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DIA INTERNACIONAL DOS TRABALHADORES | O internacionalismo ao longo das épocas

O 1° de maio no início tinha um caráter internacionalista, unificando as reivindicações dos trabalhadores diante da brutal exploração de um capitalismo em desenvolvimento (ainda de "livre comércio"), no século XIX.

sábado 30 de abril de 2016 | Edição do dia

No século XIX

O imperialismo britânico e, em menor medida, o francês eram as grandes potências dominantes do mundo. A classe trabalhadora também se desenvolvia conforme o ritmo da industrialização crescente (mais nos países imperialistas, menos nas semicolônias) e começava a entender que tinha de se organizar internacionalmente a fim de enfrentar um sistema mundial. Marx e Engels impulsionaram a fundação da Primeira Internacional (AIT - Associação Internacional dos Trabalhadores), que tirou as lições das revoluções europeias de 1848, nas quais a burguesia e os primeiros trabalhadores desempenharam um papel diferente. Na AIT havia distintas tendências políticas que coincidiam com o objetivo do socialismo, embora divergissem nos métodos e na relação com a burguesia. Para Marx "não é uma questão de reformar a propriedade privada, mas de aboli-la; não de atenuar os antagonismos de classe, mas de abolir as classes; não de melhorar a sociedade existente, mas estabelecer uma nova." (Circular do Comité Central à Liga dos Comunistas, 1850). Na Comuna de Paris, em 1871, com a primeira tomada do poder pelos trabalhadores, aquelas tendências se enfrentaram abertamente, dissolvendo a AIT.

No século XX

"Unindo países e continentes que estão em diferentes estágios de desenvolvimento através de um sistema de dependência e oposição, aproximando esses diversos níveis de desenvolvimento e os contrapondo imediatamente depois, antagonizando implacavelmente todos os países entre si, a economia mundial tornou-se uma realidade poderosa que domina os vários países e continentes. Por si só este fato fundamental confere um caráter profundamente realista à ideia de um partido comunista mundial.” (Trotsky, no livro Stalin, o grande organizador de derrotas). A Segunda Internacional foi fundada quando o capitalismo começava a desenvolver importantes crises econômicas mundiais, o mundo estava dividido, a concentração da economia em grandes monopólios se acelerava e as fronteiras nacionais estabelecidas pelas velhas burguesias impunham um obstáculo ao comércio. Para subordinar os trabalhadores, o imperialismo criou uma camada privilegiada dentro dos movimentos operários, que se refletiam nos socialistas que lutavam apenas para reformar o capitalismo e defendiam o seu imperialismo.

Em sua grande maioria a Segunda Internacional seguiu esse caminho e na Primeira Guerra Mundial (a maior expressão da transformação do capitalismo de livre mercado em imperialismo) votou os créditos de guerra de suas burguesias. "A burguesia incita os trabalhadores de um país contra o outro no esforço para mantê-los desunidos. Os trabalhadores conscientes, percebendo que a ruptura de todas as barreiras nacionais pelo capitalismo é inevitável e progressiva, tratam de ajudar a educar e organizar os seus companheiros de trabalho em outros países." (Lenin, Capitalismo e imigração de trabalhadores). A socialdemocracia chegou a governar países imperialistas e aplicou políticas burguesas como vemos hoje na França de Hollande. A celebração do 1° de maio foi cooptada pela burguesia com a ajuda dos partidos socialistas, mudando seu caráter combativo por um dia festivo, "o dia do trabalho" (os Estados Unidos, apesar de ser o país de origem da data, nunca celebrou este dia). "Os charlatanismos de toda a espécie, segundo os quais as condições históricas não estariam ainda ‘maduras’ para o socialismo não são outra coisa senão o produto da ignorância ou de um engano consciente. As condições objetivas da revolução proletária não apenas estão maduras, mas começam a se decompor. Sem a revolução social em um período histórico próximo, a civilização humana está sob a ameaça de ser devastada por uma catástrofe. Tudo depende do proletariado, ou seja, da sua vanguarda revolucionária." (Trotsky, Programa de Transição). Essa maturidade foi demonstrada na Rússia em 1917 com a primeira revolução em que os trabalhadores e a população foram capazes de tomar o poder e mantê-lo. Não só as condições objetivas estavam maduras, mas também tinha se desenvolvido um partido revolucionário que, junto a revolucionários de outros países, fundou a Terceira Internacional, em 1919. Com a queda do czar o 1° de maio foi comemorado pela primeira vez em liberdade. Em 1918,nesse dia foi organizado o primeiro desfile militar, a partir do início da guerra civil em defesa da revolução.

A partir da burocratização da URSS, Stalin começou a levantar a teoria do "socialismo em um só país", em 1924, desvalorizando o caráter internacional do 1° de maio e a importância da Terceira Internacional. O "culto à personalidade" de Stalin transformou este dia em desfilesdo aparato militar burocrático. Em 1943, Stalin dissolveu a Terceira Internacional por considerá-la desnecessária. A chamada "Guerra Fria" com os EUA e a corrida armamentista ocorreram enquanto coexistiram pacificamente desde a Segunda Guerra Mundial. "Quanto maior seja o tempo em que a URSS permaneça rodeada por um ambiente capitalista, mais profunda será a degeneração dos tecidos sociais. Um isolamento indefinido provocaria infalivelmente não o estabelecimento de um comunismo nacional, mas a restauração do capitalismo." (Trotsky, A Revolução Traída). Infelizmente esta previsão efetivou-se com a queda do Muro de Berlim, a partir da qual o imperialismo declarou a morte do "socialismo", equiparando o socialismo de Marx, Engels, Lênin e Trotsky eo Partido Bolchevique com seu oposto: a burocracia stalinista.

No século XXI retomemos o internacionalismo

Existe no mundo uma classe trabalhadora formada por mais de três bilhões de pessoas que, se superar as divisões de origem étnica, nacional, cultural ou de níveis de precarização no trabalho, tem o potencial para acabar com esta ordem de exploração. Apenas pela força do seu trabalho funciona o conjunto dos meios de produção e de troca em todo o planeta. Décadas de restauração burguesa,retrocesso e ação de direções que colaboraram com a ofensiva do capital minaram a confiança da classe operária nas suas próprias forças e significaram um revés em sua organização e capacidade de luta. O proletariado precisa recuperar a confiança em suas próprias forças e tornar-se o sujeito social hegemônico do conjunto dos explorados e oprimidos. Os resgates estatais de grandes bancos e corporações em 2008 e 2009 evitaram, por enquanto, uma depressão como nos anos1930, mas não deram uma saída para a crise. Esta política levou a um endividamento estatal insustentável,o qual os governos capitalistas pretendem que seja pago pelos trabalhadores e pelos setores populares.

A resposta dos explorados ainda não está à altura da crise capitalista e do ataque da classe dominante. O movimento operário internacional arrasta uma crise de suas organizações tradicionais (sindicatos e partidos) combinada com uma crise histórica de direção revolucionária. Não existe um Partido da Revolução Mundial, como chamou Trotsky ao construir a Quarta Internacional. É necessário refunda-lo, terminando com os obstáculos reformistas ou centristas. Devemos retomar e atualizar na teoria e na prática o marxismo. Desenvolver um internacionalismo prático, tirando as lições programáticas dos principais acontecimentos da luta de classes e definir onde estão dadas as condições para que os marxistas possam desempenhar um papel decisivo na luta de classes ou fenômenos políticos da classe trabalhadora. Unir o que a burguesia divide, como os trabalhadores das automotivas, nas quais cada parte é feita em um país, mas se uma fábrica para, as multinacionais podem produzir em outra ou mudar-separa onde tenham mais lucro. O partido da revolução no Brasil e a organização da revolução mundial só surgirão a partir da fusão dos marxistas com a vanguarda dos trabalhadores e de da juventude, produto de discussões e de uma prática conjunta na luta de classes.




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