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TURQUIA | O governo turco destitue prefeitos curdos e aprofunda a ofensiva militar

O partido da justiça e o desenvolvimento interveio em 28 municípios aos que acusa de financiar o "terrorismo". Erdogan aprofunda o assédio aos curdos no parlamento, a professores e com bombardeios sistemáticos.

terça-feira 13 de setembro de 2016 | Edição do dia

Partido da Democracia dos povos (HDP), principal organização curda com representação parlamentar, qualificou de "golpe de estado" a decisão do governo do partido islamita da justiça e desenvolvimento (AKP) de Erdogan, de depor 28 prefeitos, em sua maioria de municípios de maioria curda e substitui-los por interventores nomeados pelo ministério do interior durante este fim de semana.

O HPD soltou um comunicado colocando que "a administração assaltou 28 municípios e já se apoderou deles através de interventores, o que recorda o golpe de estado de 1980. Não há diferença de mentalidade entre quem bombardeia o parlamento (como ocorreu durante a falida revolta militar do passado 15 de julho) e quem usurpa a vontade popular municipal". No mesmo comunicado denunciaram a medida como um ataque "aos princípios constitucionais e aos acordos internacionais firmados pela Turquia, incluídos o Convênio Europeu de Direitos Humanos e a Carta Europeia de Autogoverno Local". Por ele, os curdos asseguram que não acataram a decisão.

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Devemos levar em conta que os municípios que foram intervidos cobrem um território de uns 2,3 milhões de habitantes. Em todos os casos, os prefeitos foram eleitos com altas cotas de popularidade (receberam entre 65 e 95% dos votos).

Desde alguns meses, o AKP buscava modificar a lei de governo municipal para poder substituir aos prefeitos aos que acusam de ter colaborado com o partido dos Trabalhadores do Kurdiquistão (PKK). Frente ao fracasso do falido golpista em julho, o AKP retirou a dita emenda do parlamento, o que interpretou então como um (cínico) bom gesto frente a população curda, enquanto bombardeava por outro lado, aos curdos do PKK e os do YPG na Síria.

Sem embargo, a medida foi recuperada pela pressão do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, entrando em vigor no último 01 de setembro, desta vez em forma dos decretos com força de lei que contempla o estado de emergência . "Creio que é um passo que chega tarde, deveria ter se dado muito antes. Eu o pedia a muito tempo", afirmou nesta segunda Erdogan. Desta maneira, a partir de agora o governo tem a possibilidade de nomear interventores para os municípios em lugar de permitir as assembleias municipais elegerem um substituto para cada prefeito deposto. Estas medidas aprofundam ainda mais o caráter bonapartista da figura de Erdogan.

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De acordo com o Ministério do Interior, dos municípios intervidos, 24 o foram pela sua relação com o PKK e outros 4 com a parceria de Fethullah Gulen, ex aliados do AKP e acusados de ter orquestrado o falido golpe de estado. Aproximadamente a metade dos 28 prefeitos substituídos já se encontravam em prisão, arrastados pelos múltiplos cargos, e o resto se enfrentava com processos judiciais.

Erdogan, enviou uma mensagem ao resto dos prefeitos a limitar-se a fazer o seu trabalho: "Gerenciar as canalizações de água, a distribuição de gás e essas coisas".

Objetivo: varrer a resistência curda

Ao final de 2015, o governo turco rompe o processo de paz com as milícias do PKK e principalmente próximo a tentativa do golpe de estado, o AKP vem aprofundando sua ofensiva sistemática (que incluem bombardeios) a população curda. As "purgas" de Erdogan tem alcançado a mais de 14.000 docentes acusados de ter vínculos com o partido dos trabalhadores do Kurdequistão (PKK).

Também vêm desenvolvendo uma brutal ofensiva militar ao sul da Turquia, na fronteira com Síria. Cobrando a vida de mais de 2.000 pessoas em poucos meses nos enfrentamentos entre o exercito turco e as milícias curdas do PKK, ou o YPG na Síria. Se bem, que a desculpa é derrotar o estado islâmico (EI), o teatro de operações mostra o verdadeiro objetivo de Erdogan, afastar a população curda e sua resistência armada, para que alcancem administrar de forma autônoma territórios ao norte da Síria. Isto demonstrou a Operação Escudo do Eufrates, rompendo o corredor curdo na fronteira com Síria, que incluiu uma invasão terrestre ao dito país. Sendo estas milícias as que resistem ao avanço do EI. EEUU, Al-Assad, Erdogan e o exércitos de oposição síria, tem o mesmo interesse, de impedir a formação de territórios frente a gestão curda.




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