precárias,as terceirizadas, as empregadas domésticas mal remuneradas. A terceirização tem rosto de mulher negra e a luta pela efetivação de todas essas trabalhadoras com iguais salários e direitos é parte da luta para que nós tenhamos melhores condições de vida. Sofremos com dupla jornada de trabalho, além de sermos exploradas pelo sistema para garantir o lucro do patrão, também precisamos lidar com os desafios de administrar uma casa, cuidar dos filhos, já que falta creche e acesso a educação, lidar com a falta d’água ou luz, com toda a precarização da vida que afeta os moradores das periferias.

Nas universidades, quando conseguimos furar o filtro social do vestibular, muitas vezes não conseguimos permanecer devido à falta de políticas de permanência estudantil ou temos que nos dividir entre trabalho e faculdade para conseguir levar até o final a graduação. Enfrentando o elitismo e o racismo estrutural, expresso no fato de que a maioria de nós só entra na sala de aula pra limpar o chão, como trabalhadoras terceirizadas, ou na falta de matérias que abordem a história de nosso povo, nossa arte, nossa cultura e resistência.

Temos nossos corpos objetificados e hiperssexualizados, somos vistas como as mulatas do carnaval, as escravas sexuais a serviço dos desejos dos senhores. Mas ainda sim resistimos. Assim como Dandara, Luiza Mahin e tantas outras antepassadas guerreiras, o espírito de luta está presente em nossas vidas, seja pra lidar com as péssimas condições das moradias, com a falta de água ou luz, com as dificuldades para conseguir estudar, trabalhar e educar os filhos ou simplesmente para não sermos vistas como meros objetos sexuais a serviço de realizar os desejos dos patrões.

Por tudo isso nós mulheres negras devemos participar do Encontro de Mulheres do Pão e Rosas, por entender que nossa luta contra o racismo e o machismo é também uma luta contra esse sistema baseado na opressão e exploração. Construir um forte movimento para lutar contra todos os ataques de Dilma e da direita conservadora, contra o PL 4330 pela efetivação de todos os terceirizados, lutar pelo direito ao aborto legal, seguro e gratuito, pelo nossa livre construção de gênero e sexualidade, contra o racismo estrutural escancarado pela violência policial, demonstrando toda nossa solidariedade as nossas irmãs haitianas exigindo a retiradas das tropas brasileiras daquele país.

Nós mulheres negras devemos ir ao encontro como um primeiro passo para nos libertar das correntes da escravidão que ainda permanecem, devemos ir ao encontro para organizar toda a luta e resistência diária em uma força coletiva contra os patrões, os governos e os grandes capitalistas. Deixando bem claro que Dandara vive, Dandara viverá e nós mulheres negras não vamos parar de lutar até acabar com toda exploração e opressão desse sistema.




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