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EGITO | O ditador Al-Sisi visita a Alemanha entre protestos e denúncias

Josefina L. MartínezMadrid | @josefinamar14

sexta-feira 5 de junho de 2015 | 00:00

O ditador egípcio, Abdul Fatah Saeed Hussein Khalil Al-Sisi, está em visita oficial de dois dias na Alemanha, antes de ir à Hungria. A coletiva de imprensa com a chanceler Angela Merkel terminou de forma caótica, quando uma jornalista o interpelou aos gritos de “assassino, nazista e fascista”.

Al-Sisi foi recebido com honras pelo governo alemão, nesta quarta-feira. No final de novembro, o presidente egípcio havia sido recebido na França por Hollande. Essa era a primeira viagem europeia do ditador egípcio em busca de legitimidade internacional. Há uns dias a direitista Marine Le Pen visitou o ditador no Egito. No final de abril foi recebido pelo governo e os reis espanhóis.

O general chegou ao poder em julho de 2013 depois de um golpe de estado que derrubou o presidente Morsi, impondo um regime muito repressivo. Estas viagens e apoios europeus adquirem muita importância porque lhe garantem legitimidade, apoio político e bons negócios.

Sua visita à Alemanha gerou muitas controvérsias, com protestos de organizações de direitos humanos, ONGs, coletivos de jornalistas e grupos políticos opositores egípcios.

Durante a coletiva de imprensa na sede do governo alemão, em Berlim, Al-Sisi defendeu a pena de morte, ainda que tenha declarado que a condenação que pesa sobre o ex-presidente Mohamed Morsi ainda não está confirmada.

“Temos uma perspectiva diferente de vocês a respeito da pena de morte. Está ancorada em nossa legislação e é parte da nossa ordem constitucional”, indicou Al-Sisi antes mesmo de ser perguntado a respeito.

Merkel, por seu lado, viu-se obrigada a dizer que a Alemanha “sob nenhuma circunstância” admite a pena capital, independente de contra quem seja e mesmo que se justificasse por razões de “segurança de Estado”.

A chanceler garantiu que seu governo advoga o “respeito aos direitos humanos” a qualquer interlocutor egípcio, e disse que teve a mesma “postura” há dois anos quando da visita de Morsi a Berlim. Mas, ao mesmo tempo, defendeu “o alto valor estratégico” do Egito “para a paz no Oriente Médio” e na “luta contra o terrorismo”.

A coletiva terminou de forma caótica quando uma jornalista de origem egípcia e nacionalidade alemã interpelou o ditador aos gritos de “assassino”, enquanto integrantes da imprensa oficial aplaudiam Al-Sisi e os seguranças se lançavam sobre a jornalista para impedir o protesto.

A visita de Al-Sisi gerou, nos dias prévios, muita controvérsia devido à condenação à pena de morte do ex-presidente Morsi, como também pelas condenações massivas contra opositores e ativistas políticos.

O presidente egípcio foi recebido pelo presidente alemão, Joachim Gauck, porém o líder do Parlamento, Norbert Lammert, cancelou seu encontro com ele.

Diante da sede do governo alemão se concentraram grupos de manifestantes que denunciaram a perseguição a jornalistas, ativistas e opositores.

Há uns dias foi publicada uma carta dirigida à chanceler Angela Merkel, assinada por organizações como Anistia Internacional e Human Right Watch, denunciando a repressão do regime de Al-Sisi e exigindo dela que condicione todas as relações diplomáticas ao fim da mesma.

Na carta se denuncia que desde julho de 2013 mais de 22 mil pessoas foram detidas. Organizações egípcias documentam a condenação de pelo menos 41 mil pessoas, incluindo 300 advogados.

Também se referiam ao caso da advogada Azza Soliman, condenada junto com 16 pessoas de participação em protesto ilegal por ter se apresentado como testemunha do assassinato do ativista socialista Shaimaa al-Sabbagh pela polícia.

A carta detalha as condenações massivas à pena de morte pelo regime de Al-Sisi. Em 16 de maio, um tribunal sentenciou a pena de morte para 122 pessoas, incluindo o ex-presidente Morsi.

De acordo com o Observatório pelos Direitos e as Liberdades do Egito, entre janeiro e março de 2015 os tribunais judiciais condenaram 2.381 opositores políticos, sentenciando 194 com pena de morte e 312 com prisão perpétua. Segundo outros informes da Anistia Internacional, desde julho de 2013 houve mais de 742 condenações a pena de morte, em processos claramente armados.

É um ditador, mas que venham os bons negócios

Durante 2014 aumentou o volume comercial entre o Egito e a Alemanha para 4,4 bilhões de euros. Este é o intercâmbio mais elevado na relação entre os dois países, com o Egito passando a ser o terceiro sócio comercial da Alemanha na região árabe.

Um artigo editorial publicado nesta quarta-feira no Spiegel informa que a visita de Al-Sisi tem o objetivo de facilitar um multimilionário negócio para as empresas alemãs, e por isso se “passa por cima” das denúncias de torturas e repressão do governo egípcio.

Como exemplo, relembra a viagem em março deste ano do ministro da Economia alemão Sigmar Gabriel, do Partido Social-democrata, ao Egito com uma delegação de empresários. Nessa ocasião, a multinacional Siemens conseguiu um negócio de mais de 11 bilhões de euros com o governo do Egito. Depois disso, Gabriel em pessoa militou pelo convite a Al-Sisi para visitar Berlim.

Tratamento similar teve Al-Sisi na França, resultando em milionários contratos para as empresas de aviação francesas.

A Alemanha sempre teve um “tratamento privilegiado” com os governos do Egito, desde a época de Mubarak, a quem tanto os conservadores como os social-democratas consideravam um “sócio destacado”.




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