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GREVE DE MINEIROS NO PERU | Peru: trabalhadores mineiros entram em seu terceiro dia de greve por tempo indeterminado

sexta-feira 22 de maio de 2015 | 00:00

Cerca de 250.000 trabalhadores trabalham no setor, dominado por um punhado de multinacionais norte-americanas, canadenses, europeias e asiáticas.
Se a grande expansão mineira da última década baseou-se na entrada do capital imperialista e por outro lado na exploração das muito duras condições de trabalho de uma grande massa de mão-de-obra originária de comunidades indígenas e povos do interior, também implicou uma enorme degradação ambiental, contaminando águas, terras de cultivo e pastagens e agredindo a terra e o território dos povos originários por toda geografia peruana.

Portanto, em torno da mineração se estenderam duas grandes frentes de conflito social: a dos trabalhadores, com suas lutas por salário e condições de trabalho, contra a exploração dos empresários, e a dos residentes das zonas mineiras, contra a invasão das empresas em suas terras e a degradação ambiental.

Uma greve de grande importância

A medida foi convocada pela Federação do setor, após o fracasso de suas tentativas em negociar com o governo, frente o ataque aos trabalhadores que implica a decisão deste, em conivência com as empresas, de flexibilizar demissões coletivas, cortar direitos trabalhistas e rechaçar aumentos salariais.

A “lei de terceirização” ameaça diretamente a situação de muitos operários do setor. “Dos 210 mil mineiros que existem no país, 70% são terceirizados; são mais de 147 mil prejudicados”, denunciou Ricardo Juárez, secretário-geral da Federação, colocando como exemplo a empresa Marsa, terceira produtora de ouro do país, onde “são 4.500 contratados e nenhum está registrado”.
O plano é descarregar a crise do setor sobre os trabalhadores, depois de anos de altíssimos lucros empresariais às custas da exploração operária e a depredação ambiental, agora que os preços internacionais dos minerais estão em baixa.

Mas os trabalhadores mineiros estão mostrando sua disposição a resistir a este ataque. A medida se iniciou de forma desigual mas estendida. Em algumas grandes empresas a patronal conseguiu evitar ou limitar os alcances da paralisação. Não se somaram à medida os sindicatos da Southern (que promove o projeto Tía María, que causou resistência), a Yanacocha (que já vem demitindo muitos contratados de sua fábrica), entre outras.

Uma das razões é, segundo denúncia de dirigentes, que em locais como “Em Cerro Lindo (Ica) tem 460 trabalhadores registrados e 2.300 contratados. Por isso quando realizamos uma greve, a empresa Milpo não se vê afetada, por que se os contratados acatam a greve de imediato são demitidos”, o que mostraria os efeitos negativos da divisão entre efetivos e terceirizados que a patronal manipula, e contra a qual as direções sindicais não parecem ter uma estratégia adequada.

A imprensa e o governo buscam diminuir o impacto da medida e em alguns casos, a informação é ainda contraditória, como ocorre com Antamina (a maior produtora de cobre do país controlada por BHP Billiton Ltd y Glencore Xstrata), onde apesar de se esperar a paralisação, segundo o dirigente Hernán Robles tinha-se finalmente decidido não interromper os trabalhos.

Em muitas outras empresas, a paralisação começou com força apesar das manobras das empresas, a atitude de maus dirigentes ou inclusive a repressão policial, como ocorreu em Atacocha (Cerro de Pasco).

Segundo porta-vozes da Federação, acatam a medida até 80% de seus filiados em 10 das 25 regiões do país, desde importantes empresas no norte, passando pelo centro do país (onde a luta se estende pelos distritos mineiros de Oyón, Huarón, Arcata, San Cristobal) até o sul (onde entre outras para San Rafael, Minsur (onde a paralisação seria parcial)) e outras. A principal produtora de ferro do Peru, Shougang, de capital chinês, está em greve e centenas de seus trabalhadores, com a solidariedade de moradores da região, fechavam a rota para Marcona (Nazca). Somente a intervenção policial conseguiu reabrir o trânsito.

Grupos de mineiros e de suas esposas, provenientes das mineradoras próximas a Lima, se deslocavam à cidade para protestar. Grupos de trabalhadores de Shougang, Catalina Huanca, Uchucchacua, Morococha, Huanzalá, San Cristóbal, Condestable, Aceros Arequipa, etc. marcharam pelas principais avenidas da capital, liderados pela direção da Federação. Os sindicatos de Celima, Relima, Alicorp, Eternit, Comiccsa, Miyasato, e outras fábricas assim como as federações têxteis e da construção civil, entre outras, se solidarizaram e participaram da marcha.

Em outras cidades do interior, organizou-se manifestações similares e em alguns locais, a greve mineira convergia com protestos de outras categorias, como no norte, com os operários açucareiros em luta dos engenhos de Tumán e Pomalca.

Em um contexto nacional de desprestígio e debilitamento do governo de Ollanta Humala e de numerosos protestos operários e populares (como as mobilizações da juventude que derrotaram a chamada Lei Pulpín, a luta popular contra o projeto Tía María (se prepara uma grande jornada de luta para os dias 27 e 28 de maio)), conflitos operários como na construção, açúcar ou têxteis, e preparações de conflito no magistério, a greve mineira, com suas debilidades, se coloca como um grande feito nacional e é uma grande oportunidade de enfrentar a tentativa patronal e governamental de descarregar a crise nas costas dos trabalhadores.

Se a força da greve se apoia na posição estratégica deste setor, com suas grandes instalações de capital imperialista e suas concentrações operárias de milhares, seu potencial se multiplicaria se se fortalecesse a unidade entre contratados e efetivos, mediante a organização em comum e levantando as demandas da maioria mais explorada e excluída da sindicalização (os contratados) para quebrar as manobras divisionistas das empresas, algo que a direção da federação não parece ter construído desde as bases, com uma política à altura da batalha iniciada.

É necessário que as organizações de base tomem em suas mãos as tarefas da luta, e está aberta a possibilidade de que convirjam a solidariedade popular e as lutas de outros setores operários e camponeses com a greve mineira, fortalecendo-a nesta grande disputa de forças.

A CGTP não pode limitar-se a declarações e aos anúncios de uma paralisação nacional para o dia 9 de julho. É agora quando tem que mobilizar e unir em torno à greve mineira a luta de toda a classe operária com medidas concretas de mobilização, como seria uma paralisação nacional.

Um problema programático de importância estratégica que a própria greve põe sobre a mesa é buscar e consolidar a unidade entre os trabalhadores mineiros, com sua luta por salário, emprego e contra a precarização do trabalho, com as lutas camponesas e populares contra a devastação ambiental e o avanço das empresas mineiras e petroleiras sobre as terras e o território das comunidades. Porque o inimigo é o mesmo: o capital estrangeiro e seus sócios locais, que submetem o Peru aos ditames do imperialismo, lucram com a exploração e a miséria operária e popular, e roubam os recursos naturais. Pois agora, os trabalhadores do Peru, com os mineiros na linha de frente, estão dizendo “Presente!” na cena, como vem ocorrendo com os trabalhadores do Brasil e de todo Cone Sul neste momento em que se começa a discutir quem e como se pagará os custos do “resfriamento” econômico.




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