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UNESP - Araraquara | OBRAS PARADAS, BARRIGAS VAZIAS

sábado 29 de agosto de 2015 | 01:07

Estudantes da Juventude às ruas Araraquara lançaram a campanha “No Brasil todo: OBRAS PARADAS BARRIGAS VAZIAS. Por um bandejão sem terceirização” convidando quem concorde com essas palavras a fotografar-se se somando as rostos indignados com o descaso da diretoria, da REItoria e do governo. Provando aos responsáveis que ainda estamos aqui e revoltados!

Esse texto foi redigido pelos idealizadores da campanha, entendendo a ligação necessária ente o problema pontual dos estudantes de Araraquara com o bandejão e o atraso das obras a uma crise que ultrapassa os muros de nossa universidade e atinge trabalhadores de dentro (como as terceirizadas que trabalhavam no RU) e de fora.

Esclarecemos que os que se somaram na campanha de fotos não tem comprometimento com a redação desse texto, apenas com o acordo nos dizeres do cartaz, e essa é a compreensão da Juventude às Ruas Araraquara sobre esses dizeres.

O cotidiano do campus nos entorpece. A universidade nos proporciona um universo paralelo que nos dá a ilusão de superação das contradições sociais, de que a satisfação de necessidades reais se dá no âmbito da comunidade acadêmica, distante da sociedade em geral. Ainda assim, o que é manifestado na sociedade – a exploração, as opressões, as violências, as relações de poder – também se faz presente dentro da universidade. A “bolha” do ambiente universitário é, na verdade, um esforço de construção das reitorias e diretorias, que procuram afastar os estudantes das demandas reais, na medida em que enaltecem o academicismo e a produtividade, sempre na busca da imagem mais impecável possível. Nessa lógica, impõe ao estudante pobre, trabalhador, mulher, negro e LGBTT que não se enquadra nessa construção, que lide por si próprio com sua própria condição de classe. A construção desse ambiente, desde a estrutura de poder que organiza a universidade até a perpetuação de tradições como o trote, afasta o estudante de suas possibilidades de se por em luta, impondo sua relação com os espaços.

Entretanto, não há mais como esconder a crise. Estamos há mais de 8 meses sem bandejão na UNESP Araraquara, sem nenhuma alternativa real para que os estudantes possam se alimentar. Esse cenário é bastante grave e é uma continuidade da política implementada pelo Diretor Arnaldo Cortina, que negligencia as demandas dos estudantes, marcadamente as de permanência estudantil. Num contexto mais amplo, o Governo Dilma, em aliança com os setores mais conservadores da sociedade, já cortou 13 bilhões na educação, e a cada dia o governo nos surpreende com novos cortes bilionários que afetam principalmente os direitos sociais.

A quem serve o projeto de universidade da UNESP e sobre quem é descarregada a crise? Enquanto os trabalhadores recebem arrocho salarial e congelamento de contratações, aumentando a sobrecarga e precarização do trabalho, e enquanto trabalhadoras terceirizadas são as primeiras a sofrerem ameaça de demissão e aumento da precarização, abrem-se novos cursos voltados para as empresas, como Engenharia de Aeronáutica, de Produção e Elétrica, assim como se amplia o investimento na internacionalização e se mantém os super-salários dos professores e os privilégios da burocracia da universidade.

Não podemos aceitar que a crise seja despejada sobre as costas dos trabalhadores e dos setores oprimidos, que são os primeiros a sofrer com os cortes. A luta pelo bandejão hoje, para nós, é parte dessa luta. Enquanto não houver comprometimento com a garantia da permanência estudantil, as estudantes mulheres, LGBTTs e negros serão esses os que mais sofrerão com a falta de moradias, falta de restaurante universitário e bolsas, e ainda com os vários casos de assédio pelas ruas escuras da faculdade até a moradia e bairros.

Para saber mais sobre a retirada de direitos da UNESP, principalmente das mulheres, e sua ligação com a crise econômica ler:
UNAMOS e o direito da estudante sob ataque
Direito a creche na Universidade e a restrição de idade para o CCI na Unesp
A crise da UNESP

O MOVIMENTO ESTUDANTIL PODE TRANSFORMAR!
A CONQUISTA DAS COTAS: UMA VITORIA DA GREVE DE 2013

As greves de 2013 e 2014 foram marcos na história de resistência, não só contra as políticas implementadas pela Diretoria de Araraquara, mas da UNESP como um todo. Na greve de 2013, foram 3 meses de luta entre estudantes, trabalhadores e professores de 14 dos 24 campi entraram em greve. O movimento estudantil com sua organização de base e métodos de luta conquistou pautas importantes ligadas à permanência, extensão (cursinhos) e etc. Dentre elas, uma das pautas mais centrais era pela implementação do sistema de cotas que visa destinar 50% das vagas para estudantes que cursaram todo o ensino médio em escolas publicas, sendo 35% desse percentual destinado especificamente para Negros e Indígenas.

2014: GREVE DOS 3 SETORES, M.E. DESCOLADO DO MOVIMENTO DE TRABALHADORES E REPRESSÃO

Em 2014, já com o discurso da crise, a Reitoria arrochou o salário de funcionários e professores e fez uma verdadeira “limpeza” nas políticas de permanência estudantil, com diversos cortes. Apesar da importante vitória dos funcionários das Estaduais, o movimento estudantil entrou a reboque na greve, não conseguiu atuar como força independente ao não levantar pautas de diversos setores da universidade, buscando aliar-se com funcionários e demais estudantes contra um mesmo projeto de Universidade que vem se implementando na UNESP. Dessa maneira, ficou refém de ações isoladas que, além de não conquistar vitórias, possibilitaram o avanço da perseguição política ao Movimento Estudantil, como com estatutos oriundos da Ditadura Militar. Em Araraquara, onde se expressou de maneira mais aguda a repressão da REItoria, foram expulsos 17 estudantes que foram linha de frente nessas lutas. Após esse duro baque, o movimento buscou se erguer, tirando as lições da derrota de 2014 e promovendo uma campanha com amplos setores de dentro e fora da universidade, reivindicando que nossa repressão era fruto da luta contra um projeto de educação, nos ligando, dessa forma, aos professores da rede básica que sofreram repressão no Paraná e em São Paulo. Os professores da rede de Araraquara foram essenciais nessa luta que conquistou a revogação das 17 expulsões.

A repressão não é consequência direta de quando usamos os métodos de luta para levantar nossas pautas, sem greves, piquetes, cadeiraços e ocupações, as mesas de negociação são simplesmente inférteis, mas devemos usa-los de maneira não vacilante. Ao nos mobilizar precisamos incessantemente nos aliar aos setores que também estão em luta, defendendo suas pautas como parte de uma só luta, para que não estejamos sozinhos ao enfrentar os contra-golpes da repressão.

O ATRASO NAS OBRAS DO BANDEJÃO É UMA FORMA DE REPRESSÃO E OPRESSÃO

Além do descaso com a permanência estudantil, a falta de bandejão é uma das principais formas de desarticular o movimento estudantil ao transformar a universidade num espaço estéril, sem discussão, debate e socialização. A UNESP Araraquara já é bastante carente em espaços de vivência. Não existe um espaço, dentro da universidade, pertencente aos estudantes, onde possam se expressar livremente, organizando festas, debates, saraus, pixando as paredes e transformando o espaço no que quiserem fazer com ele. Sem nenhuma consulta a estudantes e trabalhadores, por exemplo, transformaram a “brisa”, que era um importante espaço de socialização de diversos estudantes, em lugar “padrão”, onde os estudantes não se reúnem mais.

O bandejão tinha um grande fluxo de estudantes e permitia essa integração. Agora, inclusive, com estudantes tendo que se organizar pra comer fora da universidade, já que é impossível encarar os altos preços da cantina passamos mais tempo em nossas casas ou na moradia, aumentando a tendência a nos “recolhermos ao nosso lar”. Inclusive, sem a socialização do trabalho referente à alimentação caem as bases materiais que sustentam o privilégio e ao mesmo tempo libertação do tempo dos estudantes para estabelecerem relações menos mediadas pelas coações da família tradicional, repúblicas opressoras ou pressões para a entrada precoce no mercado de trabalho. Presos ao ambiente doméstico o trabalho doméstico e a divisão sexual desse trabalho se intensificam, favorecendo que casos de agressões domésticas, comuns em diversas repúblicas ou relacionamentos abusivos, se mantenham no ambiente privado, e não venham a público.

Sem esses espaços, onde estudantes possam conversar sobre as aulas, por exemplo, fica mais difícil que o conhecimento determinado pela universidade, que é bastante conservador e pensado a partir de determinados interesses, seja questionado. O poder de intimidação dos professores nas salas de aula fica ainda maior. A direção quer nos adequar a esse projeto elitista, racista e homofóbico de universidade, que não em nada tem a ver com nossos interesses.

AFINAL QUEM SE BENEFICIA COM ESSE PROJETO?

Esse projeto beneficia o Santander que defende o Ensino à Distância e que tem voz garantida nos rumos políticos da instituição, ou os estudantes, funcionários e professores preocupados com a qualidade do ensino? Beneficia as empresas que garantem que diversas pesquisas da Unesp sejam voltadas aos seus lucros, ou à população que sustenta a Unesp através dos impostos, mas é impedida de estudar pelo filtro social que é o vestibular? Beneficia os altos cargos da burocracia acadêmica com seus super-salários, ou para a população atendida por projetos de extensão que tiveram mais de 50% de cortes em 2014? Beneficia os rankings internacionais e para a cartilha do Banco Mundial aumentando vagas sem aumento de verbas, ou os trabalhadores terceirizados que são assediados por patrões e que são super-explorados todos os dias nas Universidades sustentando com dor nas costas as estrelas da instituição? Beneficia os negros e negras que pagam os impostos, mas que estão fora dos cursos mais concorridos da instituição? Beneficia as travestis que dificilmente conseguem adentrar na universidade dado um conjunto de barreiras institucionais que insistem em não reconhecer suas identidades? Beneficia os funcionários que já receberam a ameaça de congelamento de contratações e de salários, e que padecem com problemas de saúde, também assediados e perseguidos pela Reitoria? Beneficia as mulheres que padecem com políticas insuficientes de permanência como as creches, assediadas em trotes e festas universitárias com conivência da instituição

QUE PAPEL CUMPREM AS ENTIDADES ESTUDANTIS

Com relação ao bandejão, os CAs apostaram suas fichas no diálogo burocrático com a diretoria, ignorando os limites dessa saída e se abstendo de construir a mobilização dos estudantes para uma resposta independente. Assim, buscam conter a insatisfação dos estudantes dentro dos limites da burocracia universitária, que não pode e não se interessa em responder às demandas estudantis por permanência. Essa atitude é afinada com a postura governista de blindar as possibilidades de organização diante do contexto de cortes e ataques à educação.

É importante ressaltar que enquanto travávamos uma dura luta contra os ataques a permanência e para buscar fazer com que o Movimento Estudantil ampliasse sua força e se ligasse à fortíssima greve dos funcionários em 2014, e na campanha contra as expulsões em 2015, algumas correntes ligadas ao PT, que hoje compõe o Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CAFF), estavam construindo a campanha pelo plebiscito constituinte, que hoje mostra mais do que nunca todo seu caráter ineficaz, já que apesar de plataforma eleitoral de Dilma foi uma proposta abandonada nos primeiros segundos de mandato, mostrando que buscava apenas capitalizar a indignação de trabalhadores e jovens contra os primeiros efeitos da crise e impedir um questionamento mais profundo com relação ao governo, colocando a luta superestrutural (por aparatos ou por posições eleitorais em detrimento da luta na base, de trabalhadores e estudantes). Um papel semelhante cumpre o discurso do golpismo hoje, que busca esconder o fato de que quem implementa os ataques contra os trabalhadores é o PT . Uma forma desesperada de evitar o desgaste do Governo, que já acumula índices de aprovação bastante baixos, de 7% aproximadamente.

Dilma e centrais sindicais como a CUT (ligada ao PT) agora utilizam da crise pra justificar uma política escancarada de cortes e outras políticas que atacam os trabalhadores, estudantes e o povo pobre e também beneficiam empresários e mantém os altos salários e privilégios das castas políticas.
A lei de responsabilidade fiscal é um exemplo. Seguida religiosamente pelos governos (inclusive por governos de esquerda como do PSOL no Macapá), garante, em momentos de falta de recursos como em uma crise, que se pague com prioridade a dívida pública contraída com grandes bancos e corte do bolso do trabalhador, com atraso de salários, cortes de investimentos em hospitais, creches, escolas, transporte e tudo mais o que se possa imaginar. Assim, obras e investimentos que poderiam atenuar a vida de quem mais sofre em nosso país, simplesmente, param.

Por um BANDEJÃO SEM TERCEIRIZAÇÃO.
Pela efetivação das trabalhadoras terceirizadas sem concurso público!

Os governos e Reitorias vem se preparando para a crise há anos. A terceirização é uma forma de fragmentar os trabalhadores e dificultar que se organizem contra a crise. O plano é tornar suas demandas, suas ideias, sua voz e elas próprias invisíveis. Nas universidades esses trabalhadores ainda sofrem com a proibição de participar dos espaços “comuns” a estudantes, professores e trabalhadores concursados, como por exemplo, utilizar o polo de informática ou mesmo fazer refeições no bandejão.

A terceirização também é uma forma para que os empresários rebaixem os salários e os direitos que pagam aos trabalhadores, se apropriando da opressão historicamente construída contra mulheres, LGBTTs e negros, que fazem parte dos setores que mais sofrerão o aprofundamento da precarização do trabalho. É importante ressaltar que antes mesmo dessas políticas, as mulheres sempre estiveram em condições mais precárias de trabalho. No caso da terceirização, cerca de 70% dos postos de trabalho terceirizado são ocupados por mulheres.

Silvana Araújo, trabalhadora que foi linha de frente da greve das terceirizadas da empresa de limpeza Dima, que prestava serviço para a USP, e militante do Pão e Rosas, fala sobre a importância da luta pelo fim da terceirização, com a efetivação imediata dessas trabalhadoras sem concurso público. “... muitas terceirizadas trabalham em condições precárias já há 10, 12, 15 anos na mesma empresa e local, mas não têm o direito de usufruir dos mesmos direitos de uma trabalhadora efetiva. Algumas pessoas dizem que é ilegal a ’incorporação imediata’, então o que acham das empresas colocar a gente pra trabalhar sem ter onde almoçar, descontar nosso ticket mesmo com atestado médico, nos forçar trabalhar até não ter mais força pra levantar um copo porque o braço já está destruído? E também muitas de nós só sabe assinar o nome, eu mesma aprendi a ler depois dessa greve, não passaríamos em provas, mas já mostramos nossa capacidade trabalhando."

Para sermos consequentes com nosso combate às opressões, não podemos encarar a luta pelo bandejão dissociada da luta para que as trabalhadoras terceirizadas do bandejão e da universidade sejam contratadas e tenham o mesmo direito que qualquer trabalhador da universidade.

É hora de lutar pra que a crise não seja descarregada nas costas dos trabalhadores e dos estudantes, como vêm sendo. Lutar para que a crise não seja descarregada sobre os negros, mulheres e LGBTTs, que amargam não de hoje os piores postos de trabalho e as mais degradantes condições de vida.




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