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GREVE DA PETROBRAS | O recuo da Petrobras na nova proposta de acordo não impede punições, a ameaça de privatização segue

Petrobras e governo Dilma começam a recuar na suas propostas de ataques aos petroleiros. Porém ainda restam ameaças de punições, retirada de direito e ainda paira a ameaça de privatização.

Leandro LanfrediRio de Janeiro | @leandrolanfrdi

quinta-feira 12 de novembro de 2015 | 00:30

Na tarde e início de noite desta quarta-feira na véspera de cumprir duas semanas da mais longa e forte greve petroleira desde 1995 a empresa e o governo Dilma começaram a mostrar um recuo frente à categoria. Recuaram, aparentemente, em umas 80 das 91 cláusulas que haviam alterado para nos retirar direitos. Mas a ameaça privatização segue de pé. A ameaça a quem fez greve sofrer punições está renovada. E os ataques que reservam a uma parte da categoria ainda é muito expressivo.

Este recuo é resultado desta histórica greve que contou com adesão de 100% do quadro operacional em muitos locais do país, chegando até a paralisar lugares inéditos como o Centro Nacional de Controle Operacional (CNCO) e contar com a adesão de supervisores no TEBAR e coordenadores na Bacia de Campos e outros locais do país.

Este recuo é mérito da categoria que se manteve unida e firme frente ao assédio moral, às práticas antissindicais, e mostrou toda sua disposição de luta em que pese a divisão da categoria em federações e que a maior delas, a FUP, hesitou meses em construir uma greve que enfrentasse o governo Dilma.

Nenhum acordo que não impeça punições, transferências e aceite o desconto de salário é aceitável

A proposta feita pela empresa, segundo o que circula nas listas de whatsapp não consta nenhuma garantia de nenhuma punição aos grevistas. Esta greve contou com ocupações de unidades seguindo orientação sindical, com abandono de plataformas, com o enfrentamento ao assédio moral, seguramente como é o costume desta empresa haverão punições. Não ter isto no acordo torna-o inaceitável.
Também é inaceitável que não conste nenhuma transferência não desejada dos trabalhadores. Aqueles trabalhadores que se enfrentaram com suas chefias, que fizeram greve em locais que nunca tinham tido greve como o CNCO são passíveis de transferências. Isto também é inaceitável. Deveria constr por escrito uma garantia contra esta prática antissindical da empresa.

Outra não garantia na proposta feita pela empresa é a realização do desconto dos dias parados. Os barris que não foram retirados dos poços não voltam atrás, a pressão que tal gasoduto perdeu já foi. A única lógica deste desconto é amedrontar os trabalhadores, nos fazermos temerosos de entrar novamente em greve. É possível garantir o pagamento integral dos dias parados. Outras categorias, com decisão, conseguem isto. Hoje mesmo trabalhadores da Universidade de São Paulo fecharam um acordo para reposição salarial de dias descontados em paralisações prévias. Nossa própria greve de 2013 inclui abono parcial de dias parados.

Um acordo que inclua ataques a um setor da categoria é inaceitável

Uma das alterações no ACT que a empresa mantém nesta nova proposta é a redução de salário “voluntária” no horário administrativo flexível de unidades administrativas. Sabemos como os gestores da empresa impõe sua vontade de forma “voluntária” praticando todo tipo de assédio moral. Esta proposta reduz o salário dos trabalhadores nesta condição em 25% em troca de reduzir suas jornadas de trabalho em 2horas.

Com a desculpa de cortar gastos, de uma crise oriunda de roubos que nos não fizemos, querem descarregar este “ajuste” nas costas destes trabalhadores. Hoje são eles, amanhã serão os administrativos de unidades industriais, depois a manutenção, depois a operação. Onde passa um boi passa uma boiada.

A todos trabalhadores, particularmente os de regime de turno, que são obrigados a realizar horas extras devido a imensa falta de pessoal a empresa mantém uma mesa “para estudar” o que fazer das horas-extras. Ou seja, quer enganar, desmobilizar e cortar, como já fez com as horas-extras de feriados para quem está em turno.
O turno não pode aceitar o ataque ao administrativo nem aqueles que não fazem horas-extras aceitar o ataque aqueles que são obrigados a fazerem muitas (como é o caso do turno em vários locais).

Comissões para analisar a privatização não obrigam a Petrobras, nem Dilma, a pararem de privatizar

Uma das “conquistas” da greve comemorada pela FUP todo o dia de hoje foi a constituição de uma comissão paritária entre a empresa e sindicatos para analisar os “desinvestimentos” e emitir um parecer em 60 dias. Esta proposta é uma enganação da empresa junto a FUP. Supondo que tal comitê de fato se reúna, o que não é uma prática comum da Petrobras, que ele de fato chega a um relatório e não dois nada obriga ele a ser cumprido.

Em meio as negociações, nas vésperas da greve a Petrobras vendeu 49% da Gaspetro. Porque pararia? Por que existe um “grupo de trabalho”? Esta proposta é ainda mais enganosa pois trata-se de uma trégua unilateral, só os trabalhadores parariam. Nada consta na proposta de acordo que a empresa é obrigada a parar de “desinvestir” enquanto o tal grupo se reúna, porém nós sairiamos da greve. Para ser uma trégua tem que ser dois dois lados, e cabe refletir se no auge de duas semanas de greve cabe recuar nesta proposta agora.

Se somam ao questionamento desta “conquista” que não podemos confiar que sejam os sindicatos da FUP ou mesmo qualquer dirigente sindical que possa negociar e decidir o que é “vendável” ou não. O patrimônio da nação frente as empresas imperialistas é inalienável.

Nós petroleiros precisamos zelar por ele e arrancar das mãos de empresários, indicados políticos, burocratas, para colocá-lo a serviço de toda a população. Se fo aprovado este recuo e “tregua”, que tudo indica que a FUP aceitará esta cláusula, é preciso exigir que nada seja aprovado em tal comissão sem ser referendado em assembléias de base, e nelas seguirmos a bandeira desta greve, “nenhuma privatização”, não o estudo do que é aceitável e do que não é.

Podemos vencer, podemos nos preparar melhor superando os obstáculos da empresa e da burocracia sindical governista

Podemos conquistar a manutenção de todos nossos direitos, podemos derrotar a privatização da empresa.
Para isto é preciso tomar, urgentemente, em nossas mãos o rumo da greve. Construir verdadeiros comandos locais de greve, que debatam e deliberem. Eleger um comando nacional que tenha representantes de cada base do país e nele participem sindicalistas tanto da FUP como FNP. Somente unida a categoria pode derrotar a privatização.

Se a greve continuar esta proposta deveria ser implementada urgentemente. Pode ser que a FUP junto a maioria da categoria decida rumar a uma “trégua”. Não seria o melhor neste momento, sem estas garantias de não punição, de não retirada de direitos e de conquistas mais firmes na luta contra a privatização. No entanto, se isso ocorrer, precisamos usar este tempo não como um tempo de trabalho normal mas de organização dos petroleiros.

Não podemos perder tempo. Querem vender a maior empresa do país. Dilma e o PT estão vendendo a Petrobras, e silenciosamente o PMDB e PSDB aplaudem por compartilhar do mesmo projeto. Se o governo Dilma parar alguns dias na privatização é para voltar com gana redobrada daqui a pouco. Usemos este tempo a nosso favor. Nos organizemos pela base superando os limites dos sindicalistas governistas e eternos (que nem mais sabem operar suas unidades). Nossa união e organização democrática e pela base é nossa maior arma.

A força de nossa greve foi a maior possível que as direções sindicais permitiram, sejam os governistas da FUP que não queriam entrar nesta greve e também os limites da atuação da FNP, que juntos não permitiram que dialogassemos com a população, buscassemos ativamente apoio de outras categorias para a grande batalha contra a privatização, e para dar um basta a que estes recursos de toda a nação sejam usados em corrupção ou para entrega às multinacionais.

Com a força de uma categoria que com suas greves conquistou o 13º salário para todo o país, garantiu junto a outras categorias que existisse regime de turno na CLT, e se enfrentou com a terra arrasada da privatização tucana e conseguiu parcialmente impedir este desmonte, podemos ser vitoriosos.

Num momento em que os diversos escândalos de corrupção são usados pela direita pra tentar desmoralizar a empresa e acelerar a privatização e entrega ao imperialismo, uma tarefa fundamental é defender uma Petrobras 100% estatal, com administração democrática dos próprios trabalhadores. Mas para isto faz falta construir uma forte agrupação sindical que atue tanto nas bases da FUP como da FNP para derrotar o governismo e superar os limites de uma atuação sindical que não está à altura do desafio que nos está colocado.

Contato whatsapp Leandro Lanfredi, petroleiro de Duque de Caxias e do conselho editorial do Esquerda Diário: +55 21 98174-9097




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