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LAVA JATO | Para onde vai a lava jato?

Prisão de Delcídio do Amaral e delação de Cerveró podem agravar a crise política. As denúncias poderiam comprometer até Dilma e o PSDB.

terça-feira 1º de dezembro de 2015 | 00:07

A prisão de Delcídio do Amaral caiu como uma bomba sobre o Senado. Sem vacilar, Renan Calheiros saiu em defesa do seu colega. Sustentou até o final a defesa de que fosse secreta a votação em que os senadores aceitaram ou não acatar a prisão de Delcídio. O PT rapidamente soltou uma nota se distanciando do senador preso. A oposição votou pela sua prisão, mas sem entusiasmo.

Acontece que Delcídio do Amaral não é do núcleo petista, pelo contrário, aderiu de última hora, pulando fora do barco tucano que estava afundando pelos anos de 2001. Já mostramos aqui a trajetória de Delcídio e seu longo currículo de ataques aos trabalhadores. O que queremos ressaltar agora são as implicâncias que sua prisão pode ter.

Ex-ministro de Minas e Energia nos últimos meses do governo Itamar Franco, durante o governo FHC foi diretor de gás e energia da Petrobras. Os esquemas de corrupção que envolvem também Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa foram montados neste momento, ainda sob governo FHC. O caso de compra de turbinas super faturadas da Alstom, denunciado por Paulo Roberto Costa, foi uma das medidas que vieram na esteira do apagão elétrico durante o governo de Fernando Henrique, sob o pretexto de “gastos emergenciais”.

Já durante o governo Lula, como senador petista, Delcídio do Amaral apadrinhou Nestor Cerveró para a diretoria internacional da Petrobras e o esquema anterior que montou quando atuava junto dos tucanos, ganhou novas dimensões. É muito difícil imaginar que Delcídio do Amaral caia sem levar ninguém com ele. Ele tem certamente muito a dizer sobre a corrupção na Petrobras desde a implantação do plano real e poderia começar a comprometer figuras mais importantes também do PSDB.

A cartada de Nestor Cerveró

Cerveró fez um movimento duplo, com a revelação da gravação, feita pelo seu filho, de conversa com Delcídio do Amaral e seu advogado, Edson Ribeiro. Sequer o advogado tinha conhecimento de que a conversa estava sendo gravada.

Além de oferecer a organização de uma fuga do país para Nestor Cerveró, na conversa Delcídio do Amaral compromete várias figuras importantes do regime político, não só do congresso, como Renan Calheiros, mas também do STF, como Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Dias Toffoli. Essa gravação em si, prisão de Delcídio e os possíveis desdobramentos, já foram uma grande uma movimentação, tanto de Nestor Cerveró e seu filho, Bernardo. Mas ainda virá sua delação.

Segundo os jornais já estão adiantando, e a própria gravação de Delcidio mostrava que ele e o banqueiro André Esteves já tinham tido acesso aos documentos, Nestor Cerveró implicará Dilma Rousseff na sua delação premiada. Afirmara que Dilma sabia de tudo sobre a compra da refinaria de Pasadena e que chegou a fazer diversas reuniões com ele. Num só movimento, Cerveró está implicando figuras que podem levar a trama até o PSDB, e promete atirar em cheio contra Dilma.

Esses novos desdobramentos da operação, e toda essa movimentação de Cerveró, fortalecem a tese de que atuam no tabuleiro político forças poderosas, para além das que dominam o regime político brasileiro, que não estão sob controle nem do PT, nem do PSDB. Ambos estão ameaçados pelos novos desdobramentos da investigação.

Já na ação do juiz Luiz Sergio Moro, pelo fato de sua esposa trabalhar em um escritório de advocacia que presta serviços para a Shell, pode existir algum indício de que as petroleiras norte-americanas estão promovendo sua ação. Além disso, parte da própria ação norte americana denuncia contra a operação de Pasadena. O que é certo, é que há muitos interesses em jogo, e que as petroleiras norte americanas estão muito interessadas em acelerar o processo de privatização da Petrobras e todo esse escândalo vem a calhar.

Todo o regime político está comprometido

Ninguém duvida mais de que a rede de corrupção atinge todos os partidos do regime, governo e oposição. O debate acaba se dando em quando a corrupção se tornou um canal de financiamento do partido no poder. Os antipetistas defendem que isso foi uma inovação petista, que até FHC a roubalheira era na base do cada um por si, e que foi o PT que organizou tudo em torno de um projeto. Os petistas se defendem, simplesmente apontando, corretamente, que sempre foi assim, que eles não inventaram nada. Disso tudo, onde sobra alguma legitimidade?

Esta crise profunda de legitimidade dos principais partidos do sistema político em algum momento vai começar a dar lugar a novos processos políticos. Pela direita, tem surgido novos grupos que se colocam como apartidários e, a depender da conjuntura política tem mais ou menos destaque, mas que mantêm uma grande atividade da internet. Pela esquerda, os movimentos de resistência como a luta dos secundaristas, ainda não levaram ao surgimento novas alternativas políticas.

O programa da direita já conhecemos, mais ataques aos direitos dos trabalhadores, da juventude e das mulheres e mais subordinação aos Estados Unidos. Mas o que uma nova esquerda poderia levantar para responder a crise política e oferecer uma alternativa?

A única via é defender, contra todos os partidos envolvidos nos esquemas de corrupção e nos ataques as condições de vida dos trabalhadores, contra toda a casta política que controla o congresso a justiça e as estatais e que governa a serviço dos ricos e das multinacionais, que seja o povo, que sejam os trabalhadores e a juventude que reorganizem o país.

Por isso colocamos a luta por uma assembleia constituinte, imposta pela mobilização popular, como uma prioridade. Contra Dilma e a oposição de direita, o congresso corrupto e o judiciário comprometido com interesses empresariais e políticos, queremos lutar por uma assembleia onde a maioria da população esteja representada e possa discutir e debater livremente sobre o seu destino. Sabemos que essa perspectiva não pode ser viável por fora de uma grande mobilização popular contra toda a casta política que governa o país, seja com FHC seja com o PT.




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