No dia 21 de janeiro, temos um marco na luta ao respeito da diversidade religiosa. De 2015 a 2017, registrou-se um ato de intolerância religiosa a cada 15 horas, em sua ampla maioria contra o Candomblé e a Umbanda. Em 1999, o terreiro da Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, na figura da Mãe Gilda de Ogum, sofreu um ataque de intolerância religiosa de fanáticos ligados à Igreja Universal do Reino de Deus. Gilda não superou os traumas do ocorrido e morreu de ataque cardíaco.
sexta-feira 21 de janeiro de 2022 | Edição do dia
Em outubro de 1999, a lurd publica no Jornal Folha Universal uma fotografia de Mãe Gilda, com suas vestes ancestrais, e disposto aos seus pés uma oferenda aos orixás. A foto ilustrava uma reportagem sobre charlatanismo, intitulada de: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. No texto, afirmavam que crescia no Brasil um “mercado de enganação”. A foto de Mãe foi impressa com tarjas pretas nos olhos.
Na época, a Folha Universal tinha uma tiragem de mais de 1 milhão de unidades, um número considerável. A reportagem repercutiu na Lagoa do Abaeté, bairro de Itapuã em Salvador, local onde Gilda fundou o terreiro de Iyalorixá Gildásia dos Santos e Santos, deixando até integrantes do terreiro confusos com a aparição da Mãe num folhetim da Universal. A partir disso a comunidade do terreiro fica fragilizada e ocorrem ataques físicos à casa de Gilda e ao seu companheiro, bem como a destruição de objetos “sagrados” expostos na casa. Com a saúde fragilizada, Mãe Gilda não suportou os ataques, sua condição piorou e ela veio a óbito em 21/01/2000.
A filha de Gilda levou a Universal à justiça, ganhando uma reparação financeira, que foi contestada em 2º e 3º instância, tornando a luta de Mãe Gilda pública e conhecida por todo país. Devemos para ir além das táticas institucionais utilizadas pela filha de Mãe Gilda, que levaram a avanços, porém falharam ao se ligar ao aspecto político que é a luta contra a mistura entre e a religião e o estado, como se vê na recente nomeação de um Ministro "terrivelmente evangélico", André Mendonça, é parte da mesma batalha pela liberdade religiosa às religiões marcadas pela cultura negra, sistematicamente perseguidas pelo racismo do estado brasileiro, um dos pilares do capitalismo.