×

NELSON BARBOSA EM DAVOS | Os ajustes do governo petista na vitrine de Davos

Nelson Barbosa, novo ministro da Fazenda que entrou no lugar de Levy, reafirma continuidade da política econômica de ajuste contra os trabalhadores e a juventude

Fernanda PeluciDiretora do Sindicato dos Metroviários de SP e militante do Mov. Nossa Classe

sexta-feira 22 de janeiro de 2016 | 00:15

O ministro da Fazenda reconheceu a importância do papel do mercado financeiro na economia, mas ressaltou que muitas vezes é preciso que o governo intervenha para coordenar temas e "evitar problemas".

"O mercado pode produzir progresso e produtividade, mas também pode produzir desigualdade e volatilidade. Isso requer alguma ação de governo", disse Barbosa. O ministro brasileiro defendeu que os governos não devem ser "atores, mas coordenadores" da economia, especialmente nos países emergentes. Essa coordenação serve, por exemplo, para facilitar o caminho do capital privado para investir na economia, o que também pode ser lido como "aumento da privatização do setor público". "É ter políticas desenvolvidas para que os mercados possam fazer coisas", buscou justificar.

Barbosa disse ainda que, em termos amplos, a principal responsabilidade dos governos é "manter a estabilidade econômica". Esse objetivo, explicou, pode ser atingido de várias maneiras e a população escolhe o modelo através das eleições.

Questionado por um dos presentes sobre os indicadores tradicionais da economia, Barbosa disse que o Produto Interno Bruto "não é a única variável objeto para as políticas econômicas". "Como país emergente, acho que o aumento da renda per capita é importante. Combinados (crescimento da economia e renda per capita) podem reduzir a desigualdade", disse. "Essa estratégia é positiva em termos econômicos", argumentou o ministro, "porque a redução da desigualdade resulta em aumento da classe média, o que aumenta o mercado consumidor", discurso este que acaba por ignorar totalmente o fato de que hoje no Brasil a alta da inflação, por exemplo, atinge diretamente o poder de compra do trabalhador, que é quem mais sofre com a crise atualmente instaurada.

O aumento do investimento e do consumo ao longo do ciclo petista da última década foi dependente do boom das commodities a nível mundial e da migração de capitais estrangeiros para a região em busca de maior rentabilidade. As conquistas da burguesia nacional e estrangeira foram infinitamente superiores às conquistas parciais dos trabalhadores, que ora veem suas posições atacadas nos ajustes pactuados pelo PT e todo o regime político brasileiro.

O ministro brasileiro citou ainda que o Brasil usou o "boom" de commodities para "financiar a rede de proteção social", dizendo que os recursos obtidos com o aumento de preço das matérias-primas foram importantes para reduzir a pobreza, a desigualdade, incluir pessoas e até melhorar a produtividade no País (um exemplo disso é a Petrobras, que a cada dia que passa está cortando investimentos nos seus projetos sociais Brasil afora). Agora, porém, como fim do boom, o ministro disse que o Brasil vive fase de transição, em que é preciso consolidar as conquistas sociais e preparar a economia para um crescimento em novas bases.

Perguntado sobre a queda do PIB prevista para 2016, Barbosa lembrou que o Brasil é um país grande, com economia diversificada, que fabrica de aviões a manufaturas simples. “Nos últimos três ou quatro anos a situação mudou, tanto dentro quanto fora do país, e agora estamos enfrentando o desafio de consolidar as conquistas sociais quer fizemos no passado recente e preparando nossa economia para essa nova fase da economia global”. Barbosa se disse otimista, mas apontou que a economia brasileira precisa ser preparada para esta nova fase da economia, e que isso “requer algumas mudanças estruturais”.

Se mostra candente a diferença da atual situação dos chamados "países emergentes" com os demais encontros de Davos, onde o protagonismo que possuíam as economias emergentes anteriormente hoje se mostram como um dos focos de preocupação na agitada economia mundial, como já viemos discutindo no Esquerda Diário.

As declarações de Nelson Barbosa em Davos, busca passar um otimismo até então pouco visto da atual situação econômica brasileira, que evidentemente passa por uma profunda recessão. A queda das commodities no mercado mundial, principalmente na China, afeta diretamente o comércio exterior mundial, principalmente na América Latina, e em maior medida no Brasil, grande exportador dos produtos e commodities chinesas.

O discurso de Barbosa, que tanto fala da "nova fase da economia global" omite conscientemente que esta "nova fase" prevê retração econômica com demissões em massa, o escandaloso aumento da inflação, e mais: omite os planos de um partido que um dia se autointitulou "dos trabalhadores" de que quem vai sofrer com estas consequências serão os trabalhadores e, principalmente, o povo pobre, pois as conquistas que tanto fala Barbosa, já estão sendo pouco a pouco retiradas. Apenas os trabalhadores, unidos com a juventude que hoje sai às ruas reivindicando melhores condições de vida e contra a carestia de vida, podem mostrar o caminho para combater a crise num grande movimento nacional contra os ajustes.




Comentários

Deixar Comentário


Destacados del día

Últimas noticias