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SÃO PAULO | O que significa o passe livre do Alckmin?

Nessa quarta feira o governo do Estado de São Paulo anunciou a aprovação do passe livre para alunos da rede pública no metrô, trem CPTM e no ônibus EMTU, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Baixada Santista, Campinas e Vale do Paraíba/Litoral Norte. Estima-se que cerca de 615 mil jovens terão acesso ao programa. Para os alunos da rede privada o programa atenderá quem comprovar uma renda per capita de até 1,5 salário mínimo.

Isabel Inês São Paulo

sexta-feira 20 de fevereiro de 2015 | 21:10

Depois das manifestações de junho, da repressão truculenta do governo, o que significa essa medida que deve beneficiar centenas de jovens? Alckmin teria mudado suas posições? Nesse caso também o buraco é mais embaixo. Sem negar que factualmente a vida dos estudantes deve se impactar ao não terem que pagar os altos custos ao andar de ônibus, bem como a renda familiar média, com 2 ou 3 filhos, vai ter uma economia considerável num ano onde a inflação e o aumento dos preços vem comendo os salários, essa medida é também uma via de aliviar a insatisfação popular e principalmente da juventude que explodiu em 2013, e ainda que com refluxo, manteve um setor de milhares que em 2014 e no começo de 2015 continuou saindo às ruas.

Essa medida tenta, a partir de uma concessão, relegitimar o governo como possível garantidor das demandas sociais, ou seja, aproximar os anseios da população a uma saída por dentro do estado burguês, pegando um dos centros do desgaste aberto em junho, que foi a demanda dos transportes. Além disso, o governo usa dessa medida para se anteceder a novos possíveis levantes frente à falta da água, que apesar das chuvas de fevereiro terem aliviado as represas que estão com 9,5% da sua capacidade, adiando o racionamento. E claro que não resolve uma crise estrutural, o nível continua muito baixo, para passar o ano com relativa tranqüilidade frente ao período seco do inverno, a represa deveria chegar ao mínimo de 30% da sua capacidade.

Ou seja, com a queda de 10 pontos na sua popularidade no começo de fevereiro, principalmente por conta da crise hídrica, o governo vem tendo que usar de outras medidas para reganhar popularidade. Entra bem aí o passe livre, que ainda teremos que esperar e ver se vai ter um impacto positivo para o governo, já que os cortes econômicos e a crise d’água não se resolvem.

O último absurdo que mostra mais uma contradição, é que o governo Alckmin usou como principal discurso do passe livre para estudantes o incentivo a educação, facilitado o acesso as escolas e assim ao ensino. O que não diz, contudo, é que há algumas semanas o próprio anunciou a demissão de mais de 20 mil professores, fechou salas para diminuir os professores enquanto superlotou as salas remanescentes, chegando a casos de 90 alunos na classe, prevendo já a redução do ano letivo pela falta de água nas escolas. Em condições tão precárias a troca de conhecimento já é praticamente impossível. Esse discurso demagógico não é mais do que uma tentativa de esconder um dos governos que mais está atacando a educação.

Por mais que apague dos seus discursos, para os jovens e os trabalhadores, trata-se de um triunfo das mobilizações, melhora a condição dos estudantes e temos que defender esse direito, que foi fruto incontestável das manifestações de junho de 2013 e dos atos contra o aumento da passagem até 2015. De forma alguma Alckmin pode aparecer como o “garantidor” desta medida (que poderá remover quando as circunstâncias permitirem, e que não responde aos problemas de desempregados, trabalhadores e diversos setores da população, já que mantém o transporte nas mãos das máfias).

Sabendo que um dos setores mais mobilizados nas manifestações foi a juventude, é uma forma de beneficiando-a, dividi-la dos trabalhadores e da população pobre, que continuará pagando. Segundo o governo o aumento no começo do ano gerou uma receita 15% maior, o que possibilitou margem para o passe livre estudantil, ou seja, é uma medida que mantém totalmente os lucros das máfias do transporte, joga o ônus para a população, e ainda mantém um subsidio de 1,4 bilhões do estado, dinheiro publico que deveria garantir transporte de qualidade para toda a população, vai para o bolso dos empresários.

Da mesma forma que deu essa concessão após o refluxo das manifestações, foi o governo que conscientemente atuou para isolar os setores mais radicalizados e a vanguarda das manifestações a partir de repressão dura, e da discriminação ideológica, taxando os jovens de vândalos.

É preciso esperar e ver como "as ruas" responderão a essa medida, mas frente a um ano com tamanhos cortes orçamentários, crise d’água e luz, desemprego e aumento do custo de vida, não podemos esperar nada muito tranqüilo, pelo contrário, a juventude aprendeu com junho que é possível ir por mais na luta. Ainda que tente se apoiar no refluxo conjuntural, não consegue mudar a situação de insatisfação e luta por mudanças aberta em junho. Assim medidas como essa, futuramente podem ser usada como alavanca para novos levantes, que desde agora devem levantar "nenhum direito a menos".




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