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OPINIÃO | O aprofundamento da crise política e possibilidades de crise orgânica

sexta-feira 18 de março de 2016 | 00:37

A velocidade dos acontecimentos dos últimos dias faz com que todas as análises e interpretações da realidade política nacional tenham que se ajustar a todo momento, quando não mudar radicalmente.

A apenas alguns dias, 15/03, escrevi artigo nesse diário defendendo que ainda não vivemos uma crise orgânica da hegemonia burguesa no Brasil. Partindo da interpretação do conceito do italiano Antonio Gramsci, de que crise orgânica se refere a crise do regime através do qual a burguesia legitima e constrói consentimento ativo das classes subalternas à sua dominação buscava mostrar que não existia ainda uma crise do regime democrático-burgues de conjunto, mas sim uma grave crise política e uma grande crise estrutural em um dos pilares do regime, o PT.

Penso q os fatos dos últimos dias ainda não alteraram essa caracterização; a grave crise política por que passa o país certamente muitas vez resvala numa crise de todo o regime, mas estarmos atentos para o efetivo momento de transformação dos acúmulos quantitatvos de uma cada vez maior crise política em uma ruptura qualitativa de uma crise de todo o regime é fundamental para podermos intervir na realidade. Isso porque para os revolucionários a interpretação da realidade não é um fim em si mesmo, mas base para sua transformação, como é bem sabido.

O ajuste que penso deve ser feito é que naquele artigo aparecia como se uma crise orgânica da hegemonia burguesa, uma crise do regime através do qual legitimam sua dominação os capitalistas, só seria possível depois do impeachment.

Isso sim era um equívoco e deve ser corrigido, pois uma interpretação equivocada aqui gera como consequência uma passividade e uma visão de estabilidade que é tudo que não existe no Brasil hoje.

Toda polarização com a nomeação de Lula como ministro depois das manifestações massivas contra Dilma, o PT e o própria Lula, a guerra judicial que se abriu, as manifestações semi-espontâneas contra a manobra petista, mostram que também a continuação de uma crise política dessas proporções, mesmo sem impeachment, com o setor da direita burguesa numa ofensiva decidida para derrubar o petismo e esse manobrando para se manter em pé podem levar a um efrentamento cada vez maior contra as instituições do regime de 88 assim como a fissuras e lutas entre as próprias instituições.

A contradição cada vez mais aberta entre entre executivo e judiciário, as rusgas que se gestam entre as próprias instâncias do judiciário, apontam para uma situação que pode se tornar insustentável num período de tempo impossível de ser previsto (apesar de a tendência é a ser cada vez mais curto, posto que os tempos se aceleram).

A continuidade e aprofundamento da crise econômica, a paralizia do congresso pela direita como forma de pressionar pelo impeachment, os novos fatos que aparacem a cada dia, a cada hora, praticamente, criam um clima de tensão social que se acumulado por vários dias irão quase certamente explodir de forma incontornável.

Uma possível crise orgânica e a política dos revolucionários

Como expresso acima a interpretação e caracterização da realidade pelos revolucionários não é algo superfluo, sem consequências, mas muito pelo contrário, expressa sua visão sobre o terreno onde se desenvolve a luta entre as classes num determinado período. A caracterização da realidade política como de crise orgânica teria consequências políticas profundas, portanto. Como forma da crise do regime que é a crise orgânica da hegemonia tende a se expressar como situação revolcionária ou pré-revolucionária, quando há um movimento à esquerda e independente dos trabalhadores que leva a esse questionamento do regime, ou a uma situação contra-revolucionária, quando por conta da incapacidade ou debilidade de seus grupos dirigentes, a classe operária não aparece em cena de forma independente ou o faz de forma caótica, sendo desviada sua mobilização para servir de massa de manobra a um dos grupos dominantes em disputa.

Esse momento ainda de preparação em que se aponta a possibilidade de uma crise do regime democrático-burgues brasileiro deve ser utilizado pelos grupos que se reivindicam revolucionários no Brasil para conquistar espaços e alguma inserção entre o proletariado, como forma de fazer com que essa crise da hegemonia burguesa seja canalizada à esquerda e não de espaço para saídas reacionárias.


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