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POLÍTICA VENEZUELA | Onde se escondeu o "poder popular" na Venezuela?

O chavismo fala de crescimento de "organismos de poder popular" na Venezuela. Porém, porque este "poder popular" não tem servido para evitar que a crise econômica golpeie os trabalhadores?

terça-feira 3 de maio de 2016 | Edição do dia

É evidente que não será por puro desejo de irritar o chavismo que alguém, não digamos da esquerda revolucionária, mas também do povo trabalhador em geral, pudera perguntar-se, se se supõe que desde alguns anos no país se extendeu por toda parte organismos de poder popular, como é que hoje estamos submetidos a uma situação que castiga brutalmente e sem piedade nossas condições de vida, sem que tenhamos "poder" para reverte-la, ou pelo menos detê-la?

Uma situação esmagadora

Descida indiciplinada e veloz do poder de compra do salário (de seu valor, em seguida). Angústia e Via cricis diárias para conseguir produtos básicos. Angustia y via crucis diarios para conseguir productos básicos. Quantidade de domicílios em que se começa a não comer mais três vezes por dia, mas sim "duas boas comodas". Drama e desespero para conseguir medicamentos que curem ou freem o desenrolar de uma doenca qualquer. Milhares de famílias que, por si não bastasse a corrida inflacionária, já não teram salários, porque milhares de despedidos as deixam nas ruas.

Definitivamente não é ocioso perguntarmos, onde se supõe que está escondido ou ocupado em outra coisa o "poder popular" do que tanto falou Chávez e agora Maduro?

É uma questão de primeira ordem, porque quando a coisa não se trata de discursos e frases, mas sim de como podemos combater de verdade as misérias e golpes reais a que nos submete o capitalismo e suas crises, é necessário - como dizíamos em uma artigo passado - falar de poder popular a sério.

O que é "ter poder"? Para que se supõe que serveria?

Não tem que dar tantas voltas no assunto, quando falamos de poder social ou político em uma sociedade dividida em classes, ter poder é ter a capacidade de exercer a vontade e interesses próprios, ainda se chocam com as demais classes sociais. Por exemplo, que a classe capitalista possa garantir suas ganâncias elevando os preços dos produtos, ainda assim isso afeta a alimentação e saúde de milhões de membros da classe trabalhadora. Que os empresários emponham a rentabilidade de zseus negócios reduzindo pessoal, ainda assim isso implica que centenas de famílias operárias vão ao desespero por ficar sem trabalho. Que banqueiros, empresários e burocratas podem levar milhares ou milhões de dollares do país, ainda assim, isso é o contrário as necessidades das escolas e hospitais públicos que usa a maioria do povo trabalhador e pobre. Ou, por exemplo, que o governo possa acabar uma greve de trabalhadores ou um protesto barrial com a força da repressão, ainda assim quando a vontade dos operários ou habitantes do bairro era manter a medida de luta.

Qualquer uma pode dar conta que em nosso país (como qualquer país capitalista) as decisões sobre tudo de fundamental que afeta a vida das maiorias, são tomadas por empresários, banqueiros ou burocratas do governo, é em suas oficinas em que é negociado e decide, não somos os trabalhadores nas fábricas e nos locais de trabalhos, os setores populares nos bairros, nem os campesinos pobres.

Os empresários e comerciantes vêm impondo sua vontade (seu poder real), o governo estabelece com os capitalistas nacionais e estrangeiros acordos contrários aos interesses operários e populares (autorização de aumento de preços - incluindo no transporte público -, exoneração de impostos, autorização de demissões ou inação consciente, facilitação de dollares, pagamento da dívida e maior endividamento), e toma suas próprias medidas que afetam o povo ( desvalorização, aumento da gasolina e da eletricidade, congelamento de centenas de contratos coletivos do setor público, milhares de despedidos - como em Abastos Bicentenário -, acusação aos trabalhadores que lutam, repressão a greves ou protestos dos setores populares)... Tudo isto sem que os "conselhos comunitários", "conselhos de trabalhadores ou "milícia operária" tenham poder algum para parar a mão dos empresários ou do governo!

Estatização, cooptação, disciplinamento e divisão

A história do movimento operário (e também do movimento campesino) está cheia de exemplos de surgimento de verdadeiros organismos de poder, ou de embriões do mesmo, desenvolvido ao calor da luta: soviets, conselhos, comitês, coordenadores, assembleias, milícias, etc., tem surgido nas fábricas, nos bairros operários e populares (ou nos campos) para resistir com determinação as infames imposições burguesas ( e proprietários de terra) sobre nossas condições de vida, tem plantado com firmeza e selvageria ocupando as fábricas, apropriando-se das ruas, pondo as empresas sobre o controle dos trabalhadores, tomando nas suas mãos o abastecimentos de alimentos, ocupando terras, armando-se, para derrtotar governos (como na Bolívia em 52) e em casos estabelecendo governos próprios dos trabalhadores e campesinos pobres (como a Revolução Russa).

Lá estamos falando do poder operário e popular de forma séria. Claro, organismos dessas características não se parecem em nada com o que Chávez e o chavismo sempre venderam como "poder popular". Na realidade, o que fez o governo foi, apoiado nas políticas de redução da pobreza, ampliação do acesso a educação, saúde e segurança social, a recuperação da capacidade de consumo dos trabalhadores, redução de desemprego e medidas de coação cada vez que o necessitou, avançar na estatização do que uma vez foi o movimento popular, em cooptar e desagregar mais ainda do movimento operário.

Um êxito enorme do chavismo, como regime de canalização reformista (e não revolucionária) das energias desatadas desde Caracazo para a frente, foi, sem lugar a dúvidas, alcançasse o quadro de centenas de milhares de ativistas e lutadores populares no rol de gestores de soluções diante das oficinas governamentais. Passaram de pensar estratégias de luta para resolver as necessidades do bairro, o governo os colocou a elaborar projetos e estratégias para alcançar que se aprovasse em alguma instância do governo, ou para conseguir um crédito. Sem ser pouco os casos em os que o dirigente do Conselho comunal é só mesmo tempo funcionário do governo.

O movimento operario foi um osso mais duro de doer para Chávez, não alcançou estatizar-lo como ao movimento popular, sempre houve lutas mais radicalizadas, setores que pediam por autonomia, sem embargo, alcançou a cooptação de um setor importante da burocracia sindical (incluindo cargos de deputados e ministros), assim como uma maior divisão e dispersão de suas forças organizadas (por exemplo: fundou uma nova Central - A União Nacional de Trabalhadores - ao não poder controlar a CTG, porém logo também a boicotou e dividiu quando não pode controla-la a seu gosto). Assim como se encarregou de "disciplinar" mediante ameaças diretas e também repressão, a aquelas lutas que iam alem dos limites tolerados pelo governo.

Verdadeiras organizações de luta para vencer a paralisia

O resultado de tudo isto é uma desconcertante ausência do movimento operário e popular como sujeitos centrais na enorme crise social e política que atravessa o país. Não é acaso chamativo - alarmante, mas bem- que diante de ataques semelhantes ao que recebemos, os trabalhadores e setores populares não façam grandes mobilizações e ações de luta dos trabalhadores e do povo pobre?

O resultado de toda essa farsa de suposto "poder operário", é a atual paralisia do movimento operário e popular, e talvez até com elementos de desmoralização, porque "suas" organizações se dedicaram (e fazem até hoje) a gerir os planos governamentais e defernder-los inclusive contra as próprias lutas operárias (como a "Central Bolivariana Socialista" que ofereceu ao governo furagreves contra uma paralização em SIDOR), sendo hoje totalmente impotente para reagir e por em pé de luta a potencialmente poderosa força da classe operária e do povo pobre.

Esta ausência e paralisia faculta não apenas que estejamosnpagando pela crise da maneira que o que estamos fazendo facilita, mas também o caminho a que seja a direita e as forças armadas quem se coloque como alternativa de mudança ou de "ordem" diante do desastre do chavismo.

Claro que nossa classe necessita junto ao conjunto do povo trabalhador e pobre, hoje com mais urgência que nunca, organismos através dos quais faz valer nossa vontade e interesses contra os dos capitalistas e qualquer governo que defenda esta sociedade de exploração e opressão. Para tomar em nossas mãos a solução dos problemas mais urgentes que atravessamos, como o estabelecimento, o controle dos preços, os despedidos e as represálias judiciais aos que lutam.

Retomar e melhorar a experiência própria

Será ao calor de colocar em pé verdadeiras organizações de luta nas fábricas, lugares de trabalho e comunidades como poderia sentar-se as bases para o dessenrolar de um verdadeiro poder dos trabalhadores e do povo pobre. Recuperando e dessenrolando em maior escala e profundidade experiências que tem dado nossa classe nas batalhas recentes: o exemplar comitê de fábrica que garantiu o controle operário da produção em Sanitários Maracay quando o patrão quis fechar a fábrica, as assembleias de base e mobilizações que transbordam a burocracia do sindicato e fizeram torcer o braço ao próprio Chávez na luta pelo contrato coletivo e a re-nacionalização de SIDOR, o controle operário da produção petroleira mas refinarias de Puerto La Cruz e El Palito quando a gerência golpista lançou a sabotagem petroleira, a mobilização operária popular em Anaco que, durante a para-sabotagem, tomou em suas mãos a produção e distribuição de gás, evitando que se bloqueara o sumiministro deste todas as empresas básicas, a refinaria de San Roque e a rede doméstica. O governo jamais buscou dessenrolou, nem generalizar nenhuma dessas experiências, ao contrário destas experiências ao contrário, as desarticulou apenas estabilizou as situações ou as combateu.

Junto a estes exemplos, hoje necessitamos de comitês de Trabalhadores e comunidades para controlar realmente os preços e para tomar em nossas próprias mãos o abastecimento e a distribuição de alimentos, em movimento as máfias de empresários - comerciantes - "bachaqueros" - polícias e guardas nacionais. O governo é totalmente incapaz, quando não é cúmplice.

As batalhas de nossa classe e os setores populares em nosso país em todos estes anos mostram o que é capaz de fazer a iniciativa operária e popular, porém a experiência não pode ser em vão: a condição para um possível dessenrolar massivo e como órgãos de poder real de organismos deste tipo, é que sua constituição seja verdadeiramente democrática, sem imposições burocráticas de nenhum tipo (nem do PSUV, nem nenhum partido de governo, menos da direita), que sejam responsáveis diante as bases operárias e populares, que pode revogar em assembleia em qualquer momento. Sem nenhuma tutela do Estado que venha a manter suas iniciativas, que sejam totalmente independentes do governo, os patrões e a direita. Que longe de cair isolados em cada fábrica ou bairro, se coordenem por setor e territorialmente, para conformar órgãos regionais e, em perspectiva, instâncias nacionais. Que desafiam e possam parar a mão das represálias dos capitalistas, o governo e suas forças repressivas.

Nesta perspectiva na que podemos falar de lutar por um poder operário e popular de verdade.




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