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GREVE PETROBRÁS | Greve dos petroleiros pode vencer se supera o freio da CUT defensora de Dilma

Vivendo diariamente com a precarização do trabalho, arrocho salarial da inflação e recusa da empresa em recompor o nível salarial, convivendo com dezenas de milhares de demissões de terceirizados, sob ameaça de desmantelamento e entrega ao imperialismo da maior empresa do país, a Petrobras, os petroleiros estão começando a cruzar os braços em todo o país.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

segunda-feira 2 de novembro de 2015 | 13:24

A greve nacional dos petroleiros está ganhando força. Em algumas unidades ela já completa 5 dias. Em outras começou ontem, em algumas outras ainda está para iniciar.

A greve pode colocar um fim as perdas salariais que os petroleiros já estão sofrendo com a inflação e recusa da empresa em recompor o salário de acordo com a mesma, pode barrar a perda de direitos que a Petrobras quer impor (como redução do valor das horas extras e um projeto de redução de salários aos administrativos) bem como pode se enfrentar com as demissões de milhares de demissões de terceirizados, garantir passos para que estes milhares de trabalhadores tenham acordos coletivos e direitos iguais ao petroleiros. E junto a tudo isto a greve precisa se enfrentar com os projetos de privatização do petróleo e da Petrobras, que tem contornos diferentes nas mãos de PSDB, PMDB e PT, mas estão todos de mãos dadas planejando a entrega dos recursos para as empresas imperialistas.

Para os petroleiros vencerem é preciso, em primeiro lugar, ter clareza dos inimigos que enfrentam.

Dilma e o PT são também agentes da privatização da Petrobras e de fazer os petroleiros pagarem a conta da Lava-Jato

A Petrobras está sob ataque para que empresas imperialistas entrem no promissor mercado do petróleo e derivados do país. Este ataque tem muitos focos. Tem os projetos para tirar a exclusividade da Petrobras no pré-sal como propueseram Serra e Aloysio Nunes do PSDB, mudar a lei da partilha de volta para concessão como quer o PMDB, inclusive com o lobby do governador do Rio de Janeiro Pezão. Mas além disto, tem também um ataque que já está acontencedo: fatiar, destruir e privatizar a Petrobras. Este ataque é realizado por Dilma e o PT.

A Petrobras traçou um agressivo plano de “desinvestimento” de 57 bilhões de dólares, o que equivale a aproximadamente um terço de todos seus ativos. Um terço da maior empresa do país será vendida nos próximos anos. Não foi o FMI que fez este plano. Não foi Serra, não foi Aécio. Foi Dilma. E Lula nunca veio a público defender a empresa que ele sempre usou em suas campanhas, então seguramente avaliza o decidido por ela. Evidentemente os reis do privatismo e entrega ao imperialismo como FHC e todo o PMDB não tem nenhuma ressalva aos planos do PT só querem além disto mudar a lei do pré-sal.

Para derrotarmos um e outro plano de privatização os petroleiros precisam saber que sua força reside não em algum “aliado no executivo” mas em sua organização pela base e nos sindicatos que venham, e precisam se somar a luta dos petroleiros contra a privatização.

Não é um mero desinvestimento, é privatização e já começou

O ataque privatista levado à frente pelo PT e aplaudida pelo restante dos partidos do regime já consumou a divisão de uma subsidiária e sua venda. Trata-se de privatização não de “desinvestimento” como fala a empresa e os sindicalistas da FUP e da CUT.

A GASPETRO, subsidiária da Petrobras que era detentora dos gasodutos do país e de participações em inúmeras empresas de gás, foi dividida em duas empresas. Um dos gasodutos, outra das participações. A das participações foi vendida em 49% para a Mitsui, gigante japonesa que é uma das principais acionistas da Vale, que por sua vez tinha seu presidente como presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Com esta venda que ainda não foi autorizada pela ANP a Mitsui será dona de praticamente todas as empresas de gás do país, pois ela já detinha o monopólio em 8 estados e a Petrobras, via Gaspetro, por suas vez tem participações majoritárias em outras 17.

Para completar a venda de um terço da Petrobras, os gasodutos deverão ser vendidos, a Transpetro de logística também, a área de biocombustíveis também gerando fome para milhares de pequenos agricultores que dependiam da venda de mamona e outras matérias primas para a Petrobras, as fábricas de fertilizantes, as termelétricas, e até mesmo refinarias e plataformas estão no plano.

Nenhum petroleiro pode pensar que está a salvo. Não é na casa do vizinho o problema, e em toda a empresa e vai mudar profundamente a relação do Estado brasileiro com suas riquezas naturais, ao contrário de garantir mais recursos para a educação, saúde, como tanto alardearam o PT e sua apoiadora UNE, o que está se desenhando é o oposto, nos recursos enriquecerem a Shell, a Exxon...

Não é só privatização, Dilma e o PT estão jogando as contas do ajuste e petrolão nos trabalhadores

Já ocorreram dezenas de milhares de demissões de terceirizados. Os estaleiros demitiram cerca de 15mil pessoas. As obras do COMPERJ deixaram a cidade Itaboraí arrasada, e milhares na rua. As obras também foram diminuídas na Refinaria Abreu e Lima (RNEST) em Suape, Pernambuco. Em cada unidade operacional e administrativa os contratos de terceirizados estão sendo enxugados. E
Outro lado do ajuste na Petrobras passa pelos direitos e salários dos petroleiros próprios. Com cerca de 10% de inflação acumulada, segundo os índices oficiais, a empresa propõe sequer repor este índice, chegando somente a 8%. E a FUP não propõe sequer discutir isto. Ou seja, que sigamos com 10% a menos de renda.

Fora isto a empresa já alterou o pagamento das horas-extras nos feriados, afetando o que os petroleiros em turno esperavam receber. A Petrobras sob mando de um banqueiro colocado por Dilma também propõe alterar o pagamento de todas horas-extras diminuindo seu valor, bem como cortar em 20% os salários dos petroleiros administrativos que aderirem a uma redução da jornada para 6hs. Este acordo desfavorável ainda aproveita e rasga a CLT ao propor que isto seja uma decisão individual, o que é vedado pela CLT.

Este ajuste petista não está na pauta para a FUP. Está somente o desinvestimento, este eufemismo para privatização.

Naturalmente, muitos petroleiros querem se mobilizar em defesa da Petrobras mas também de seus salários. Mas a FUP não quer isto. Quer salvar o governo de ser criticado e derrotado por fazer petroleiros pagarem em seus salários a roubalheira que o PT fez na empresa junto ao PMDB, PP, PSDB e os empreiteiros.

Ao não tratar da perda de direitos, perda nos salários a FUP na verdade contribui para que a direção da empresa leve adiante as medidas de ajustes administrativos (cortes de salários e direitos) e um efetivo “congelamento salarial” com a enorme perda de renda diante da inflação crescente. De fato, significa fazer os petroleiros pagarem o custo do ajuste na empresa. Se os petroleiros forem obrigados a aceitar esses cortes – a FUP nada faz de efetivo para garantir que lutassemos contra. E neste silêncio imaginemos o que ocorrerá com os terceirizados, se cortam dos crachás verdes o que os diretores da empresa preparam para as outras cores de cracha? Obviamente seus salários e direitos serão ainda mais reduzidos e retirados.

Podemos derrotar o ajuste só com a greve dos petroleiros? A FUP e a CUT podem defender a Petrobras de verdade?

Os petroleiros somos uma das mais fortes categorias do país. Somos dezenas de milhares e se superarmos a vista grossa dos sindicatos com os terceirizados somos centenas de milhares. A Petrobras é crucial para a economia de vários estados e cidades. O projeto de venda de um terço da empresa vai destroçar estas regiões e colocar as riquezas nacionais em mãos de Shell, Exxon, etc. Não é algo simples derrotar um projeto tão estratégico para o imperialismo e que é defendido tanto por tucanos como petistas.

Seria uma imensa derrota não só de Dilma, mas dos tucanos e do imperialismo se barrássemos a privatização. Seria uma derrota crucial para frear a mão dos ajustes que tanto o governo federal como os governos estaduais estão fazendo.

Uma luta dura como está, decisiva, não pode ser travada por só uma categoria. É uma luta de todos os trabalhadores do país. Pois bem, o que a maior central sindical do país, da qual a FUP é filiada, a CUT está fazendo? Nada. O que a FUP propõe que a CUT faça? Nada.

Este fato ilustra, mais uma vez, como não podemos confiar que a FUP vá defender a Petrobras.

A FUP nunca defendeu seriamente a Petrobras e o petróleo nacional nestes 13 anos que ex-sindicalistas governam a empresa, de cargos de diretoria a assessores da presidência que eles emplacam, como na Transpetro onde um ex-diretor do Sindipetro Caxias é assessor da presidência. Nunca travaram nenhuma luta séria contra os leilões, mesmo em Libra, quando fizeram paralisação era para constar não um plano de guerra para enfrentar o privatismo.

Os conselheiros de administração da Petrobras, quando ligados a FUP nunca denunciaram uma só falcatrua da empresa, nunca deixaram de aprovar uma conta da empresa no conselho de administração. Com tantos gerentes, diretores, assessores, a FUP não sabia de superfaturamento de obras e tantas falcatruas que qualquer peão, com menos conexões vê, desconfia?

Por que nunca fizeram nada? Agora defenderão consequentemente a empresa, sem unir as pautas da categoria, sem mobilizar a maior central sindical do país?

A imensa greve petroleira de 1995 já foi derrotada pelo isolamento que a CUT e o PT lhe impuseram. Os petroleiros vão deixar isto se repetir?

Acabar com a divisão da categoria e organizar uma grande batalha nacional

Para acabar com a divisão da categoria, as disputas sindicais entre FNP e FUP é preciso unir a categoria. A FUP é principal empecilho a esta união. Não quer a união para blindar o governo Dilma. A união passa por unificar as pautas, incluindo a pauta salarial dos petroleiros e defesa dos empregos, salários e direitos dos terceirizados. A CSP-Conlutas e o Sindipetro-RJ que contribuíram para criar a associação dos demitidos do COMPERJ deveriam dar um exemplo da força que é a união dos terceriizados e efetivos para chacoalhar a empresa de norte a sul do país.

Para ter esta união, ter uma greve verdadeira é preciso tirar das mãos de sindicalistas eternos, cheios de cargos na empresa, ou amigos dos que tem cargos, e os trabalhadores tomarem as rédeas da luta.

É necessária constituir urgentemente um comando unificado da greve, com representantes de base de todo o país, a cada 50, 100 trabalhadores votando um representante, para que junto aos sindicatos, fossem eles da FUP ou FNP, organizassem as reivindicações, as manifestações, o dia-a-dia da greve. Constituir comitês de petroleiros efetivos e terceirizados em cada unidade e região para coordenar a luta.

Se a FUP não quer unificar, que a base decida. Se algum setor da FNP não quer unificar, a base que decida. Não podemos ficar reféns de jogos por trás dos interesses de todos petroleiros e de todos trabalhadores do país.

A partir da constituição de um comando nacional como este nossa greve poderia tomar rumos mais decididos que incluíssem chamar outras categorias à luta em defesa da Petrobras.

A “causa da Petrobras” não é algo corporativo. Toca todo o país. A UNE que tanto falou do pré-sal e recursos para a educação vai ficar parada enquanto estes recursos vão para o ralo? O MTST que tanto fala contra as medidas neoliberais vai ficar quieto enquanto o PT as aplica a torto e direito na Petrobras, ou colocará suas forças na rua contra este ataque que afetará trabalhadores em todo o país? Os parlamentares do PSOL, sobretudo os do Rio de Janeiro, estado que já sofre dezenas de demissões de terceirizados seguirão omissos de denunciar este ataque do PT?

Os sindicatos dirigidos pela esquerda antigovernistas e antiburocratica em todo o país deveriam tomar ações imediatas de solidariedade a luta dos petroleiros, mostrando como esta causa é de todos trabalhadores do país. A CSP-Conlutas como uma central sindical antigovernista poderia articular seus sindicatos e setores de direções de sindicatos, como os da FNP, metalúrgicos de São José dos Campos, entre outros, para promover medidas urgentes de solidariedade e chamar um encontro nacional em apoio a luta dos petroleiros e contra a privatização da Petrobras. Um encontro que reunisse não somente dirigentes sindicais, mas ativistas de norte a sul do país e fosse um passo para tornar esta luta uma verdadeira causa nacional dos trabalhadores.

A batalha contra a privatização/ajuste na Petrobras se for vitoriosa pode inspirar a luta dos trabalhadores em todo o país.

Nenhum corte de salários!
Redução da jornada, sim, mas sem redução salarial!
Reajuste de acordo com a inflação e aumento real!
Nenhuma retirada de direitos!
Que o acordo coletivo dos petroleiros passe a ser o mesmo de todos os terceirizados das empresas que têm lucros extraordinários com a Petrobras! Os petroleiros e terceirizados não podem pagar pela crise da Petrobras e pelo Petrolão!
Não a privatização da Petrobras! Nenhum “desinvestimento”!




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