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GREVE GERAL NA FRANÇA | “Não negociarão em nosso nome”, grevistas ocuparam a Confederação Francesa Democrática do Trabalho

Em seu 44º dia de greve, trabalhadores das empresas de transportes, rodoviários e ferroviários, da França, ocuparam na última sexta-feira (17), a sede da Confédération Française Démocratique du Travail - CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho) para adverti-los: “ não negociem por nós”. Acionada pela CFDT, a polícia estava aguardando os manifestantes do lado de fora.

terça-feira 21 de janeiro de 2020 | Edição do dia

Durante o meio da última sexta-feira (17), dezenas de membros da Coordenação da Régie Autonome des Transports Parisiens – RATP ( Empresa Pública Autônoma Parisiense) de metrôs e ônibus, e a Société Nationale des Chemins de fer Français - SNCF(Sociedade Nacional de Ferrovias Francesas), entraram pacificamente na sede central da Confederação Francesa Democrática do Trabalho, ao som das palavras de ordem: “mesmo que Berger não queira, estamos aqui”, e denunciaram que Laurent Berger, o líder da CFDT, que não chamou pela greve, negociou a reforma da previdência, que o movimento grevista considera uma regressão social.

Esta ação simbólica teve uma enorme repercussão por todo o dia. Primeiro em um tweet, Berger condenou a ação dos trabalhadores, dizendo que houve “agressão verbal e física por parte dos trabalhadores”, denunciando a “coordenadoria SNCF-RATP”.

Anasse Kazib, uma das referências de destaque do movimento grevista, expressou de megafone em mãos, “ toda nossa solidariedade com os trabalhadores ferroviários da CFDT sindicalizados, que ainda estão em greve e exigem a retirada total da reforma da aposentadoria”. O conhecido ativista continuou explicando que o movimento “não veio denunciar a CFDT, pois, há membros da mesma que são militantes e estão construindo a greve, não estamos contra eles; viemos denunciar estes burocratas, como Laurent Berger”.

“Não é contra os membros da CFDT, mas sim, contra a burocracia que aqui leva o nome de Laurent Berger e está em processo de negociação de regressão social”, explica @AnasseKazib em frente à sede da #CFDT

Se bem que a CFDT tomou um lugar particularmente importante nas negociações, os grevistas destacaram o fato de que, nos dois bastiões da greve, a CFDT não tem legitimidade para negociar com o governo: no RATP, o sindicato CFDT não é representativo, enquanto os membros da SNCF exigem a retirada da reforma da aposentadoria sem negociações, uma posição muito particular do secretário da Confederação.

Porém, a questão das negociações com o governo, não eram a única preocupação dos grevistas: depois de um mês e meio de greve, o tema dos fundos de greve também está no centro de seu discurso: “tem 16 milhões de euro na caixa negra. Esses 126 milhões devem ser entregue aos grevistas, sindicalizados ou não, para que possamos resistir! ”, exclamou Anasse Kazib de microfone na mão, denunciando que nenhuma confederação sindical, até agora, está construindo uma verdadeira solidariedade financeira com o movimento de greve.

Frente aos grevistas, a reação da burocracia sindical, que estava presente foi particularmente calorosa: “voltem a trabalhar”, chegou a gritar um deles. Inclusive, atreveram-se a chamar a polícia para retirarem os trabalhadores do local. Quando uma organização que afirma fazer parte do movimento operário chama a polícia, é uma mostra escancarada da política que as direções do sindicato sujeita os trabalhadores.

Pela tarde, todo o regime saiu em defesa do “soldado” Berger, inclusive os líderes da Confédération Générale du Travail – CGT (Confederação Geral do Trabalho) e Force Ouvrière – FO (Força de Trabalho) que se separaram das ações do movimento de greve. Também o ex-presidente Hollande, do Partido Socialista, foi quem enfatizou a importância de “respeitar os sindicatos”. “Em uma democracia, devemos nos respeitarmos mutuamente. Devemos respeitar os sindicatos: se protestam, estão na rua ou negociam e assumem compromissos”.

Por sua vez, Emmanuel Macron, que não estava em um bom dia, disse à mídia: “ Condeno firmemente o que ocorreu nesta tarde. Esta violência é uma desgraça para a nossa democracia e é inaceitável”. Pouco mais tarde foi vaiado por muitas pessoas, ao ponto de ser retirado pelos seus seguranças, enquanto tentava assistir uma obra de teatro em Paris.

Naquele mesmo dia, os setores mais combativos do movimento realizaram uma terceira ação de luta, desta vez no famoso museu do Louvre, onde fizeram um piquete (trancaço), na porta do local, impedindo o seu funcionamento, afim de falarem e visibilizarem o ataque histórico às conquistas trabalhistas que Macron pretende impor.

Estes setores de grevistas combativos, vem se organizando através de uma coordenadoria com o objetivo de alcançarem a retirada total da reforma da previdência e superar as travas que impõem as cúpulas e direções sindicais, que tentam negociar com o governo, pelas costas dos trabalhadores em greve, e que estão dispostos a continuarem a luta.




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