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DEBATE | O PT que Lula quer: um novo pacto com os empresários?

segunda-feira 13 de fevereiro de 2017 | Edição do dia

Há algumas semanas atrás, ocorreu o lançamento do 6º Congresso do PT. O falecimento de Marisa colocou em segundo plano esse significativo ato político marcado por um longo discurso de Lula.

Buscamos analisar alguns elementos de sua fala aos principais dirigentes do partido naquela atividade. Em meio a resgatar o legado dos governos anteriores como pano de fundo, Lula em nossa visão teve como objetivo traçar o marco estratégico do PT no próximo período a partir de dois aspectos centrais: superar a fase de combate ao golpe e repactuar com os empresários. O ex-presidente aponta, dessa forma, como buscará construir um caminho para negociar com os demais partidos da ordem desde já o reposicionamento do PT e se preparar para 2018.

“PT de protesto” ou “PT propositivo” apoiando o PMDB?

Em toda a primeira parte de seu discurso, um fio condutor o norteia: encerrar de vez qualquer momento contestatório que ainda esteja presente enquanto “clima” na militância petista. Buscando conter alas dissidentes, diz que é necessário superar a fase de combate ao golpe, de "Fora Temer" e até mesmo contra as reformas que retiram direitos da classe trabalhadora. Nas palavras dele próprio:

Nós não podemos mais apenas fazer uma ação política de resistência. Por que nós ficamos gritando “Fora Temer” e o Temer está lá dentro. Gritamos “não vai ter golpe” e teve golpe. Nós estamos gritando contra as reformas e eles estão aprovando as reformas num tempo tão recorde que esses dias um dirigente sindical me disse [nós não temos tempo de acompanhar tal a rapidez que eles estão aprovando as coisas]“.

Ele também seguiu costurando o discurso em um sentido que amortecesse a militância na luta contra o golpe, retomando o pragmatismo característico, ao dizer que o PT não pode: “voltar a ser apenas um partido de oposição. Apenas de contestação. Apenas um partido do protesto. Isso é muito bom para um partido que tenha 4 deputado”., em uma clara delimitação do PSOL.

Esse último trecho, era uma orientação implícita aos principais parlamentares de Brasília: era hora de buscar alianças para conquistar posições, seja com quem for, inclusive com os articuladores do golpe institucional e dos ataques recentes aos trabalhadores. Poucos dias após seu discurso, o PT apoiaria o PMDB no Senado. Também na ALERJ(Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro), junto com o PCdoB, apoiaria o PMDB que busca acabar com os direitos do povo e usam a PM e o exército para isso. Na Câmara dos Deputados, o apoio ao DEM só não ocorreu devido ao fato de Rodrigo Maia não poder garantir lugar na Mesa Diretora ao PT, como apontamos em outros artigos.

Saída econômica e política: um novo pacto com os empresários

Lula já disse inúmeras vezes que “não quer incendiar o país” com as lutas, e que “nunca antes na história desse país, como em seu governo, os empresários ganharam tanto”. O vice de Lula em 2002 foi José Alencar, um grande empresário, e o pacto com a burguesia do PT e sua aposta na conciliação de interesses fica explícito em todas as doações de campanha das últimas décadas.

Se é verdade que no momento de crescimento econômico, o partido teve margem de manobra, sem ferir os interesses empresariais, para oferecer algumas melhorias nas condições de vida dos setores mais pobres da população, a crise econômica deixa explícita que nesse momento, são nos direitos, nos empregos e na vida dos trabalhadores e dos mais pobres que a burguesia e os governantes irão cortar. Em seu discurso, inclusive, Lula relembra o que alguns militantes do PT fazem questão de esquecer: que Dilma havia buscado ajustar o quanto fosse necessário para atender os interesses empresariais, e que só não pode fazer isso pois foi impedida pelo Congresso.

A burguesia busca um ajuste rápido e duro, cortando direitos históricos, para os quais hoje as grandes centrais, como a CUT e a CTB, estão longe de preparar mobilizações reais à altura. Afinal, como poderia a CUT, dirigida pelo PT, se preparar para paralisar de fato e incendiar o país no dia 15 de março, contra a Reforma da Previdência e a Reforma do Ensino Médio, na greve nacional da educação, se Lula em seu discurso diz que é necessário superar a fase da “contestação”, e retomar o diálogo com os empresários?

Apostando no ônus que trará ao PMDB os próximos ataques e a “resistência em palavras” do PT, e sendo ainda Lula a principal figura nacional no mundo político como apontam as pesquisas, ao mesmo tempo que bate duro na Lava-Jato e reivindica o legado dos governos anteriores “aos mais pobres”, seu discurso é articulado também para preparar os dirigentes para ganhar terreno na classe média e repactuar com os empresários. Se isso será possível ou não, só o tempo dirá, mas Lula sabe que só poderá entrar com chances reais em 2018, se consegue “quebrar” a rejeição atual que possui na base social que apoiou passivamente o golpe institucional, assim como reconquistar grandes aliados entre os empresários. Sim, aparentemente é com aqueles que organizaram as marchas verde amarelas, que botaram os patos amarelos na Paulista, que Lula quer novamente “botar o bloco na rua”.

E é bastante didático para mostrar isso, ao dizer aos dirigentes “que há uma preocupação com a ascensão das pessoas por aqueles que estão lá em cima. E isso exige do PT uma reflexão para aprender a convencer as pessoas de que a ascensão dos de baixo não é um mal pra eles, mas é um bem, é a chance até dele crescer mais”. Continua ao dizer que é preciso que os dirigentes do PT voltem a “conversar com os empresários. Debater com os empresários e dizer qual é a nossa política industrial, o que que nós queremos para o desenvolvimento desse país”.

Segue também discursando aos empresários ao dizer que Temer “é um governo que não quer competitividade internacional, é um governo que quer continuar sendo exportador de commodities” e pra não deixar dúvida que é um ato de peso para pactuar novamente com o imperialismo, diz que “outra coisa que me deixou entusiasmado é que o FMI, perto do governo brasileiro, virou uma esquerda porreta. A presidenta do FMI tava em um debate, em Davos, com o Meirelles. E quando ele começou a falar do ajuste, ela afirmou que a prioridade das políticas econômicas precisa ser o combate à desigualdade social

Muita água ainda irá rolar nos próximos meses em nosso país com a Lava-Jato, os ajustes de Temer e nas movimentações do PT e de seu líder. Mesmo após o golpe, é no acalmar da burguesia e não no incendiar dos trabalhadores que Lula e toda a direção do partido aposta. Uma coisa está certa: somente na luta independente dos trabalhadores, reconstruindo sua tradição de luta ao da juventude, sua organização coletiva e seus canais próprios de notícias, que as lutadoras e lutadores brasileiros devem apostar para enfrentar a dureza dos ataques do governo Temer que estão em curso.


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