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MUJICA NO RIO | Pepe Mujica lota a Concha Acústica da UERJ no Rio de Janeiro

Nesta quinta-feira passada 27 de Agosto, o Rio de Janeiro e em especial a juventude tiveram a oportunidade de se reunir com o ex-presidente de Uruguai, Pepe Mujica. Mais de 6mil jovens reuniram-se na concha acustica da UERJ.

Juan ChiriocaRIO DE JANEIRO

sexta-feira 28 de agosto de 2015 | 02:47

Figura dissonante dentro do mundo da política mais tradicional e até dentro do setor mais progressista, o ex presidente do Uruguai visita o Rio de Janeiro num cenário particular da política nacional criando uma grande expectativa. Por um lado o desgaste da classe política e casos de corrupção envolvendo importantes figuras dos principais partidos políticos principalmente do PT, e por outro a atual discussão adiada no STF trás uma bela manobra política do Ministro Fachin sobre a descriminalização das drogas.

A concha acústica começou desde cedo receber milhares de jovens que congregaram-se na UERJ, horas antes do evento que estava marcado para começar às 18h. Superada a capacidade, a concha abarrotada, os mais atrasados observaram desde as varandas e os estacionamento mais próximo assistindo por um telão. As palavras de ordem da Redução e de Legalização do Aborto escutaram-se em mais de uma ocasião. Não é de estranhar, considerando que Pepe Mujica é uma referencia internacional no referente às questões democráticas, especificamente a da legalização das drogas. Pepe afirmou que a legalização e a liberdade é essencial para vencer o tráfico nas cidades pois o tráfico "mata mais do que as drogas". No Brasil, o panorama da votação da descriminalização das drogas está longe de acabar e as previsões de retomada do debate no STF estão lá por Setembro.

A figura do Mujica chega no Rio reivindicado pelos setores governistas como o PT e seus aliados no Rio. A cena é meio confusa e contraditória. O ex- presidente do Uruguai é também um representante dos governos pós-neoliberais da América Latina, da mesma forma que os governos do PT de Lula e Dilma. Na verdade, caminhos diferentes para retóricas e promessas bastante parecidas. Mas a trilha até a liberdade via direitos democráticos parece bastante mais confusa, cheia de desvios, retornos e becos sem saída no caso do Partido dos Trabalhadores. Ou melhor, o governo rifou por anos os direitos das mulheres e LGBT, até a cartilha anti homofobia, em aliança com setores conservadores no parlamento, os mesmo agora que na prática estão alinhados e fazem parte da onda conservadora. Difícil ver assim qualquer semelhança do Pepe Mujica com um partido (PT) que leva a frente projetos como a reforma política que ataca a democracia e os partidos de esquerda brasileiros. O mesmo partido que defendeu em "oposição" à redução da maioridade penal um projeto de aumento das penas projeto que acabará funcionando muito bem na engrenagem do próprio projeto de lei da redução da maioridade, cerceando ainda mais o direito ao futuro da juventude principalmente da juventude pobre e negra das grandes cidades brasileiras.

A experiência do político uruguaio na presidência desse país é no mínimo diferente. Pregando a humildade de viver nas condições materiais próximas da maioria da população e dirigir o fusquinha azul, o uruguaio é reivindicado pelas questões democráticas pelo PT que até pouco tempo era aliado do nefasto Eduardo Cunha (e lembremos que quem rompeu foi o próprio cunha) que representa na prática o caminho oposto do trilhado pelo Mujica. Contraditório e oportunista os setores do governo no movimento estudantil aproveitaram a visita do uruguaio para se apropriar de um discurso progressista que não lhe cabe, e que na pratica a realidade mostra que não são as liberdades democráticas o horizonte do PT.

Com um discurso progressista, mas convenientemente distante das conjunturas políticas do Brasil e dos debates estratégicos da esquerda internacional, Pepe Mujica reivindicou a amplamente o "caminho da igualdade" da necessidade de mudança e do desenvolvimento "sem sofrimento" mas sem chegar a ser decididamente anticapitalista. O discurso de Pepe reforçou uma e outra vez a questão da igualdade, da solidariedade e das responsabilidades. "A unidade como espécie humana, e da unidade dos povos". Unidade latino-americana dos povos mas sem questionar às burguesias de cada nação latino-americana. O chamado a "pensar como espécie, não só como país" esqueceu-se de que antes é preciso pensar como classe.

Para além dos limites do discurso de unidade dos povos e sem uma discussão estratégica, e apesar do nobre horizonte que o Mujica coloca para as lutas da humanidade em geral, e da juventude em particular, os avanços em direitos democráticos tem sido utilizados nos governos pós neoliberais da América latina como elementos "passivizadores" que garantiram a continuidade do processo de restauração burguesa na região.

Porem no próprio Mujica, o "velho que continua jovem", as palavras de igualdade, de unidade e de solidariedade proferidas pelo ex-presidente uruguaio no encontro de ontem fazem eco na atualidade da juventude. O Pepe Mujica conclui emotivamente que foi até a UERJ para "acender a militância dentro de vocês". Discurso que expressa uma vontade da juventude defender e debater sobre as questões dos direitos e das liberdades democráticas. Questões que historicamente tem sido adiadas pelos governos pós neoliberais do PT, renasce com força nas setores da juventude que gritaram na concha acústica pela não à redução da maioridade penal, pela descriminalização das drogas e pelo direito ao aborto.




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