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LETRAS USP | Outra Margem: Por um Caell proporcional e aliado aos trabalhadores

Publicamos aqui, a carta programa da chapa Outra Margem, composta por militantes da juventude Faísca - Anticapitalista e Revolucionário, do grupo de mulheres Pão e rosas e independentes, para o Centro Acadêmico da Letras USP (CAELL)

sexta-feira 17 de novembro de 2017 | Edição do dia

Por que precisamos do Caell?

Para que sejam resolvidas as questões que ameaçam nosso curso, os problemas que afligem a universidade e todo o país é preciso que construamos um forte movimento estudantil que seja capaz de responder a altura dos ataques. Nosso Centro Acadêmico precisa estar a serviço de organizar cada estudante para ser sujeito político, desde os problemas cotidianos da nossa graduação, até em questões sobre os grandes temas da política nacional e internacional que direta ou indiretamente impactam nossa vida cotidiana. Queremos um Caell que retome o espírito subversivo do movimento estudantil, fomentando o debate através de atividades e a auto-organização

a partir de nossos métodos históricos de organização, como as assembleias e
espaços de democracia de base, sem nenhuma ilusão na reitoria e nos governantes da ordem. Um Caell que busque construir junto com os coletivos, como o coletivo de mulheres Marias Baderna, o coletivo negro Claudia Silva Ferreira e o Coletivo de Diversidade Sexual e de Gênero, espaços de discussão e de debates dos estudantes. Precisamos de um Caell que estimule os estudantes a nadar contra a correnteza que hoje não está a nosso favor, com a profunda convicção de que a história é dinâmica e que, com a força da juventude aliada aos trabalhadores, é possível mudar esse cenário e chegar à outra margem.

E o curso de letras, como fica?

Nosso curso de Letras é o maior da América Latina e por não ser voltado aos interesses mercadológicos e formar prioritariamente professores é um dos cursos mais precarizados da Universidade. Como se não bastasse estudarmos em um prédio provisório por mais de 30 anos, faltam professores e funcionários para garantir o funcionamento adequado das habilitações e departamentos. As impressoras na pró-aluno vivem dando problema e às vezes nos deparamos com absurdos como aulas impedidas por goteiras e até mesmo buracos que se abrem nas salas. Depois de passar pelo vestibular, temos que encarar um segundo filtro: o ranqueamento, que todos os anos impede dezenas de jovens de seguir sua graduação na habilitação desejada por falta de professores. A falta de contratação chegou ao extremo que além da ameaça constante de fechamento de alguns cursos, agora algumas habilitações como o inglês tiveram que diminuir o número de vagas disponíveis.

Por permanência e contratação já!

Em tempos de Escola sem Partido, qual currículo nós queremos e qual universidade defendemos?

Enquanto em todo o país a direita busca avançar podando o pensamento crítico através do Escola sem Partido, na universidade tivemos que nos organizar contra uma medida autoritária do Conselho Estadual de Educação (escolhido pelo Geraldo Alckmin) que buscava alterar os currículos das licenciaturas sem nenhuma discussão, retirando importantes conteúdos dos cursos. Os estudantes da Faculdade de Educação, impulsionados pelo seu centro acadêmico, conseguiram barrar esse ataque. Nós ainda podemos barrar essa medida na Letras e para isso não podemos fazer como a atual gestão do Caell – a chapa Viramundo (PT, Levante e independentes) –, que chegou a defender em assembleia que essa reforma, que retira as palavras “crítico” e “científico” do texto da deliberação, poderia ser boa. Pelo contrário, precisamos nos organizar para impor um debate sobre qual currículo queremos, discutindo, por exemplo, porque existe uma lei nacional obrigando o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, mas literaturas africanas e indígenas são totalmente secundarizadas em nossa grade curricular. Ou o porquê de só podermos cursar poucos créditos fora da Letras, quando um ensino multidisciplinar pode ser muito mais enriquecedor. Estimular o debate sobre os problemas pelos quais nosso curso passa, sobre permanência estudantil, sobre qual currículo queremos e como mobilizar os estudantes para isso deve estar na linha de frente das propostas do Caell em 2018.

Todo apoio às greves na medicina e na enfermagem, em defesa do Hospital Universitário!

A USP e a luta pela educação pós-golpe

O que acontece na Letras é reflexo do desmonte e precarização que a reitoria vem implementando. E tende a se agravar com o andamento da chamada PEC do fim da USP, que prevê o congelamento do orçamento pelos próximos 5 anos, projeto totalmente vinculado ao do golpista Temer para educação pública, escancarado pela crise das universidades federais. A implementação da PEC 55, que prevê um teto nos gastos do orçamento em saúde e educação pelos próximos 20 anos, só vem para agravar esse cenário, deixando evidente que Temer aprofundou os cortes que o PT já vinha implementando. Afirmam que a universidade passa por uma crise, enquanto nada é falado sobre os privilégios dos membros de Conselho Universitário, alguns membros da FIESP e Fecomércio ou mesmo donos de empresas tercei-rizadas que atuam dentro da USP e vendem a universidade para si mesmos. Por isso é urgente mais verbas na educação e abrir o livro de contas da universidade, só assim saberemos onde realmente está a crise. Defendemos um DCE que se coloque contra a existência dessa estrutura de poder totalmente antidemocrática, pois ela só serve aos empresários e não aos interesses daqueles que realmente constroem a universidade. Para isso, lutamos pelo fim da reitoria e do conselho universitário e defendemos uma Estatuinte Livre Democrática e Soberana, que rompa com o estatuto escrito em plena ditadura militar e coloque de forma proporcional os rumos da universidade nas mãos dos estudantes, trabalhadores e professores.

Um grito de resistência ecoa do Sul do Brasil e da Catalunha na Espanha

A direita golpista sentiu-se fortalecida para não só defender a privatização da educação como também a implementação de projetos reacionários como o Escola sem Partido, a Cura Gay, e agora a Pec 181, um grande retrocesso que visa impedir o direito ao aborto até em casos de estupro e risco de vida para as mulheres. A partir de agora estão valendo as leis da reacionária reforma trabalhista e o governo golpista estuda como avançar ainda mais para destruir nossos direitos e nosso futuro. Para enfrentar esses ataques não podemos "perdoar" os golpistas como propõe Lula, alimentando a ilusão em um projeto de conciliação. Também não podemos combater esse projeto petista fortalecendo a Lava-Jato impulsionada pela justiça burguesa, que, longe de estar a nosso favor, é elitista e racista, sendo responsável pelo encarceramento em massa da popu-lação negra.

É preciso uma saída independente. As greves dos professores do Rio Grande do Sul são um exemplo de lutas massivas contra os pacotes de privatização e congelamento de salários do PMDB e PSDB, partidos que contam com o apoio das direções sindicais petistas imersas no imobilismo. Precisamos cercar de solidariedade esse processo de luta, para que possam vencer e ser a ponta de lança de um processo nacional de luta contra os ataques, que passa por exigir das centrais sindicais que organizem efetivamente, com assembleias e reuniões nos locais de trabalho, uma nova paralisação com todas as categorias. No plano internacional temos na Europa o exemplo do povo catalão, que há anos esteve subjugado pelo Estado Espanhol e agora se levanta pelo seu direito à autodeterminação. Toda solidariedade aos trabalhadores e ao povo catalão. Liberdades aos presos políticos!

Por um Congresso de Estudantes da Letras

Para que possamos ter um espaço de auto-organização dos estudantes, onde seja possível debater desde as demandas mais sentidas no dia a dia do nosso curso, até a luta contra os ataques da reitoria, Dória, Alckmin, Temer e companhia, defendemos a necessidade de realizar um Congresso de Estudantes da Letras. Articulado juntamente com os professores e funcionários do nosso curso, com atividades preparatórias capazes de envolver os estudantes nos principais debates, possibilitando assim que nós, enquanto estudantes de letras possamos ser sujeitos na discussão sobre os problemas do nosso curso, do nosso currículo e a luta dentro e fora da universidade.

Portal do CAELL

Para podermos ter mais interatividade e participação entre os estudantes do nosso curso e a gestão do Caell, propomos a criação de um portal em que possamos publicar informações e todos os textos e vídeos dos estudantes da Letras, que sirva para a organização dos estudantes, com conteúdos perpassem desde as discussões em sala de aula até as grandes questões nacionais.

Proporcionalidade

A letras tem mais de cinco mil alunos e achamos que é insuficiente que uma única gestão possa representar o conjunto dos estudantes. Por isso defendemos a proporcionalidade, como um primeiro passo para a democratização do CAELL, com todas as chapas na gestão de acordo com a votação que receberam. Assim suas propostas seriam discutidas e testadas por meio do debate cotidiano entre as diferentes posições existentes e não apenas na semana da eleição. E para que o CA possa ser um verdadeiro instrumento dos estudantes precisaremos muito mais que as chapas concorrentes, mas que todos os alunos tomem para si a entidade.

Letras além das margens

Como parte de buscar fazer com que cada estudante possa ser sujeito de pensar sua graduação e como o conhecimento adquirido na universidade pode estar a serviço dos trabalhadores e da população pobre, propomos que o Caell articule um projeto de extensão que permita com que os estudantes possam desenvolver projetos com a comunidade universitária e a população da região, que contem também como horas extras. Esse projeto poderia se dar em diferentes níveis, por meio de cursos sobre literatura ou línguas para trabalhadores, com atividades que busquem trazer os estudantes das escolas públicas para dentro da universidade, ou até mesmo com a realização de uma semana de arte e literatura, onde cada um de nós possa expressar nossos gostos e paixões e permitir uma rica troca de experiências, que muitas vezes é cerceada dentro da universidade. Tudo isso é parte de fazer com que o Caell fomente as mais diversas iniciativas que permitam com que nós, estudantes de letras, possamos ser sujeitos ativos na política, nos aliando aos trabalhadores da faculdade, para lutarmos lado a lado pela efetivação imediata de todos os terceirizados sem necessidade de concurso e por contratação já, e também junto à comunidade externa lutar pela ampliação das cotas rumo ao fim desse filtro social e racial que é o vestibular que deixa milhões de jovens de fora da universidade.

Festas e atividades culturais

O reitor Zago, além de punir aqueles que lutam na universidade, proibiu as festas e aumentou a presença da polícia dentro da USP. Exigimos a retirada dessa polícia assassina do campus e o fim de todos os processos e sindicâncias contra aqueles que se organizam em defesa da universidade. Queremos uma universidade aberta aos trabalhadores e a juventude, com festas, saraus, festivais de música e arte.

Vote e apoie Outra Margem para o CAELL 2018


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Caell    USP    Juventude



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