"Remédios amargos", "alguns fatais". Presidente da Câmara dos Deputados tenta se diferenciar do presidente, mas ambos são responsáveis pelas 300 mil mortes, enorme crise econômica e incontáveis ataques aos trabalhadores e povo pobre do país.
quinta-feira 25 de março de 2021 | Edição do dia
Horas após reunir com os outros chefes dos três poderes, Arthur Lira deu declaração com evidente tom de ameaça a Bolsonaro. Disse que “apertou o sinal amarelo para quem quiser enxergar”, falou em “remédios amargos” para “quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável” e disse ainda que alguns desses remédios seriam “fatais”. Leia-se, portanto, como ameaças a criação de CPIs ou mesmo de impeachment. Parte de seu discurso pode ser lido ao final do texto.
A razão das ameaças pouco tem a ver com preocupações genuínas do presidente da Câmara dos Deputados, cuja vitória só foi possível após o governo federal literalmente comprar centenas de votos com emendas milionárias. O cinismo é regra da casa em Brasília e Arthur Lira falou grosso no final do dia para 1 - parecer que se distancia da terrível gestão da pandemia por parte do governo federal; 2 - demonstrar insatisfação com a escolha de Queiroga para o comando do Ministério da Saúde ao invés do nome indicado pelo centrão; e 3 - seguir cobrando os altos preços do centrão sobre Bolsonaro. São distintos atores de um mesmo regime político golpista erguido para nos massacrar.
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Já são 300 mil mortos no país, cada dia com novos recordes e é evidente que tanto Lira quanto Bolsonaro são responsáveis. O roto falando do esfarrapado. Se Lira estivesse genuinamente preocupado com a vida dos brasileiros, não teria comandado a PEC Emergencial que congela salários, concursos e ataca serviços públicos (entre eles, o próprio SUS). Não teria apoiado as incontáveis reformas neoliberais e privatizações que estão destruindo com a vida dos trabalhadores, dos mais pobres e dos serviços públicos tão essenciais nesse momento de crise. Não teria impulsionado um auxílio emergencial de apenas R$ 150,00 para a maioria dos beneficiados. Não teria aprovado, impulsionado, defendido e comandado tantas medidas que estão massacrando a população brasileira há anos.
A bem da verdade, o comitê contra o Covid, criado por Bolsonaro, presidentes do Congresso e governadores, é uma forma de tentar livrar a cara de cada um deles sobre as centenas de milhares de mortes e a enorme crise econômica. Todos os chefes são responsáveis e não é possível depositar nenhuma confiança em Lira ou nas movimentações palacianas.
Parte da fala de Lira:
“Eu estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar. Não vamos continuar aqui votando e seguindo um protocolo legislativo, com o compromisso de não errar com o país, se, fora daqui, erros primários, erros desnecessários, erros inúteis, erros que não são muito menores do que os acertos cometidos, continuarem a ser praticados. E eu, aqui, não estou fulanizando. Vou repetir: eu não estou fulanizando. Dirijo-me a todos os que conduzem os órgãos diretamente envolvidos no combate à pandemia: o executivo federal, os executivos estaduais, os milhares de executivos municipais também. Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável. Não é esta a intenção desta Presidência. Preferimos que as atuais anomalias se curem por si mesmas, fruto da autocrítica, do instinto de sobrevivência, da sabedoria, da inteligência emocional e da capacidade política.”