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JUVENTUDE | Por que os universitários devem se juntar à luta contra o fechamento das escolas?

Isabel Inês São Paulo

sexta-feira 23 de outubro de 2015 | 00:00

Completando um mês do pronunciamento do secretário da educação do Estado de São Paulo, Herman Voorwald, sobre a reorganização escolar, a série de atos dos estudantes secundaristas contra o fechamento das escolas segue aumentando semanalmente. Esses atos têm características que trazem a possibilidade de se transformarem em um grande enfrentamento com os cortes do governo. A principal delas é a combinação entre uma juventude que subjetivamente não carrega nenhuma expectativa no governo Lulo Petista, com a baixa influência que as burocracias estudantis têm de direção sobre essa juventude.

Esses dois elementos somados ao espírito próprio da juventude, enérgica e vívida pela conquista do futuro, são pontos de apoio fundamentais para explodir uma grande luta em defesa da educação, e dão aos atos traços de Junho de 2013, por serem mais espontâneos e sem uma direção consolidada, além do grande apoio popular. Se em germe os atos possuem pontos de apoio do que foi Junho, dois anos depois não podem esbarrar nos mesmos limites. Assim, há que se desenvolverem dois pontos fundamentais, um que seria organizar e unificar os atos e ações dos secundaristas em assembleias e reuniões por escolas, e outro ganhar apoio popular e unificar a luta por educação com os professores e estudantes universitários.

Onde esta o movimento estudantil universitário?

Ainda que muito se discuta nas universidades, sobre os ataques à educação desde o começo do ano, com os cortes do governo Dilma, e agora especificamente em São Paulo, com o fechamento das escolas proposto pelo PSDB, essa politização ainda não se transformou em força material massiva dos universitários nos atos, assembleias e nas lutas em defesa da educação.

Essa contradição, que pode levar ao ceticismo de alguns, tem na realidade suas bases na política. Com a crise econômica e o desemprego, as universidades públicas são ainda vistas como uma possibilidade de ascensão social, em particular nas universidades estaduais paulistas, que são polos de excelência de produção tecnológica e ideológica, em si, essa realidade já exerce uma pressão conservadora aos estudantes, no sentido de subconscientemente “conservar os privilégios” conquistados.

Somado ao fato de que o espírito de Junho não conseguiu abalar a estrutura universitária durante as grandes marchas em 2013, mantendo encasteladas as burocracias universitárias mais reacionárias, que não só garantem seus privilégios em base a super salários pagos com dinheiro público, como são cúmplices de estupradores na faculdade de medicina na USP, demitem terceirizadas na Unicamp, isso somado a um papel ideológico de formadores de opinião publica, e de uma intelectualidade ligada aos governos, como o professor Marcio Pochmann na Unicamp ou Andre Singer na USP.

Essa base material é terreno fértil para as correntes governistas disputarem politicamente os estudantes, não a toa as universidades paulistas, USP, UNESP e Unicamp foram polos eleitorais do petismo, com seu discurso de “menos pior” frente a direita. Assim, enquanto o movimento operário e a juventude precária das escolas públicas estão sentindo na pele os cortes, a inflação, o desemprego e vendo seu futuro comprometido, acelerando o processo de rompimento com o PT e com o regime, os estudantes das universidades públicas vivem um destempo do rompimento com o governismo petista no cenário nacional e assim um atraso para saírem em luta. Existe ainda uma subjetividade de “esperança no futuro por dentro do capitalismo, e uma esperança que a crise será passageira e logo tudo se normaliza”.

Isso pode explicar o baixo ativismo, no conservadorismo da pressão acadêmica e da crise, contudo também ai esta a chave da grande disputa política no movimento estudantil, pois ao contrario de uma passividade alienada, a relativa passividade que vemos hoje é fruto de muita politização, terreno fértil para emergir um movimento qualitativamente superior a junho.

Assim, unificar com os secundaristas pode ser uma faísca para reaquecer o combate nas universidades, não só o simples fato político de se solidarizar com uma luta justa e democrática que é o direito ao estudo dos jovens, já deveria ativar as direções estudantis para organizar os estudantes e unificar as lutas, mas também porque lutar contra o fechamento das escolas é defender a categoria de professores e também próprio futuros de estudantes que hoje são universitários. Ou seja, é defender os próprios empregos.

Também fortalecer uma luta contra o governo do PSDB, que há anos vem atacando a educação, demitiu cerca de 20 mil professores desde o inicio do ano, colocando todas as forças para conquistar uma vitória contra o governo pode mudar a correlação política do mesmo, impedindo novos ataques. Unificar secundaristas com universitários a partir da defesa da educação, que é uma pauta de toda a sociedade, pode a partir dessa luta indicar um ponto de apoio para os trabalhadores e jovens de uma terceira via política contra o governo do PT, e contra a direita, uma saída para crise defendendo os direitos dos trabalhadores e da população.

Por ultimo, essa aliança pode ser uma força poderosa, unificando as experiências políticas do movimento estudantil universitário, com a força explosiva e de rompimento com o governo do movimento secundarista. Essa força deve ter como objetivo e só pode emergir se colocar-se claramente contra o governo e as burocracias estudantis.

Com a luta dos secundaristas, a UMES, dirigida pela UJS, vem tentando aparecer como cabeça do movimento, numa tentativa desesperada de conte-lo.

Assim, as entidades governistas como CUT, CTB, UNE, mostram mais uma vez que na necessidade de conter as lutas estudantis, cumprem o papel de manter a estabilidade do PSDB no estado de São Paulo. Ou seja, o falso discurso de luta contra a direita que o petismo faz, serve unicamente para manter a estabilidade de todo o regime para que os se passe os cortes sem luta.

Esse objetivo político tem também a recente lançada “frente sem medo” que congrega as centrais sindicais governistas, CUT e CTB, a burocracia estudantil da UNE e também o MTST e o PSOL. Essa frente, como já elaboramos em outros artigos, faz uma política auxiliar ao PT e é contrária a auto organização da juventude e dos trabalhadores em combate ao governo.

O PSOL, que dirige DCEs importantes, como o da USP, na medida em que segue nessa política auxiliar do governo, ainda que esteja se organizando blocos nos atos de secundaristas, é incapaz de organizar uma grande solidariedade e aliança da juventude universitária da USP, para fazer com que essa batalha contra o fechamento das escolas triunfe, isso porque a política determina a ação, então seguem o rotineirismo na Universidade adaptados, e não cumprem um papel de força politizadora contra o petismo.

Essas entidades desligadas dos estudantes e com uma política adaptada ao regime universitário são incapazes de responder a situação política nacional. É urgente que o movimento estudantil universitário se coloque junto aos estudantes secundaristas e que retomem suas entidades das mãos dos governistas, assim como a esquerda rompa com a velha forma rotineira de dirigir. A juventude anseia pelo próprio futuro, que mais uma vez se mostra impossível dentro do capitalismo.




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