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Entrevistamos três dirigentes operárias do sindicato da alimentação. Elas tem muitas coisas em comum e uma marca indestrutível: lutam pelos direitos das mulheres. Em cada uma dessas batalhas elas conseguem unir os trabalhadores de sua fábrica.

sexta-feira 21 de julho de 2017 | Edição do dia

Katy, Lorena e Teresa são operárias. Trabalham em multinacionais, no ramo da alimentação, localizadas na periferia de Buenos Aires. As três integram a Agrupação Bordó classista, oposição à Verde de Rodolfo Daer. Começaram suas experiências políticas como ativistas na fábrica, o que as levou a se organizarem em um partido: o PTS.

Uma parte de suas histórias

Catalina “Katy” Balaguer começou a trabalhar aos 27 anos na PepsiCoSnacks, hoje, 20 anos depois, é demitida pela segunda vez pela mesma patronal.

Sentiu a violência patronal no próprio corpo, mas o enfrentou se organizando junto a seus companheiros. Defendeu os terceirizados e por isso a demitiram, não tinha a proteção do sindicato, mas atuava efetivamente como delegada.

Lorena Gentile trabalha em Mondelez (ex Kraft), na fábrica localizada na região Pacheco. Em 2009, protagonizou uma das luta mais duras destes anos em defesa de suas companheiras. Com a epidemia da Gripe A, pediram que desinfectassem a fábrica porque companheiros estavam doentes, a empresa respondeu que fecharia a creche, mas não deu licença às mães, que não tinham onde deixar seus filhos. Por esta reivindicação 162 demissões ocorreram, não tinham apoio do seu sindicato, mas conseguiram sustentar a luta e enfrentar a repressão do governo kirchnerista que atuou em defesa da multinacional.

Teresa Gorosito trrabalha em Mondelez (ex Stani), a fábrica está localizada na região de Victoria.

No outubro do ano passado foi eleita como delefaga, a única mulher da comissão interna. Ganharam as eleições contra a burocriacia que dirigia a fábrica. Sua primeira defesa: recuperar o pagamento no caso de filhos doentes, creche na fábrica ou que a patronal pague o custo real dela.

2001: luta em defesa dos terceirizados na PepsiCo

“Em 2001 eu conheci o PTS e com eles e outros companheiros, organizamos a construção de uma comissão interna, independente da burocracia e dos partidos patronais. Por estes anos, tentamos desenvolver um trabalho político-sindical junto a Leo Norniella, assim começou minha militância no PTS ao seu lado” lembra Katy.

Nestes anos muito do que se produziu foi com mão de obra terceirizada, a maior parte das mulheres trabalhando 15,16 anos. Em 2001, Katy, Leo e parte da Comissão Interna lutam contra a demissão de 100 terceirizados.

Em 2002 demitem Katy. Lutou fora da fábrica. Denunciou a empresa perante a justiça, por discriminação sindical. Um ano e sete meses depois conseguiu ser reintegrada. Uma decisão judicial a reconhecia de fato como delegada e determinava sua reincorporação, a empresa recorreu, mas a Corte Suprema de Justiça decidiu a favor de Katy. Esta sentença possibilitou a jurisprudência para que os delegados fossem de fato reconhecidos. O caso de Catalina Balaguer é estudado na faculdade de Direito.

Stani-Mondelez

Teresa sinaliza que a experiência em PepsiCo é tão valiosa para os operário que a conquistou e levou a que se organizasse, assim o expressa “a semente que Leo e Katy plantaram e que hoje se mostra novamente com o conflito da Pepsico, sempre se viu refletida em Stani, para além das diferenças.

Comecei a trabalhar como terceirizada na fábrica, com um companheiro, Gaby do PTS, com quem hoje estou na Comissão Interna, começamos a conversar, ele me contava das lutas de PepsiCo e Kraft, mas me dizia ‘que não te vejam comigo porque vai te prejudicar, somos comunistas’.

Gaby e os companheiros lutavam pelos nossos direitos, contra as demissões e as suspensões. Denunciavam o ‘Convenio Mantecol’ no qual estamos enquadrados como maioria dos trabalhadores da fábrica, que temos que cumprir 48 horas semanais, quase sem descanso, enquanto os companheiros mais antigos trabalham de segunda a sexta-feira. Há anos defendemos com a Bordó: para igual trabalho, igual salário e ingual convenio”.Este convenio foi assinado por Daer, sob o governo de Menem.

Kraft-Mondelez

Na luta de 2009, em Terrabusi-Kraft, hoje Mondelez, as protagonistas foram as mulheres, a juventude operária e os delegados setoriais(muitos integrantes da agrupação classista, hoje Bordó).

Lorena repassa “nesta luta emergiu algo novo: a decidida intervenção das companheiras: Tanto nas assembleias como nas discussões, enfrentavam a pressão da empresa. Com isso, muitas diziam: “Se afrouxarmos agora vão nos pisotear cada vez mais”. Sem dúvida elas foram as protagonistas desta luta”.

Fora da fábrica se formou um comitê de solidariedade e uma comissão de mulheres. Trabalhadores da PepsiCo e Stani estiveram na primeira linha de combate, quando 300 policiais de Buenos Aires, com cachorros, cavalaria e infantaria avançaram com uma selvagem repressão contra os trabalhadores, famílias e organizações sociais. Como dissemos aqui, uma dura greve conseguiu a reintegração de uma partes destas demissões ilegais, mas a assinatura de uma parte da comissão interna de uma ata infame deixou o melhor da vanguarda nas suas. Apenas um delegado negou assinar e foi Javier “Poke” Hermosilla da Bordó. Algumas semanas depois uma nova interna encabeçada por Poke ganhou as eleições na fábrica. Daí em diante acabaram as demissões discriminatórias.

PepsiCo, a luta pelos direitos das mulheres

Katy conta “quando me reintegram, não me dão o mesmo posto, me isolam. Mas eu continuei organizada. Construímos a primeira chapa antiburocrática na alimentação, foi a chapa Celeste y Blanca, com Kraft, Stani, Felfort e companheiros da Bagley. Nesta eleição fui candidata a congressista da oposição e fui parte, até quatro anos atrás, da Comissão Interna da PepsiCo.

Durante todo este tempo levamos adiante campanha pela efetivação dos companheiros terceirizados e pelos direitos das operárias. Forjamos a unidade entre homens e mulheres e por isso conquistamos que nos dêem categorias, o que pelo contrato estavam reservados apenas para os homens. Somos a única empresa do sindicato da alimentação que conquistou: igual tarefa, igual salário”.

Conseguiram além disso que a creche seja paga pela empresa e que não fossem despedidas as que estavam “quebradas” pelo ritmo de produção. “Antes a empresa te demitia e conseguimos que elas fossem realocadas em outras tarefas”, conta.

Katy conseguiu impor dentro da fábrica que cada 8 de março fosse um dia de debate sobre a situação das mulheres. Estes anos de luta e debates incansáveis pelos e sobre os direitos das mulheres, que antecederam NiUnaMenos, conseguiu fazer com que um setor importante da fábrica marchasse no primeiro e segundo 3J, mas sobretudo, o que vai ser difícil de esquecer, é a primeira paralisação de mulheres e a Paralisação Internacional de Mulheres do 8M, os três turnos paralisaram a fábrica. Não foi mágica, foram anos de lutas para unificar as filleiras operárias.

2011, Kraft: paralisação histórica contra o assédio sexual

Lorena tem em sua experiência outra batalha histórica: uma paralisação em repúdio ao assédio sexual de um chefe da patronal yankee com uma operária.

“Em 2011 respondemos com uma paralisação o assédio sexual de um superior a uma companheira, que além disso a empresa sancionou por denunciar.

A medida de força começou em um setor do turno da noite e logo se estendeu em toda a fábrica. Todos os companheiros foram parte da denúncia.

Uma resposta histórica, porque é estimado que 40% das mulheres já sofreram assédio sexual em seus locais de trabalho.

Lorena enumera as lutas que participaram, “fechamos a Panamericana por Mariano FErreyra, fomos a Soldati e nos solidarizamos com os companheiros sem teto. Estivemos em incontáveis manifestações e obviamente nas do 3J, por NiUnaMenos e nas duas paralisações de mulheres. E em cada Encontro de Mulheres nos organizamos para participar e levar nossas demandas”.

Stani, a luta pelos direitos das mulheres

Teresa “na fábrica, as mulheres somos as que embolsamos os produtos, somos a extensão da máquina, como dizia Katy, e doenças como a tendinite são uma constante. O pior é que não temos categorias, ainda quando fazemos a mesma tarefa que os homens, ganhamos menos.

PepsiCo mostra que as mulheres podemos sim: podemos reivindicar uma creche, nosso dia feminino, exigir mais categoria. Somos nós as que deixamos a vida na linha de produção.

Quando assumimos como comissão interna, uma das batalhas que demos é não ter um local de descanso adecuado, precisamos dele porque nossas costas doem por estarmos sentadas em cadeiras sem encosto, fazendo o trabalho de um robô. Além disso, muitas companheiras não tinham onde extrair seu leite.

Também pedimos que trocassem o uniforme, porque era branco e quando menstruamos ele macha. E conseguimos que a empresa reconheça os atestados médicos que apresentamos e impedimos que fechassem o vestuário.

No 8 de março paramos uma hora por turno, é histórico na nossa fábrica, porque é um dia de luta pelos direitos das mulheres e muitos companheiros se somaram”, conclui Teresa.

Três operárias que em suas fábricas lutam por unificar a classe trabalhadora, brigando pelos direitos das mulheres, os terceirizados e imigrantes. Três operárias que transcendem a luta sindical e se levantam em defesa dos interesses do conjunto dos trabalhadores.

Hoje trajam camisetas estampadas “Nem uma mulher desempregada”




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