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LUTA SECUNDARISTAS | O que temos pra aprender com as mobilizações dos estudantes secundaristas

quinta-feira 26 de novembro de 2015 | 02:52

2015 está sendo o ano em que a educação pública foi atacada pelos governos por conta da crise econômica que está passando o país. Enquanto os bancos e os grandes empresários estão lucrando bilhões a cada mês e os deputados e secretários aumentam os próprios salários, estamos vendo uma ofensiva por parte do governo federal mas também por parte dos governos estaduais contra todas as esferas públicas da educação.

No Estado de São Paulo vimos Geraldo Alckmin no início do ano realizar o primeiro corte na rede estadual que resultou num fechamento de 3000 salas, demissões de 21 mil professores e corte em material básico como papel higiênico e giz. Contra estas medidas adotadas pelo o governo do Estado de São Paulo, os professores declararam o que iria ser a maior greve que a categoria já tinha feito na sua história de luta.

Por conta das inúmeras traições que a CUT realizou na categoria dos professores, como a greve de 2013 em que a Bebel à revelia dos professores acabou com a greve, 2015 a luta começou com um forte rechaço à burocracia sindical. A oposição não sabendo aproveitar este espaço político que se abriu, a burocracia com o objetivo de se localizar novamente na categoria resolveu ter uma postura diferente para poder derrotar a luta dos professores.

Ao invés da burocracia não levar a luta até o final como ela sempre fez, para conseguir derrotar a greve dos professores desta vez a chapa 1 ligada à CUT e CTB resolveu desgastar esta ultima paralisação. Para além de não preparar a greve, não organizar um fundo de greve que desse para manter os lutadores durante a luta, não unificar as lutas em percurso, um elemento importante que tem que ser destacado é que em grande parte da greve a Articulação resolveu manter a categoria numa profunda passividade, não realizando nenhuma atividade que pudesse organizar os professores com intuito de fortalecer a greve.

Seguindo a onda de ataques contra a educação, Alckmin declarou que reorganizará os ciclos e fechará mais de 90 escolas na rede. Em resposta a estes ataques estamos vendo inúmeros atos contra o fechamento das escolas, vídeos de protesto e agora realizando mais de 150 ocupações nas escolas estaduais de São Paulo. Estas mobilizações conseguiram fazer com que o governo de SP, considerado por muitos depois da greve de 2015 impossível de derrotar, ficasse na defensiva.

A conclusão que temos que tirar desta luta em percurso dos estudantes é que os professores, ao contrário do que dizem, não conseguiram derrotar porque trata-se de uma categoria fraca. Ao contrário da direção majoritária do nosso sindicato ligada ao PT e o governo federal, os estudantes que estão em luta contra a reorganização escolar é uma geração que não tem nenhuma ilusão com nenhum governo, pois é a juventude que está sendo afetada pelo ajuste fiscal, os cortes e as demissões.

Mesmo com as contradições que setores autonomistas impõem ao movimento, como a separação entre os professores e os alunos, o sentimento que o governo federal e o governo estadual não servem porque ambos atacam e retiram nossos direitos faz com que estes sejam consequentes na luta. A burocracia da CUT desgastou a greve dos professores para desorganizá-los, para que estes não se mobilizem tão cedo, pois o PT e o PSDB estão juntos contra os trabalhadores.

Outro elemento que a burocracia não fez durante nesta greve foi organizar a categoria para lutar contra o governo. Para dizer que se fez alguma coisa na greve, a burocracia organizou uma semana com ações como fechamento de rodovias no Estado pra dizer que está fazendo contra o governo. Os estudantes nestes dois meses em que estão em luta, promoveram importantes manifestações no Estado de São Paulo, atividades culturais e políticas pra manter as ocupações de escolas.

Ao contrário da direção majoritária do nosso sindicato que não organiza fundo de greve contra um governo que tem a prática ilegal de cortar ponto de grevista, os estudantes estão se organizando e publicando nas redes sociais pedindo alimentos, produtos de limpeza para manter as ocupações. Muitos dos professores não fizeram a greve inteira devido ao corte de ponto e ausência do fundo de greve.

O problema da nossa greve ter sido derrotada não foi nós professores, pois se os estudantes ocupam as escolas nós temos capacidade de paralisar a rede de ensino. Se a luta dos estudantes conseguiu furar o bloqueio da mídia, diferente da greve dos professores, é de um lado porque eles tiveram algumas práticas distintas para poder enfrentar um governo que hoje buscar dar exemplos para a burguesia de como se deve atuar contra os trabalhadores.

Se de um lado o movimento secundarista demonstrou ter seus avanços e exemplos para nós professores, de outro lado existe inúmeras debilidades no movimento que precisa avançar. Num momento em que as aulas estão no seu término, devido às pressões autonomistas de grupos que estão dentro das mobilizações de secundaristas, ainda não existe uma direção de delegados eleitos pela base que possa segurar o movimento pro ano que vem e decidir quais são os próximos passos que os estudantes tem que seguir. Não ter uma direção abre espaço para que a UBES e outras entidades do governo negociem nas costas do movimento e preparem a sua derrota.

Outro fator elementar é que o movimento de secundaristas hoje precisa ir além da luta contra a reorganização escolar. É preciso se ligar aos professores e demais trabalhadores da educação que também estão sendo fortemente atacados pelo governo, levantando suas reivindicações, mas também aproveitar este clamor popular favorável aos estudantes e lutar por uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos.

Apesar de suas debilidades, este é o primeiro movimento que ocorre por fora da burocracia da APEOESP, onde tem muito a ensinar aos professores. Pra isso é preciso expulsar a burocracia da CUT/CTB da APEOESP, pois estão ligadas ao PT e ao governo federal, o mesmo governo que está junto com o Alckmin para implementar os ataques contra os trabalhadores e a juventude. A APEOESP não pode estar nas mãos daqueles que estão aliados com Mercadante, que solta declaração pública dizendo que a reorganização é recomendável, mas sim nas mãos dos professores colocando a entidade no caminho da luta.




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