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PROFESSORES E ESTUDANTES | O que o secretário da Educação de SP quer ao dizer que os estudantes devem estar contra os professores?

Danilo ParisEditor de política nacional e professor de Sociologia

quinta-feira 15 de outubro de 2015 | 01:59

Em declaração vinculada pela Folha de São Paulo o secretário de educação Herman Voorwald, questionado sobre as dezenas de atos que os estudantes vêm fazendo estado a fora contra sua proposta de “reorganização escolar”, incitou os estudantes a protestarem contra... seus professores.

É incrível acreditar na afirmação do secretário, mas do alto de seu gabinete ganhando mais de 20 mil reais e sendo aquele que quer fechar centenas de escolas, ele disse é que são os que vivem a dura realidade do cotidiano escolar, os professores, os responsáveis pelo desmonte da educação pública, e que é contra esses que os estudantes devem protestar.

Mas por que nesse momento, com a greve de professores já findada há mais de quatro meses, o secretário da educação destila novamente seu ódio contra os professores, querendo transformá-los em inimigos dos alunos? Em realidade, por trás do seu discurso de ódio, o secretário esconde um grande medo. Medo da possibilidade que alunos e professores se unifiquem nas ruas contra seu projeto de fechamento de escolas.

Desde que sua proposta de “reorganização escolar” foi anunciada, milhares de alunos saíram às ruas para protestar, fenômeno já denominado inclusive por vários veículos de mídia de “levante secundarista”. São os estudantes que tomaram o protagonismo, paralisando escolas inteiras para sair em manifestação, o que tem gerado ampla repercussão na imprensa e na sociedade, e ao que parece, começa a incomodar muito a alta cúpula do governo do estado. Por isso, nos parece ridícula a afirmação de que o secretário “não tem nada contra que aluno proteste", uma demagogia que leva Herman ao mais alto grau de cinismo e mentira que se possa imaginar.

Contraditoriamente, os professores ainda estão na retaguarda do chamado “levante secundarista”. Alguns fatores explicam isso, em especial o desgaste da greve de 92 dias e o papel, ou a sua ausência dele, desempenhado até agora pela direção da APEOESP (sindicato dos professores) que chamou o primeiro ato somente um mês depois do anúncio dos ataques. Essa direção composta pelo PT e PCdoB é forçada a chamar essa manifestação empurrada pela força dos atos dos secundaristas. Vergonhosamente precisam tomar alguma ação, pois perderiam ainda mais a autoridade já questionada entre os professores. Chegaram “retardatários” não por falta de habilidade política, mas por que defendem o governo federal que também é responsável por ataques nefastos à educação, desde os bilhões cortados do orçamento até políticas muito semelhantes ao PSDB de fechamento de escolas pela prefeitura do PCdoB em Contagem-BH.

Herman sabe que as manifestações dos alunos são uma injeção de ânimo para os professores novamente se colocarem em movimento e que caso isso ocorrerá, a força social e política que se geraria seria capaz de obrigá-lo a retroceder em seu projeto. As palavras do secretário devem soar como um desafio: provar nas ruas quem são os aliados e quem são os inimigos da educação pública em São Paulo.




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