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ENSINO SUPERIOR | O projeto de universidade que nós queremos

Qual é a universidade que nós queremos? Quem somos "nós"? E quem são "eles"? Durante as greves nas estaduais paulistas ficou muito evidente esse antagonismo que levou até organizações externas às universidades, como o Movimento Brasil Livre e os integralistas, a se manifestarem contra o movimento grevista e contra os grevistas como indivíduos, com discursos de ódio e ameaças diretas.

terça-feira 13 de setembro de 2016 | Edição do dia

Nós, que nos mobilizamos para construir a greve e permanecemos mobilizados após seu final, lutamos por uma universidade mais inclusiva e acessível, queremos que a universidade pública possa de fato servir ao povo e não à elite. Lutamos pela implementação das cotas étnico-raciais na graduação, pois a Unicamp e a USP estão entre as poucas universidades do país que não têm cotas - as federais implementaram em 2012. Algumas unidades da Unicamp aprovaram as cotas na pós-graduação: o IFCH foi o primeiro instituto e em consequência passou a sofrer com ataques racistas na forma de pichações que dizem, por exemplo "Aqui não é senzala, tirem os pretos da Unicamp".

Os comentários feitos contra estudantes grevistas em páginas de Facebook são todos nesse nível. A estratégia das páginas ditas "livres", conservadoras ou reaças é expor as pessoas com gravações e fotos, sem se importar com os comentários cheios de ódio de seus seguidores. Querem nos calar pelo medo. Embora muitos até digam que apoiam as pautas, mas não apoiam os métodos, a única manifestação desses grupos é ser contra a greve e lutar para que grevistam sofram punições. Até docentes se manifestaram incitando os ataques. Não há nenhum interesse pela luta por permanência estudantil, por ampliação da moradia, pra barrar os cortes de milhões no orçamento. Fica evidente que o interesse é pela manutenção da universidade como está, elitista e pouco inclusiva.

Antes da greve de 2016 eu não tinha consciência do quanto a universidade pública está ameaçada. Muitos professores defendem a privatização, começando pela pós-graduação e pela cobrança de mensalidade de estudantes de graduação que "tenham condições de pagar". Os cortes no orçamento e consequente processo de sucateamento das universidades estão ligados a esse projeto de privatização do ensino, além do apoio da grande mídia, que publica editoriais dizendo que o "injusto ensino superior gratuito" não tem condições de ser mantido em tempos de crise.

Na contramão das intenções do governo golpista e de seus apoiadores, que são privatizar todo o possível, nós lutamos por um projeto de universidade mais acessível. Por isso sofremos tanta repressão dos setores conservadores e da mídia, com docentes abertamente pedindo intervenção policial dentro da universidade. Nós queremos que a população pobre, negra, da periferia chegue ao ensino superior. A representatividade importa para que tenhamos uma verdadeira pluralidade de pensamentos e visões de mundo dentro da universidade. Senão continuaremos com a classe média-alta discutindo sobre a periferia sem nunca ter vivido essa realidade, continuaremos com docentes preparando estudantes de licenciatura para atuarem na rede pública sem nunca terem vivenciado essa atuação.

Diante do cenário atual com um golpe institucional, o fortalecimento da direita reacionária, os cortes e consequentes projetos de privatização, a luta pela universidade pública de qualidade se faz cada dia mais urgente e necessária.




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