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TEATRO | Núcleo Macabéa estreia espetáculo sobre Favela do Boqueirão

Em novembro, o Núcleo Macabéa estreia "EPÍSTOLA.40: CARTA (DES)ARMADA AOS ATIRADORES”, obra baseada na história de moradoras da Favela do Boqueirão, que tiveram suas vidas modificadas após uma ação de despejo. Ótima oportunidade de conhecer o trabalho deste grupo que realiza uma imersão em comunidades periféricas, formadas por migrantes, buscando suas memórias.

sábado 12 de novembro de 2016 | Edição do dia

Fotos: Cacá Bernardes

NÚCLEO MACABÉA NARRA MEMÓRIAS DE MORADORAS DA FAVELA DO BOQUEIRÃO

Com cinco anos de criação cênica, o Núcleo Macabéa lança mão de histórias orais de vida de moradoras da Favela do Boqueirão, comunidade da zona sul de São Paulo, para narrar poeticamente os despejos de muitas localidades periféricas das grandes metrópoles brasileiras. No dia 04 de novembro, estreia o espetáculo Epístola.40, carta (des)armada aos atiradores, a nova obra teatral deste grupo que tem como uma de suas principais características a imersão em comunidades periféricas, formadas por migrantes. Estabelecendo desde 2011 uma relação estrita com os moradores da Favela do Boqueirão, que passaram por uma grande remoção e tiveram suas vidas modificadas, o grupo buscou um resgate de memórias para compor seu novo espetáculo, que agora é apresentado na sede da Cia. Pessoal do Faroeste. Com texto de Rudinei Borges e encenação de Edgar Castro, a peça narra os andamentos excludentes do despejo de uma família de retirantes nordestinos (Nazara, Judas, Macabéa, Misael e Auarã) que arranjou morada numa favela na cidade de São Paulo.

“Esta montagem teatral nasce do encontro com as memórias de despejo de moradoras da Favela do Boqueirão. Essas mulheres, vindas de outros estados, que encontraram nesta comunidade uma moradia, mesmo em condições precárias. Mas parte significativa da favela foi duramente despejada, pois os barracos foram construídos às margens de um córrego, um esgoto poluído. Depois do despejo a situação piorou, uma vez que não tinham mais onde morar. O auxílio-aluguel é um valor insuficiente para que a dignidade de moradia seja garantida. Muitos moradores foram viver até na rua. Dessas situações de extrema exclusão e de nenhum diálogo do Estado com a população, nasce a miséria mais profunda do Brasil”, comenta o dramaturgo Rudinei Borges, recentemente indicado ao Prêmio Shell pela autoria de Dezuó, breviário das águas, outro espetáculo do Núcleo Macabéa.

Já o encenador Edgar Castro, comenta: “Epístola.40, carta (des)armada aos atiradores é a metáfora mais adequada de um país que se vê repetidamente despejado da vida. É a fábula de uma família de retirantes que vaga em constante processo de expulsão, e que mal conseguindo fixar moradia numa favela, enfrenta mais uma vez o murro da exclusão”. Em seu segundo trabalho com o Núcleo Macabéa (o primeiro como encenador), Edgar pensa a nova montagem como tentativa de equacionar o que chega de uma realidade em franco desmoronamento, de um campo social que trata os pobres a chutes e bordoadas, território que se ergue sobre a negação ao direito mais elementar de viver com alguma dignidade.

Além das histórias orais de vida de moradoras do Boqueirão colhidas pelos atores, a peça foi composta com a leitura atenta do romance de Clarice Lispector, A hora da estrela (1977), e do Primeiro Livro de Macabeus. A obra faz parte das ações do projeto Tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas – Teatro e História Oral de Vida. Residência artística do Núcleo Macabéa na favela Boqueirão contemplado pela 27° Edição do Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo.

O Núcleo Macabéa, desde a fundação, cria suas peças de teatro motivado pelo encontro com migrantes e com a história oral de vida de moradores de comunidades que enfrentam situações extremas de despejo. O grupo reside artisticamente na Favela do Boqueirão há meia década e criou montagens teatrais que dialogam diretamente com os moradores, desde cortejos cênicos a peças em salas de teatro. A poesia, não o registro documental, é o mote de criação teatral do grupo. Desde 2011, foram montadas cinco peças: Chão e Silêncio (2012); Agruras, ensaio sobre o desamparo (2013); Fé e Peleja (2014); Dezuó, breviário das águas (2016) – peça indicada aos prêmios Shell e Aplauso Brasil, e Epístola.40: carta (des)armada aos atiradores (2016). Todas estas peças adentram a condição humana e a memória do êxodo dos migrantes.

O Núcleo Macabéa é um agrupamento teatral cujo nome evoca a força de resiliência que há tanto na alusão à última personagem romanesca de Clarice Lispector, quanto na relação que tal figura emblemática estabelece com os obstinados macabeus, o antigo povo semítico que defendeu o templo no Monte Sião contra a opressão dos gregos. Foi fundado pelo poeta e dramaturgo Rudinei Borges em fins de 2011, com o processo de criação da peça Chão e Silêncio, encenada em 2012, nas vielas e casas de moradores da Favela do Boqueirão, localizada na Zona Sul de São Paulo, região do Ipiranga, onde o grupo reside artisticamente.

A narrativa oral da migração, do exílio, da retiração em refúgio, do nomadismo e da andaria dos povos move o Núcleo Macabéa para a composição de metáforas das travessias, a partir do encantamento poético. Com o objetivo de adentrar os sentidos e razões desta migração por melhores condições, pela construção e afirmação de uma terra, o grupo propõe-se a realizar um estudo teatral, com ênfase em uma dramaturgia inédita e no trabalho do arte-oralista, baseado na pesquisa da palavra poética, da condição humana e da história oral de vida dos excluídos.

Epístola.40, carta (des)armada aos atiradores estreia no dia 04 de novembro, na sede da Cia. Pessoal do Faroeste e segue em temporada até o dia 12 de dezembro. O Núcleo Macabéa faz um convite ao público para adentrar por estas vielas e histórias da Favela do Boqueirão, e a conhecer esta narrativa poética sobre as memórias de despejo de seus moradores. Um espetáculo forte e reflexivo, que com certeza irá te surpreender, instigar um novo olhar sobre o tema e sobre as mudanças drásticas que podem ocorrer na vida de cada indivíduo após uma ação de despejo. Mais informações na fanpage do grupo: www.facebook.com/nucleomacabeaoficial

FICHA TÉCNICA

Dramaturgia e Coordenação - Rudinei Borges | Encenação - Edgar Castro | Atuação - Alexandre Ganico, Andrea Aparecida Cavinato, Daniela Evelise, Dionízio Cosme do Apodi e Heitor Vallim | Cenografia e Figurino - Telumi Hellen | Iluminação - Felipe Boquimpani | Sonoplastia - Dani Nega | Produção - Fernando Gimenes | Programação Visual - Renan Marcondes | Fotografia e Vídeo - Cacá Bernardes e Bruna Lessa (Bruta Flor Filmes) | Assistência de Direção e Preparação Corporal - Raoni Garcia | Assistência de Figurino - Claudia Melo | Oficina de História Oral - Marcela Boni | Oficina de Jogos Grupais - Rani Guerra | Oficina de Cultura Popular - Cleydson Catarina | Oficina de Teatro e Imaginário - Andrea Cavinato | Assessoria de Imprensa - Luciana Gandelini | Palestra Clarice Lispector - Gilberto Martins | Revisão de Texto - Airton Uchoa Neto | Parceria - Cia. Pessoal do Faroeste | Realização - Núcleo Macabéa, Prefeitura de São Paulo, Programa de Fomento ao Teatro, Cooperativa Paulista de Teatro

SINOPSE

Escrita a partir de memórias de moradoras da Favela do Boqueirão e do romance A hora da estrela de Clarice Lispector, a peça narra a saga de uma família de retirantes nordestinos, da chegada em São Paulo ao despejo da comunidade onde viviam.
Temporada: de 04 de novembro a 12 de dezembro
Horário: Sexta-feira, sábado e segunda-feira, 20h00 / domingo, 19h00
Local: Cia. Pessoal do Faroeste - Rua do Triunfo, 305 – Metro Luz
Ingressos distribuídos 1h00 antes do espetáculo
Duração: 90 minutos - Classificação: Livre - Capacidade do local: 50 pessoas
Informações pelo telefone [11] 3151-4664
Web | www.epistola.wordpress.com

Contato Assessoria de Imprensa: Luciana Gandelini – [email protected] – 99568-8773


Temas

Teatro    Cultura



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