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SÍRIA | O massacre de Aleppo: temendo os estupros famílias pedem autorização para matarem suas filhas

Simone IshibashiRio de Janeiro

quarta-feira 14 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Imagem: CRC VIA AP

O drama da população síria se aprofunda. Após terem sido obrigados a imigrarem por conta da sangrenta guerra civil que assola o país, e protagonizarem algumas das cenas mais chocantes dos últimos tempos, como a do corpo do menino Alan Kurdi boiando em praias turcas, agora os sírios estão sendo alvo de um novo massacre. Al Assad havia anunciado uma trégua para os civis se retirarem de Aleppo, na Síria, cujo controle o regime está recuperando com o apoio de milícias libanesas e iranianas.

O pacto de cessar fogo negociado com a Rússia e a Turquia, no entanto, não durou 12 horas. Assad quer impor uma derrota exemplar aos opositores de Aleppo, e para isso não está economizando em derramamento de sangue, e especialmente das mulheres, de acordo com várias notas publicadas nos meios internacionais.

Já se sabe que as forças de Assad mataram pelo menos 80 pessoas na segunda-feira, mas esse número pode ser muito maior.

Nos últimos dois dias vários relatos sob a forma de vídeos com moradores da cidade, jornalistas e mulheres dizendo que aquela poderia ser sua última chance de expressar ao mundo o que está acontecendo em Aleppo inundaram a internet. Outros se despediam de entes queridos, pois tinham a morte como a perspectiva mais provável. E como se isso não bastasse para escancarar mais esse capítulo do massacre sírio, soube-se que várias famílias estão pedindo aos seus líderes religiosos permissão para assassinarem suas filhas, e desse modo evitar a onda de estupro e violência anunciada pelo que restou do exército sírio e milícias aliadas.

O primeiro relato que desatou uma série de outros veio sob a forma de carta de uma enfermeira de Aleppo publicada nas redes sociais. Sem ter a identidade revelada, ou veracidade confirmada, a carta é sucinta e clara.

“Sou uma das mulheres em Aleppo que em breve serão violadas. Não há mais armas ou homens que possam ficar entre nós e os animais que estão prestes a vir, o chamado Exército do país. Eu não quero nada de você. Nem mesmo suas orações. Ainda sou capaz de falar e acho que a minhas orações são mais verdadeiras do que as suas. Tudo o que peço é que não assuma o lugar de Deus e me julgue quando eu me matar. Eu vou me matar e não me importo se você me condenar ao inferno! Estou cometendo suicídio porque não quero que meu corpo seja alguma fonte de prazer para aqueles que sequer ousavam mencionar o nome de Aleppo dias atrás. E quando você ler isso saiba que eu morri pura apesar de toda essa gente”, diz a carta, que estaria endereçada a líderes religiosos.

O jornal O Globo reproduziu um post de Muhammad Al-Yaqoubi, um conhecido líder religioso que fugiu da Síria, que tuitou na terça-feira que estava recebendo consultas de Aleppo, incluindo algumas como: “Pode um homem matar sua mulher ou irmã antes que ela seja estuprada pelas forças de Assad na frente dele?” Essas são demonstrações claras de como a carnificina promovida por Assad, e pelas potências que passaram a atuar em prol de seus interesses na Síria, assumem para as mulheres uma faceta ainda mais brutal. O estupro, os abusos, as torturas físicas e psicológicas são muitas vezes mais temidas que a própria morte. Os estupros de guerra é uma prática que tem como objetivo acabar com a moral de mulheres, humilhando-as a um nível extremo. Mulheres que estão enfrentando as piores privações, o cerco de sua cidade, e uma chuva de bombas há quase cinco anos, quando o levante popular contra Assad se transformou em uma sangrenta guerra civil.

Frente a essa barbárie é preciso abrir as fronteiras imediatamente para que todos os civis tenham possibilidade de saírem com vida de Aleppo, e não entregar nenhuma lista com os seus nomes, como está exigindo Assad.




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