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TRIBUNA ABERTA | O crescimento das universidades particulares

É triste ver que os que menos podem gastar com a educação formal são os que enchem os bolsos das empresas, cada vez mais bem estabelecidas e difundidas.

quarta-feira 14 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Ninguém há de negar que, no Brasil, ocorre o que uns chamam de democratização e, outros, de massificação do ensino superior. Apesar de hoje haver mais oportunidades para as classes sociais mais baixas chegarem à universidade pública, cujo ensino ainda é muito melhor que o das particulares (muitas das quais são escandalosamente privadas), assalariados (talvez a maioria dos trabalhadores que fazem curso superior), infelizmente, têm se matriculado em instituições que cobram mensalidades. É triste ver que os que menos podem gastar com a educação formal são os que enchem os bolsos das empresas, cada vez mais bem estabelecidas e difundidas.

Um dos pilares dessa realidade é a indústria do vestibular. Alimentada principalmente pela classe média (sempre ela!), consiste num ritual de que só podem participar para obter sucesso os iniciados em escolas particulares e cursinhos preparatórios. Isso quer dizer que se privatiza a boa qualidade dos ensinos fundamental e médio e da grande maioria dos pré-vestibulares, de modo que se diminuam as chances dos que não podem pagar pela instrução na adolescência; assim, na idade adulta, darão ao ensino privado o dinheiro que não puderam dar antes, o que para o capital faz sentido, já que, se a boa qualidade dos campi públicos é praticamente exclusiva de elites, alguém teria de fazer negócio com educação universitária mais acessível.

É muito dura a realidade do estudante matriculado em universidade privada. Enfrenta ele duas jornadas de trabalho, porque estudo, assim como a venda dum serviço por remuneração, é trabalho; e mesmo que outra pessoa pague as mensalidades por ele (o pai ou a mãe, no caso de quem é mais jovem), alguém está pagando para que outro alguém trabalhe. E, no fim, o diploma, a depender do curso, não terá o peso equivalente ao de um que tenha sido concedido por uma universidade pública.

Com exceção de poucas entidades privadas de ensino superior (não é preciso mencionar nomes), o que se vê é o lucro acima de tudo. É o desejo por esse lucro que motiva o crescimento escandaloso de empresas que gastam rios de dinheiro em propagandas levadas ao ar, propagandas em que aparecem famosos até mesmo ao vivo. Obviamente o custo delas vai determinar o valor da mensalidade, pois todo serviço tem como um dos fatores de produção o gasto com publicidade, a qual, ainda que não percebam os donos das empresas de cursos superiores, é uma obscenidade, uma desmoralização do ensino superior, contra a qual todos os educadores sérios devem lutar.

Não se tire o mérito dos formados pelas universidades particulares (as quais, conforme o que ficou dito, preferem investir dinheiro em publicidade fantástica a investir em pesquisas). O que se deve fazer é divulgar cada vez mais os pré-vestibulares comunitários, os sociais, como o pré-vestibular da Fundação Cecierj, e o próprio vestibular do Cederj, um consórcio que tem levado a várias partes do estado do Rio cursos gratuitos de altíssima qualidade oferecidos por universidades públicas na modalidade EAD, realidade que não deveria ser exclusiva desta unidade da federação. Outra forma de resistência às faculdades particulares (pelo menos às que são ruins e gananciosas) é, além da defesa da superioridade da importância do Sisu em relação ao Prouni, o incentivo e a orientação que os professores podem e devem dar aos alunos desde a mais tenra idade, mesmo que isso vá de encontro aos dizeres infelizes de pais que, dentro de casa, verbalizam a naturalização do elitismo das faculdades públicas. Se com isso não for possível acabar com a mercantilização da educação universitária, que se possa ao menos atenuá-la significativamente.




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