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ESCOLA SEM PARTIDO | O que o Escola sem Partido me diz enquanto futura professora?

Eu, desde quando entrei na universidade penso em uma coisa: quando puder estar na sala de aula, poderei conversar e passar um pouco do que eu passo meus dias aprendendo para essa molecada tão viva, tão animada, tão cheia de expectativa, ou mesmo sem alguma pela dura realidade em que estão colocados.

quarta-feira 30 de agosto de 2017 | Edição do dia

Nos ricos momentos que pude ter na escola, pude perceber umas coisas, desde PIBID, aos estágios, aos convites para participar de atividades, pude perceber que essa molecada tem muita personalidade e opinião. E, com isso, me dá raiva de quem fala o contrário na verdade. Quem subestima essa galerinha que mostra muito bem para que veio, se expressa, se organiza, mostra o objetivo e opinião.
Dentro disso, me vejo olhando para um projeto que fala em doutrinação dentro da escola. Me sinto brava, me sinto com vontade de conversar com os que dizem isso e colocar para eles, vocês já pisaram nas escolas para poder dizer que os alunos são massa de manobra para os professores? Me coloco em uma posição de refletir profundamente isso.

Fora isso, do que significa esse menosprezo aos feitos, ao pensamento dos estudantes, ao ler o projeto vou me deparando com um conjunto de absurdos. Nisso, paro seriamente para pensar o que tudo isso me coloca enquanto futura professora.

Fico pensando que todos que pretendem dar aula, ficam pensando o quanto podemos ser inovadores, o quanto podemos discutir coisas que nossos professores não discutiram conosco. Acho que toda mulher que sofre diariamente com os assédios, com as piores condições de trabalho quer poder explicar e falar o porque morrem tantas mulheres no Brasil vítimas de violência doméstica, assassinadas pelos seus companheiros. E olhando para esse projeto me tiram essa possibilidade, me silenciam.

O tenente Santini me silencia, ou tenta ao menos, na minha futura sala de aula, quando propõe algo assim. Quando um menino dentro da minha sala passar a mão em uma menina, como vivi em uma experiência de estágio, eu vou ter que ficar quieta? O governo e o Estado querem isso a todo momento, mas enquanto futura educadora consciente do sistema de exploração em que vivo, não me calarei! Ao contrário, estarei sendo linha de frente, junto com os meus colegas da licenciatura, futuros professores, com os estudantes, que também serão calados, com meus futuros colegas, com toda a comunidade que também vê como esse projeto é uma CENSURA que não pode ser admitida de forma alguma.

Fiquei pensando, temos um projeto de ataques que estão sendo colocados a todo momento, não sei se vou conseguir ensinar sociologia e caso consiga não poderei discutir com meus alunos esse projeto de educação? Sem o escola sem partido, as direções já cerceiam nosso direito de ensinar, cerceiam o que vamos discutir e ainda assim se alega uma doutrinação ideológica a esquerda? E querem censurar? Como eu não posso dar a minha opinião sobre um assunto, não vou poder falar do que participo de forma honesta e dar a minha opinião. Desonesto seria caso eu, trocasse a participação deles por nota, mas nunca seria o caso.

Outra coisa que me veio à cabeça é o papel que a família teria em opinar nos conteúdos lecionados, nada mais absurdo. Isso mesmo, sabemos que o mundo em que vivemos é permeado por contradições profundas, e que as famílias para diversos jovens são os espaços em que são menos compreendidos. As mulheres em muitas famílias têm papéis servis, são violentadas pelos seus tios, irmãos, pais e nada disso é comentado, e ela sequer é defendida frente a enorme violência pelo que passou. Diversos LGBTS são expulsos pelas suas famílias por serem vistos como aberrações, e nesse meio, não podemos ser ingênuos e não falar no papel que algumas igrejas cumprem em disseminar este pensamento.

A ideologia de gênero, que eles querem nos convencer de que existe, aparece em diversas religiões, e pensar a liberdade religiosa e o ensino religioso em casa, é também dizer que o professor não pode combater ideias criminosas, é dizer que eu não posso falar sobre uma ideologia que me ameaça diariamente enquanto mulher e futura professora. É pensar no que siginificam as professoras que são agredidas hoje na sala por expressar a sua convicção contrária a isso. Por dizer que a ideologia que eles pregam mata diariamente.

Nisso fico pensando outra coisa, se um pai acreditar que o mundo foi criado por deus, o ensino da teoria da evolução já sai do terreno. São tantas as coisas que ficam pela decisão dos pais, pelas suas crenças, e a escola não se torna um local de livre pensamento, um local em que os mais diversas linhas de pensamento e debate se expressem, Eles querem nos dizer que vai ser isso, mas sabemos que não será. Vemos quando eles dizem que o projeto é contra a esquerda, é contra o ensino que questiona, que quer romper com as relações de opressão.

Por isso, penso que enquanto futura professora, é um papel se colocar contra os reacionários que nos deixam com tanto na cabeça, é irmos para cima dos reacionários, quando fomos em 2015 e barramos a Emenda que proibia o debate de gênero e sexualidade nas escolas. É olhar para gente, e tomar nas mãos o nosso papel enquanto educadora, tomar a luta para que as nossas escolas sejam livres, para que as escolas estudem o que os alunos querem, que pensemos alto, que sonhemos com o impossível.




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