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CULTURA | Poesia Slam e as novas formas de poetar

Poesia Slam, no momento que se forma a roda, invoca-se o ideograma da luta. A inovação do ideograma, não é assessoria nesse texto, mas parte-se da reflexão das novas formas de poetar que surgem, refletindo as formas anteriores.

segunda-feira 13 de março de 2017 | Edição do dia

O movimento da poesia concreta trouxe que a poesia não é só rítmica, mas uma relação espaço-temporal, inspirada no ideograma, aonde a palavra ocupa um lugar na folha.

Os movimentos estéticos posteriores seguiram com a ideia, e conservando com superação as noções de estímulo-resposta e a arte de museu ou galeria. A arte se tornou a inflição do Pathos(Sensação) das ruas.

A cidade se transformou em arte, em um pedaço de papel, pois a cidade nos causa sensações, por nos causar sensações é um objeto de apreciação estética, não somente do belo, como do banal, mas as sensações em sua generalidade. Para além de um palpite, o grafite é o limite do poetar urbano industrial, mas se complementa com o poetar da era da informática.

A Poesia Slam é uma poetar que se faz e realiza em uma polissemia espacial, se de um lado é uma poesia da urbanização consolidada(do pixo, do grafite, do hip-hop). Também é a poesia da era da informática, aonde a poesia é declamada e em segundos, talvez ao vivo, presente nos espaços virtuais como Facebook, Instagram e outras redes sociais. É a poesia em vídeo, como Paulo Leminski, traçou como a tendência futura.

Se a poesia toma novos caminhos, diferente da poesia concreta que passou a habitar os departamentos dos cursos de letras da USP. Expressa outras tendências como a poesia marginal de torquato neto, leminski e etc. Que com seu conteúdo critica nunca habitará as gôndolas das livrarias da Cultura ou da Travessa e se propaga na voz do boca a boca, nas vielas e nas redes sociais das grandes cidades. Pela concretude da experiência impregnadas nas palavras o Slam vem ganhando a juventude.

Diferente da poesia concreta que via a materialidade das palavras nas próprias palavras, a materialidade das palavras da poesia Slam reside na própria experiência dos autores. O autor capta as forças sociais que o impelem e o geram, sua experiência se traduz em palavras. Também é uma poesia com lugar de fala. Minimalismo poético aonde os adornos da forma e da sonoridade são opcionais, aonde a cênica, o sujeito, sua experiência e a vontade são o central da poesia. Pode não rimar, mas é para impactar. Pode não ter métrica, mas a meta é causar.

Para impactar é importante falar dos problemas, partindo do viver e da luta. O poetar aqui passa longe da tradição realista socialista da arte, aonde ocorria a tipificação de personagem que expõem uma realidade dual de forma simplista. O clichê passa longe daqui. O poetar é da contradição, é um poetar que rompe a barreira da arte para massas com o conteúdo de vanguarda política. O povo não é burro, o artista elabora uma forma sintética e objetiva que expõem a contradição. A diferença desse poetar é seus traços programáticos e de vanguarda política, aonde se fala de policia, racismo, machismo, repressão, democracia, golpe, morte violência, da opressão doméstica e etc. Ao mesmo tempo que fala da burguesia, fala como o racismo e o machismo divide a classe. Foi a poesia das escolas ocupadas. Uma poesia de lutas. É o lugar onde a Romana, “Eles não usam Black Tie”, poderia estar.

A poesia que une o corpo a uma cidade e a cidade a uma historia. Fala-se de da cultura subjetiva que apaga dos livros a força dos povos, como negros e indígenas, como também das mulheres. Escarneia os monumentos aos bandeirantes e aos políticos.

A poesia em tempos de indústria cultural, personagens do universo pop e da juventude aparecem, pois estes personagens vivem no universo simbólico desses jovens. Empresta-se até ritmos, o importante é passar a mensagem. Cita-se Naturo sem problema e se um dia falar de Mallarmé, sem problema. Referência é referência no caso.

A poesia é da ruas e do espaço público, o rap do moderno sobre a luz amarelada do poste tem sua voz acompanhada pelo fluxo dos carros. É uma poesia de/em BATALHA aonde as palavras apenas servem para unir e fortalecer os gladiadores. Poesía democrática que todos tem apenas 3 minutos para declamar, o júri é popular e não acadêmico.

Uma poesia que rompe com o belo e com a metafísica. Não se faz ode às musas e aos anjos. Aqui se fala se fala verdade, fala-se que a igreja escravizou e os portugueses viciaram os povos no álcool e em seus ídolos. O deus romano é negado e os orixás são elementos de resistência. Expressa uma juventude cansada de falar línguas latinas e prontas para aprender o Iorubá.

Uma poesia mais do que concreta, uma poesia mais do que marginal, uma poesia mais do que minimalista. Uma poesia da realidade, uma poesia das causas e efeitos.


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cultura    Poesia    Cultura



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