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OPINIÃO | Para onde vai o Brasil nessa crise?

Ao calor dos fatos é difícil, porém necessário levantar hipóteses. A entrada em cena dos trabalhadores bagunçou todo cenário político e motivou novas políticas de diferentes atores políticos. Para onde vai o país? O que pode ter motivado uma mudança de posições da Lava Jato, da mídia e de diferentes atores políticos?

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 18 de maio de 2017 | Edição do dia

Alterado às 15:45

Temer está ferido de morte. A população já o detestava por sua reforma da previdência e trabalhista. Se sustentava pela via dos empresários, da mídia e do Congresso. Diversos partidos preparam o desambarque, desde os pequenos PPS e PSB até a espinha dorsal de seu governo, o PSDB. O Jornal Valor afirma que empresários do mercado financeiro querem a saída de Temer. São poucas as chances dele permanecer no cargo. A frágil estabilidade foi chacoalhada com a entrada em cena da classe trabalhadora no dia 28 de abril e isso acelerou ações mais caóticas de outros atores da política nacional, especialmente da Lava Jato e seu "partido judiciário".

Esse foi o principal motivo para essa imensa crise logo no dia seguinte que a mídia comemorava um suposto fim da recessão e o governo anunciava uma suposta maioria para a reforma da Previdência. Hoje convergiram contra Temer interesses contraditórios: da Lava Jato e de um relativamente independente "partido judiciário", dos novos críticos da FIESP a seu governo, com hesitações a mídia também parece desembarcar do governo, e principalmente das massas.

O que pode acontecer? Para onde vai o Brasil?

Temer renunciará nos próximos minutos? Todos dão por certo que seu governo terminou. O debate que atravessa o Congresso e as redações de cada jornal e telejornal é o que colocar no lugar. Se não renunciar pode ser derrubado pelo TSE ou iriamos a um longo impeachment? Se o TSE anulasse a chapa Temer a interpretação constitucional seria favorável a diretas? A especulação na mídia é de provável renuncia. E o debate que se impõe é se triunfaria uma resposta constitucional de eleições indiretas, feitas pelo Congresso ou se novas eleições seriam pactuadas.

Eleições indiretas, mantida a letra constituicional de hoje, limitariam qualquer membro de governo executivo ou do judicário de concorrer. Excluiriam Doria, Alckmin, Meirelles, Carmen Lucia, qualquer ministro do STF ou de Temer. Além de pouco "vendável" às massas não oferecem um lugar fácil para que alas da elite se ofereçam em candidaturas, restando para competir com Lula, Jobim, FHC, Joaquim Barbosa, Marina, Ciro ou figuras que se postulam mais como outsiders. As diretas autorizam todos nomes a entrarem. Ambas as hipóteses estão em disputa. Em comum partem de um acordo de tirar o protagonismo dos trabalhadores da situação, e colocar em conchavos da toga ou do parlamento os rumos do país e conduzir novas eleições com essas regras podres para tentar reabilitar o regime e retomar o caminho das reformas também feridas de morte.

Ao calor dos fatos é difícil, porém necessário levantar hipóteses sobre como a entrada em cena dos trabalhadores bagunçou todo cenário político e motivou novas políticas de diferentes atores políticos que respondem a essa ação, ou aproveitam o "caos" para promover sua agenda própria.

1) O temor da reação dos trabalhadores que já paralisaram o país na greve geral de 28 de Abril e que fruto de sua politização e disposição de luta poderiam fazer que os deputados não se arriscassem a votar a favor da reforma, desestabilizando ainda mais o país. O anúncio por Meirelles de que teriam os votos para aprovar a reforma da Previdência parece não ter sido comprada por Fachin e outros atores. Explodir a crise pela denúncia de um bilionário corrupto à soltas em Nova Iorque e não pela ação dos trabalhadores permite tentar uma saída menos “perigosa” para a crise pois tenta expropriar dos trabalhadores ã sensação que derrotaram os ataques e isso permite avançar. O preço dessa ação é uma perigosa espiral recessiva que pode acometer o país novamente. As ações desabaram hoje, o dólar disparou.

2) A crise seria uma tentativa da Lava Jato, seus apoiadores no Supremo como Fachin, de impor um novo governo com legitimidade para continuar os ataques nem que seja somente daqui a alguns meses, fazendo "terra arrasada" do regime político e arriscando o que for para perseguir seu objetivo. Os procuradores "messiânicos", junto a juizes e ministros do STF crescentemente se portam como um "partido político" com interesses próprios sem responder necessaria e diretamente a alas da burguesia nacional e internacional. Porém, sua ação leva ao favorecimento do imperialismo, derretendo mais as "campeãs nacionais". Hoje foi noticiado que o acordo da JBS com o MPF passou por um acordo com o Department of Justice para delação nos EUA e transferência da sede da JBS para os EUA. A campeã nacional está virando MADE IN USA.

3) Cresceram as críticas de setores industriais a Temer, lhe retirando uma base de sustentação. A JBS foi obrigada a deletar para salvar sua pele, mas isso aconteceu dois dias depois do vice-presidente da FIESP criticar Temer publicamente. Os “patos” saíram do silêncio para defender seus interesses.

Antes da gigante JBS, junto a Fachin e a Lava Jato promoverem esse terremoto um poderosíssimo empresário Benjamin Steinbruck, vice-presidente da FIESP e conhecido nos anos 90 como o “barão do aço” quando era presidente da CSN escrevia na Folha se apoiando em artigo de outro importante industrial, o presidente da ABIMAQ, da indústria de máquinas, dizia que o governo Temer embora “tenha um comportamento corajoso para impor as reformas de que o país precisa, tem um “cunho ideológico” liberal e “não olha para a indústria com a devida atenção”. Esse “cunho ideológico” na verdade, é um desastre para o país”.

Na crise uma disputa pelo pós-Temer

Está em disputa não só como se buscará formar um novo governo, com eleições diretas ou indiretas, mas também que forças tomam as ruas e disputam o ódio a Temer. Grupos de direita como MBL, Vem Pra Rua, marcaram atos no mesmo dia que a esquerda já chamava a ir as ruas. A disputa também se dará aí.

Nos jogos dos "de cima" costuras tanto pelas indiretas como pelas diretas visam diminuir a oposição dos trabalhadores a esse podre regime e seus ajustes, começados no governo do PT. Milhões olham para as manobras dos de cima e tentam ver como opinar na política.

É possível com a ação da classe trabalhadora garantir a derrubada de Temer mas também impor um questionamento muito maior a esse regime de ataques e corrupção. A classe trabalhadora pode organizar comitês em cada local de trabalho organizando milhares para uma urgente greve geral para impor uma nova Constituinte.

Das mãos de um questionamento do Steinbruck e da FIESP das decisões autoritárias do judiciário nem de algum acordo teremos uma resposta que nos interessa.

Para onde vai o Brasil não depende somente do quiser a Globo, a FIESP, o Congresso, o judiciário. Depende dos trabalhadores também. Por isso é urgente ir às ruas e exigir das centrais sindicais uma urgente greve geral até a derrubada de Temer e de todas reformas e desenvolver uma política independente para que aproveitemos essa crise para fazer que sejam os capitalistas e não nós quem pague pela crise.




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