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Dossiê Stonewall | “O Estado, que deveria proteger, matou minha filha”, diz a mãe da trans assassinada Laura Vermont

O Esquerda Diário entrevistou no Ato contra a violência a transexuais, travestis e transgênero, Zilda Laurentino, mãe da travesti de 18 anos, Laura Vermont, assassinada pela polícia de São Paulo. Zilda falou de como era sua filha e do fundamentalismo cristão.

sábado 4 de julho de 2015 | 00:01

Quem conversa com a família da travesti Laura Vermont, 18 anos, percebe pelo discurso que é uma família exemplo de tolerância e afeto. Sua mãe, Zilda Laurentino, fala da filha apenas no feminino. “Aos treze anos ela conversou com a gente e disse como se sentia. Perguntei se era só um momento que ela estava passa, não era e a aceitamos”, diz ainda emocionada pela filha assassinada há duas quadras de casa, na Zona Leste de São Paulo. Para Zilda, “o Estado, que deveria proteger, matou minha filha”. Laura foi encontrada já sem vida com marcas de violência física e um tiro no braço. A Polícia Militar de São Paulo está no banco de acusados.

No último domingo, 28 de junho, ocorreu na Praça da República um ato contra a violência a transexuais, travestis e transgênero. Na ocasião, Zilda disse que Laura “Caminhava sentido contrário de onde a viatura estava. Não faz sentido ela ter dirigido o carro. Ela tinha tudo em casa, tinha carro se quisesse”. A PM-SP chegou alegar que Laura tentou assaltar a viatura da polícia.

Durante o Ato, militantes e passantes debateram o alto índice de assassinatos de travestis e transexuais no Brasil.

Laura; em vida

Sua mãe conta à reportagem do Esquerda Diário que Laura estudou até a 8ª série. “Ela estudou a maior parte do tempo em colégio particular. Isso porque não se adaptou com o ensino público”. Zilda diz que a sexualidade da filha sempre foi motivo de piada na escola: sempre, como pais, fomos à escola conversar com os diretores e os professores dela, e explicar como ela era, mas não adiantava”.

Enquanto o fundamentalismo se organiza, em todo o País, para barrar os Planos Municipais de Educação que pretendem debater questões de gênero e etnia nas escolas, a mãe de Laura diz que “é muito importante que esses planos sejam aprovados. Todas sofrem muito na escola e param de estudar”.

No bairro, “a Laura sempre foi muito querida e respeitada por todos os vizinhos. Ela era uma pessoa maravilhosa”. Zilda revela que preferia que a filha ficasse em casa; “sempre nos preocupamos com a segurança dela, não dormíamos enquanto ela não chegasse em casa. Por conta da violência, quando ela começou a namorar, o namorado dela chegou morar com a gente”.

Como mãe “meu conselho é não desamparar suas filhas travestis. Quando as jogamos na rua, elas podem morrer e serem jogadas no lixo. Ninguém quer isso para sua filha”.

Fundamentalismo cristão

Sobre os fundamentalistas que incentivam a lgbtfobia, Zilda deixa a mensagem de que “só estou de pé por minha fé em Deus. Por incrível que parece, minha filha e nossa família sempre foi aceita em uma igreja evangélica. Inclusive ela frequentava o culto e ficava na ala das mulheres. Meu recado para estes pastores que incentivam o ódio enquanto pregam e são contra projetos importantes para pessoas como minha filha; digo que não eles não tem coração e não acreditam em Deus”.




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