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O movimento estudantil numa encruzilhada

André BofSão Paulo

terça-feira 19 de maio de 2015 | 01:26

Nós vivemos um novo momento da Educação no país.

A crise da educação, conseqüência direta da crise econômica, tem encontrado como única solução, por parte dos Governos e partidos capitalistas, o corte de direitos e ataques aos estudantes e trabalhadores.

É assim que PT e PSDB, supostamente rivais, se unificam para cortar o seguro-desemprego e pensões com as MP’s (medidas provisórias) 664 e 665 e para cortar 7 bilhões do orçamento da Educação, por volta de 30% de verbas paras as Universidades públicas federais, metade das verbas para o FIES (2,5bilhões a menos) e endividar milhões, abrindo espaço para a privatização do que ainda é público .

Na chamada “Pátria educadora”, a educação que deveria ser prioridade sofre os maiores cortes e se torna, por um lado, objeto de privatização e, por outro, de cortes e elitização baseada no “mérito” .

Este momento não pode passar sem deixar marcas profundas no equilíbrio frágil do “modelo” do período que chamamos de “lulismo”- que vai de 2002 ao atual mandato de Dilma-, o qual, com todas as debilidades atuais, segue buscando apoio através da idéia de “ascensão social” e “garantia de direitos”.
Estes dois pilares, no que diz respeito a educação, chegam a seus limites.

E os estudantes até agora?

Definir os fenômenos que percorrem os estudantes e a juventude é uma tarefa, devido a que são um corpo “heterogêneo” e “variável”, muito difícil.

Apesar desta dificuldade, podemos destacar, nos últimos anos, um fenômeno de insatisfação crescente entre os estudantes e jovens que, se em junho de 2013 se expressou numa “onda” de massas, pode, diantedecepção de milhões com as promessas dos Governos de PT, voltar a explodir nacionalmente.

Em 2013, com a luta das passagens e o movimento por “direitos”, os estudantes e jovens saíram as ruas e, após a conquista da queda do aumento das passagens, sofreram a “carga pesada” de ataques e contragolpes dos governos.
É aí, iniciando-se em junho e seguindo até a o final da Copa de 2014, que começa a ganhar forma mais expressiva o fenômeno do “autonomismo”, que encontrava nos “Black Blocs” e na ação direta sua expressão mais clara.

Ao serem golpeados pelo discurso “antivandalismo” cotidianos da mídia e governos, o autonomismo, como “espírito”, e a tática Black bloc, como “corpo”, chegaram ao seu limite se esvaziando como alternativa real; isto, ao menos como saída para “milhões” de jovens.

O movimento seguinte foi reverso: Se antes primou o autonomismo e a “ação direta”, após a Copa, foi nas eleições que a Juventude e os estudantes expressaram sua insatisfação.

Por um lado, milhões de jovens e estudantes que se decepcionaram com o PT, mas não tiveram a experiência com outros governos, foram levados a ilusão de que PSDB seria uma alternativa a seus interesses e, por outro, milhões de jovens apoiaram ao PT acreditando na promessa de “garantia de direitos” ou preferindo o “mal menor”.

Entre estes dois casos, que já expressam a desconfiança nos partidos e a “crise de representatividade” na juventude, há um fenômeno que expressa mais agudamente a insatisfação e que marcou o país: porcentagens acima dos 20% e milhões de votos nulos e de abstenções em todo o país, sendo que em eleições como a do RJ estes foram os “campeões” da eleição.

A expressão de abstenção e anulação eleitoral “massiva” e o fenômeno do autonomismo, inicialmente expresso, possuem uma coisa em comum: mostram que a ferida da insatisfação e busca por “mudanças”, criada por junho está aberta e só se abre mais.
E frente a ela, onde estão instrumentos cirúrgicos da esquerda e do Movimento estudantil?

Estagnação do Movimento estudantil pós-2007

Para garantir as promessas de “ascensão social e garantia de direitos”, os governos de PT tiveram de controlar os movimentos e entidades como MST, CUT e, dentre eles a UNE (União nacional dos Estudantes).

Esta última, dirigida pela UJS, a juventude do PCdoB, em sua área foi responsável por controlar e manter longe das críticas ao governo milhões de jovens e permitir diversos ataques e projetos privatistas na educação.
Com congressos de “fachada”, eleições fraudadas e milhões recebidos do Governo, a UNE funciona e funcionou como uma agência de assuntos estudantis do Governo, sempre pronta a trair os estudantes.

Assim, os governos PTistas impuseram programas como FIES e PROUNI que, se por um lado são , hoje, a única via para milhões de jovens estudarem, na realidade, serviram para criar grandes tubarões do ensino privado ao invés de garantir educação gratuita para a Juventude. Os 30 bilhões dados desde 2010 a empresas do ensino teriam criado milhares de vagas em universidades públicas.

Ainda que contasse com uma entidade burocratizada durante grande parte dos anos 2000, o movimento estudantil viu um “renascer”: a luta contra os decretos do PSDB e Serra às estaduais paulistas inauguraram um novo momento, que, com ocupações de Reitoria e grandes atos, se espalhou pelo estado de SP e colocou o Movimento estudantil (ME) como “ator político nacional”, contagiando novos movimentos que se seguiram, como as greves seguintes na USP e greves de porte nacional, como a das federais de 2012.

Foi esperando dar uma “alternativa” e confluir com 2007 que PSTU funda a ANEL (Assembléia nacional dos Estudantes - Livre) em 2009, com o objetivo de ser uma alternativa antigovernista a UNE.

Neste debate, divisões se impuseram e uma parte do movimento estudantil ligada ao PSOL decidiu se manter na UNE e seguir com a política de “oposição de esquerda”, que, no fundamental é um “bloco” das juventude ligadas ao PSOL.

De lá para cá, nos últimos 5 ou 6 anos, tais agrupamentos tem tido a mesma política, atuando nas Universidades Públicas, com “tradição” de movimento estudantil, como as estaduais paulistas e algumas federais, isolados em suas “bolhas ideológicas”.

A ANEL, dirigida pelo PSTU, se estagna há no mínimo 5 anos, reunindo de 1500 a 2000 pessoas em seus congressos, tendo como grande objetivo político atrair o PSOL; a “Oposição de esquerda” de PSOL, segue legitimando os congressos fraudados da UNE, esperando conseguir, para a mesma política de anos, resultados distintos e abandonando qualquer política como “oposição da UNE” quando não existem congressos.
Ambos, PSOL e PSTU, em sua política desde 2007, buscam apenas a “autoconstrução” de seus grupos, estagnada dentro das “bolhas ideológicas” do movimento estudantil das universidades públicas.

Dentro da equação, apenas um ator, o principal, faltou: os 75% de mais de 7,3 milhões de universitários, que estão nas universidades privadas buscando “direitos” e “ascensão social”.

Estes jovens, em sua maioria trabalhadores, não só não tem nenhuma referência no movimento estudantil, como, diante da maior crise da história do maior programa educacional do Governo - o FIES- não encontraram nenhum ponto de apoio em ANEL ou “‘oposição de esquerda da UNE”; apenas a velha UNE, que apóia a política do Governo e, como saída, medidas e ações judiciais isoladas.

A calamidade política de PSOL e PSTU, a frente das entidades mencionadas, é não ter, há no mínimo 8 anos, nenhuma política e nenhum exemplo de luta que pudesse construir uma ponte entre o movimento estudantil e a massa de jovens nas Universidades privadas que hoje, como nunca, começa a se indignar buscar formas de lutar.

Esta combinação de fatores levou o ME a deixar de ser um sujeito político decisivo e, de forma decisiva, questiona o “modelo” de movimento após 2007, abrindo caminho para uma reorganização dos estudantes.

Neste cenário e com sua política, PSOL e PSTU não demonstram, apesar de poder continuar construindo seus agrupamentos “da forma e nos lugares de sempre”, chances reais de “confluir” com esta insatisfação.

Uma saída para a encruzilhada

Uma massa de jovens enfurecidos com o governo e suas promessas, distantes das “bolhas ideológicas” do ME tradicional e desconfiados de qualquer partido que busque os representar, deseja uma alternativa para responder a seus interesses. Anteontem foram os Black blocs, ontem os votos nulos e abstenções...

Esta combinação de variáveis é uma formula explosiva que demanda atenção de todo militante. Deveria despertar nas juventudes de ANEL e “Oposição de Esquerda da UNE” a maior das inquietações: Como romper a barreira entre o ME e os milhões nas universidades pagas? Com que propostas? Que ações serão possíveis em comum? Que inimigos e como enfrentá-los?

Infelizmente, para as direções de PSOL e PSTU, seu planos de anos não podem ser assim tão facilmente questionados, mesmo se for a realidade que o faça.

Ainda assim, há uma chance de construir uma saída da encruzilhada: Neste mês de Junho, os congressos de ANEL e UNE se realizarão. Esta é uma oportunidade única de, diante da maior crise em anos na educação, ajudar a alterar o rumo de isolamento e “autosatisfação” do Movimento estudantil e construir uma alternativa para a juventude que deseja um futuro.

Uma nova política rumo as massas dos estudantes nas universidades pagas, contra os cortes dos Governos Dilma e estaduais, lutando por suas demandas mais sentidas e em defesa de uma educação gratuita para todos, combatendo PT e PCdoB no ME, buscando que ambos os congressos estejam a serviço desta política e construam um Encontro Nacional de Estudantes, das públicas e privadas, que prepare a mobilização, atos, ações, debates, cortes de rua, mirando uma greve nacional.

Para nós é esta a melhor forma de apaixonadamente disputar a consciência da maioria dos estudantes e fazer diferença na vida nacional, em defesa dos interesses da maioria da população.

Assim, criaríamos um ponto de apoio para, ao lado dos trabalhadores que lutam contra a terceirização e os cortes do governo e os 7 milhões de jovens que nem estudam, nem trabalham no Brasil, criar uma “terceira via” que nos dê direito a um futuro e uma saída a crise que nos impõe.

Com a palavra, os estudantes:




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