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Denúncia | “Os terceirizados não são contemplados nos regulamentos da UFF” denuncia aluno da moradia em repúdio ao assédio sofrido por trabalhadoras

Duas trabalhadoras terceirizadas da Moradia Estudantil estão lutando contra o assédio praticado por um estudante da UFF. Os estudantes e moradores da Moradia Estudantil estão buscando apoiar as trabalhadoras que estão tendo que trabalhar na presença de seu agressor desde Abril, que foi quando a Reitoria tomou conhecimento das denúncias. O DCE não vem colocando suas forças à disposição da luta das trabalhadoras, ignorando este conflito que está em andamento. O relato abaixo é fruto de mais denúncias feitas ao Esquerda Diário por estudantes da UFF que moram na Moradia Estudantil.

Faísca - UFF@faiscajuventude

terça-feira 12 de outubro de 2021 | Edição do dia

Duas trabalhadoras terceirizadas da Moradia Estudantil (ME) foram assediadas e estão lutando por justiça. Os estudantes estão se mobilizando para apoiar a batalha das terceirizadas pelo afastamento do violentador da Moradia Estudantil, onde as trabalhadoras estão tendo que, mesmo com o processo em andamento, trabalhar diariamente na presença de seu agressor. O relato abaixo é fruto de uma nova denúncia feita ao Esquerda Diário por um estudante da UFF que mora na Moradia Estudantil.

“As trabalhadoras que foram assediadas relataram que não foram as primeiras assediadas, e quando entraram na Universidade perceberam que existia uma cultura de assediar as terceirizadas. Elas disseram que tiveram que desconstruir a imagem de que elas não estavam lá pra prestar trabalho sexual, que elas eram trabalhadoras da limpeza. [...] O que mostra como a terceirização é encarada dentro da UFF. São trabalhadoras que são vistas como inferiores, elas falaram que foi difícil mas tiveram que lutar para apagar essa imagem que tinham das terceirizadas.”

O caso ocorrido é a expressão de dois fenômenos muito sentidos pelas trabalhadoras das universidades: por um lado o machismo por parte de alguns estudantes e servidores que as enxergam como presas, por outro a terceirização dos postos de trabalho que para as trabalhadoras significa a instabilidade e a precarização do trabalho. Nesse sentido, as trabalhadoras terceirizadas já travavam uma luta anterior a este caso, a luta contra o machismo e o assédio na UFF.

As trabalhadoras que foram assediadas relataram que não foram as primeiras assediadas, e quando entraram na Universidade perceberam que existia uma cultura de assediar as terceirizadas.

Confira: “Queremos justiça!” diz aluno da moradia da UFF em repúdio ao assédio sofrido por trabalhadoras terceirizadas

“Sobre a questão delas “não serem servidoras”, que foi o que o coordenador usou como argumento, o regulamento também fala que pode ser afastada a pessoa que oferecer risco à integridade física, moral e material de visitantes e moradores. De qualquer forma, o regulamento prevê o afastamento desse morador e a coordenação fez essa escolha de fazer uma interpretação que favorece ele, pondo em risco contínuo não só as trabalhadoras que foram na audiência, como uma série de outras trabalhadoras terceirizadas da Portaria e da Moradia Estudantil da UFF que também foram assediadas pelo mesmo morador. Não eram só elas que estavam em risco, todas as moradoras, houveram moradoras assediadas aqui.

Os terceirizados não são contemplados nos regulamentos da UFF por “não serem servidores”, isso tem que ser revisto pra ontem, é um absurdo isso. Os terceirizados já correm o risco de ser mandados embora, recebem menos, são totalmente massacrados e ainda não tem nenhum tipo de regulamento que os protege dentro da UFF. Este não é um caso isolado.

Ele sempre assedia as terceirizadas porque ele se vê respaldado por esse tipo de interpretação que as trabalhadoras terceirizadas não têm ligação com a UFF, portanto, o regulamento da moradia não protege essas trabalhadoras, que é a mesma interpretação que a coordenação da Moradia tem.”

A terceirização para os trabalhadores leva a perda de direitos trabalhistas e a ausência de legislações que protejam os terceirizados de casos como esse. O próprio assediador que teve mais vítimas além das duas trabalhadoras precarizadas que levaram a denúncia a frente, escolhia as trabalhadoras terceirizadas justamente por ter dimensão da falta de estabilidade e direitos que esses cargos possuem. Além de receberem menos, trabalharem mais, estarem mais expostos ao risco de demissão, os trabalhadores sequer estão envolvidos nos regulamentos que regem as relações da UFF.

No entanto, mesmo dentro do campo jurídico, a decisão de manter o acusado morando na ME durante a sindicância foi uma escolha consciente por parte dos órgãos da Reitoria e da Coordenação da Moradia Estudantil. Isso porque o regimento da ME prevê o afastamento de moradores que ponham em risco a integridade física e moral de estudantes e visitantes. Ainda que seja absurdo que o regimento não possa deliberar em conflitos na relação entre terceirizados e estudantes, se houvesse o mínimo de bom senso o agressor poderia ser afastado, justamente pela prerrogativa da integridade física de “visitantes” (no caso trabalhadoras terceirizadas que são as responsáveis por manter a Moradia Estudantil em funcionamento) em risco. Além do fato, de como as próprias estudantes denunciaram, os assédios não eram praticados só com as terceirizadas, mas também com as moradoras da ME.

Ele sempre assedia as terceirizadas porque ele se vê respaldado por esse tipo de interpretação que as trabalhadoras terceirizadas não têm ligação com a UFF, portanto, o regulamento da moradia não protege essas trabalhadoras, que é a mesma interpretação que a coordenação da Moradia tem.

Veja: Estudantes prestam apoio às trabalhadoras terceirizadas assediadas na UFF

““As duas voltaram a trabalhar com ele aqui, inclusive ele debochou durante a audiência, e quando chegou aqui, já de volta à ME, gargalhou em frente à alguns dos moradores e moradoras que haviam se mobilizado indo à Reitoria no dia da audiência Ele está satisfeito com o que está sendo feito pela sindicância, o que mostra que a indignação dos estudantes com a postura da Reitoria não é uma forçação de barra, o próprio assediador está satisfeito porque está se sentindo protegido por toda essa estrutura.

Independentemente dele ser afastado, essa sindicância já foi um fracasso, foi uma coisa repugnante. Mesmo depois do resultado, temos que manter a mobilização para que a UFF mude seus procedimentos. Esse tipo de procedimento que desestimula as vítimas a falarem, elas sabem que vão demorar meses para ser resolvido, então ficam sujeitas à represálias porque continuam a trabalhar na presença de seus agressores. Nesses casos é preciso um outro procedimento, não pode ser um procedimento que se estenda por meses e meses pra começar a ser investigado enquanto a vítima continua a conviver na presença do agressor, a luta para que a UFF mude o procedimento é uma luta contínua.”

Pode te interessar: Cadê o DCE para defender as trabalhadoras terceirizadas vítimas de assédio na UFF?

O agressor além de se sentir respaldado pela instabilidade e falta de direitos desses postos para assediar justamente terceirizadas, vêm ridicularizando os moradores e as trabalhadoras por estar se sentindo protegido pela própria sindicância levada a frente pela Reitoria.

Independentemente dele ser afastado, essa sindicância já foi um fracasso, foi uma coisa repugnante. Mesmo depois do resultado, temos que manter a mobilização para que a UFF mude seus procedimentos. Esse tipo de procedimento que desestimula as vítimas a falarem, elas sabem que vão demorar meses para ser resolvido, então ficam sujeitas à represálias porque continuam a trabalhar na presença de seus agressores.

Uma sindicância que coloca as vítimas para falarem na presença de seus agressores, têm uma comissão sem equidade de gênero (todos os da comissão que avaliarão o caso são homens), além de permitir o contato cotidiano entre assediador e vítimas durante o horário de trabalho na Moradia Estudantil, independente do resultado não pode ser usada como exemplo para a luta contra o machismo e o assédio dentro da universidade. O procedimento levado a frente pela Reitoria só coloca travas para que mais trabalhadoras possam denunciar casos semelhantes. Este tipo de procedimento que se alonga por meses, onde as trabalhadoras continuam convivendo com seu agressor, pode ser extremamente traumático para as trabalhadoras que querem denunciar, e estimular que casos como esses não tenham suas denúncias levadas à frente.

Caso essa sindicância não surta efeito, e não devemos confiar que sim, fazemos um chamado para todas as correntes do movimento estudantil se engajarem em uma campanha democrática ampla de toda a comunidade universitária para que as vozes das trabalhadoras terceirizadas sejam ouvidas. Afinal, essa é a mesma reitoria que demitiu terceirizados durante a pandemia se orgulhando de ter cortado gastos, além de ser a reitoria que não presta nenhum apoio a Vanessa Rodrigues, a estudante da UFF que foi vítima de estupro por parte de um professor da própria Universidade, sem contar o fato de, como dito acima, deixar terceirizadas trabalhando por mais de 6 meses na presença de seu violentador sem tomar nenhum tipo de providência. Essa batalha deve ser parte da luta pelo fim da terceirização, pela efetivação dos trabalhadores terceirizados sem necessidade de prestar concurso. Igual trabalho, igual salário.

Quer denunciar algum ocorrido na Moradia Estudantil da UFF? Mande seu relato com anonimato garantido para +55 11 97750-9596




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