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Declaração | Não à guerra! Fora as tropas russas da Ucrânia! Fora OTAN da Europa Oriental! Não ao rearmamento imperialista!

Declaração da Fração Trotskista pela Quarta Internacional sobre a guerra na Ucrânia.

quarta-feira 2 de março de 2022 | Edição do dia

NÃO À GUERRA! FORA AS TROPAS RUSSAS DA UCRÂNIA! FORA A OTAN DA EUROPA ORIENTAL! NÃO AO REARMAMENTO IMPERIALISTA! PELA UNIDADE DA CLASSE TRABALHADORA INTERNACIONAL! POR UMA POLÍTICA INDEPENDENTE NA UCRÂNIA PARA ENFRENTAR A OCUPAÇÃO RUSSA E A DOMINAÇÃO IMPERIALISTA!

1. A ocupação militar russa na Ucrânia, que repudiamos completamente, tem consequências no conjunto da situação internacional. Há já quase 700 mil ucranianos refugiados nos países europeus nas fronteiras da Ucrânia, e um auge do militarismo e rearmamento das grandes potências. Enquanto a Rússia está implementando um efetivo de 190.000 soldados na Ucrânia e fortalecendo o cerco nas principais cidades do país (começando os bombardeios contra as sedes do poder político e não somente contra as instalações militares), as potências da OTAN lançaram mão de duras sanções econômicas contra a Rússia (como a desconexão do sistema SWIFT de grande parte de suas operações e o congelamento das reservas do Banco Central russo), enviando armamento e apoio logístico ao governo ucraniano. Por sua vez, após ser o setor mais relutante a sanções, a Alemanha e toda a União Europeia deram uma guinada de 180 graus e hoje estão entre os mais entusiastas em tomar medidas contra a Rússia. A Alemanha, sob o governo de coalizão liderado pelo social-liberal SPD (Partido Social-democrata Alemão) deu um verdadeiro giro histórico aprovando o envio de armamento letal a países em conflito e autorizando um gasto adicional de 100 bilhões de euros no seu orçamento militar, o que superaria 2% do seu PIB. Também implementou tropas na Lituânia, Romênia e Eslováquia. O parlamento europeu, por sua vez, aprovou em votação uma resolução para dar passos na adesão da Ucrânia à União Europeia. Como parte da política de rearmamento e maior intervencionismo militar imperialista, da qual a Alemanha é o caso mais relevante, a Suécia anunciou a transferência de armamento antitanque para a Ucrânia (as regulações suecas impediam a exportação de armas para países em guerra, com algumas exceções). A Suíça anunciou que adotaria as sanções tomadas pela União Europeia contra a Rússia (rompendo a neutralidade que mantinha desde 1815), e a União Europeia decidiu conjuntamente dar o passo sem precedentes de financiar a compra e a entrega de armas para Ucrânia no valor de 500 milhões de dólares. Ainda que por enquanto o limite das potências da OTAN seja não entrar em um enfrentamento militar direto com a Rússia, qualquer evento imponderável, especialmente se o conflito for prolongado, pode gerar uma escalada e uma expansão do teatro de operações militares.

2. A invasão russa na Ucrânia é uma ação claramente reacionária, em que uma potência que tem o terceiro maior exército do mundo e armamento nuclear invade militarmente um estado fronteiriço para impor suas próprias condições e interesses. O objetivo da ocupação parece ser propiciar uma “mudança de regime” na Ucrânia impondo um governo mais ou menos favorável a Putin. Isso se daria com ou sem amputação de parte do território ucraniano atual, ou, ao menos, a aceitação das demandas russas por parte de um governo ucraniano condicionado pela ocupação militar. Toda posição de esquerda ou anti-imperialista deve repudiar aberta e enfaticamente esta ocupação decidida pelo governo autocrático de Putin e exigir a retirada imediata das forças militares russas de todo o território ucraniano. Ao mesmo tempo, deve alentar entre a população ucraniana o surgimento de uma posição independente do governo pró-imperialista de Zelensky e das diferentes forças nacionalistas reacionárias, subordinadas às potências da OTAN. Deve incluir no seu programa o direito à auto-determinação para as populações de Donetsk e Luhansk, sem o qual é impossível superar a atual divisão da população, presa de direções burguesas rivais que disputam entre si a subordinação a Putin ou aos imperialismos ocidentais. Nas repúblicas separatistas do Leste ucraniano, também é necessário se opor à ocupação russa, enfrentando a demagogia de Putin que utiliza as justas demandas da população de origem russa para seus interesses. Na própria Rússia, milhares estão se mobilizando e organizando contra a guerra. Os manifestantes sofrem prisões massivas, enquanto a população começa a sentir na própria pele o efeito das sanções, com a desvalorização do rublo e o aumento da inflação. Diferentes analistas sustentam que a ação militar de Putin pode acabar sendo uma aventura, ao pretender ocupar um país com 44 milhões de habitantes, uma população majoritariamente hostil e um território é que três vezes maior que a Grã Bretanha, por uma política que não é popular na própria Rússia e com a oposição dos Estados Unidos e dos imperialismos europeus. Contra os diferentes nacionalismos reacionários e contra o imperialismo, em defesa de todos os povos oprimidos e seus direitos nacionais, é imprescindível o desenvolvimento da unidade internacional da classe trabalhadora.

3. Como ele se ocupa em esclarecer, Putin não tem nada a ver com o comunismo ou com a esquerda (como o apresentam ridiculamente os nostálgicos da Guerra Fria). Em realidade, Putin encarna setores das camarilhas que impulsionaram e se beneficiaram da restauração do capitalismo na ex-União Soviética, e funda os antecedentes da sua política para com os países vizinhos na opressão nacional exercida pelo tsarismo e na realizada pelo stalinismo, expressando o pior do nacionalismo reacionário. Encarna um regime autocrático que persegue e criminaliza a oposição política, ataca os direitos das minorias, das mulheres e da comunidade LGBT. Na atualidade, soma mais de 3000 detidos nas manifestações contra a guerra. Putin esmagou a ferro e fogo as reivindicações do povo checheno, e interveio recentemente na Bielorússia e no Cazaquistão para sustentar governos reacionários questionados por mobilizações populares. A nível internacional sua intervenção foi chave para sustentar o regime sanguinário de Bashar al-Assad na Síria, em um processo que culminou em uma guerra reacionária sem campos progressistas. Sua política de negar os direitos nacionais do povo ucraniano está em clara oposição ao bolchevismo dos tempos de Lênin e Trotski, que defendeu na União Soviética surgida da revolução de outubro o direito à autodeterminação nacional, inclusive a separação, da Ucrânia e de todas as nacionalidades oprimidas sob o tsarismo, direito este que consideravam inescapável de ser defendido para conquistar a unidade da classe trabalhadora.

4. Por sua vez, os Estados Unidos e as potências imperialistas européias que controlam a OTAN, responsáveis por numerosas intervenções e ocupações militares em todo o mundo (Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e antigos países da ex-Iugoslávia, entre outros), impuseram duras sanções econômicas que afetam em primeiro lugar e principalmente a população civil – entre as sanções, a exclusão de alguns bancos e operações comerciais russos do SWIFT (sistema de pagamento internacional) – proibiram a Rússia de utilizar seu espaço aéreo, e enviaram armas, financiamento e apoio logístico ao governo ucraniano de Zelensky. Os EUA expulsaram os diplomatas russos acusados de espionagem. A União Européia também tomou medidas de censura contra a mídia russa como Russia Today e Sputnik, e outras restrições às liberdades democráticas. Procuram estabelecer um monopólio de imprensa para aqueles que divulgam as versões dos acontecimentos que os Estados da OTAN mantêm. Fazem em seus países o que criticam Putin por fazer na Rússia. As nações imperialistas não estão interessadas em “independência e democracia” na Ucrânia, como cinicamente afirmam. Mesmo sem se engajar por ora em um confronto militar direto com as forças russas, eles estão usando a ocupação atual para seus próprios fins de rearmamento militar e para se posicionarem para uma semicolonização não apenas da Ucrânia (que, sob o impulso do FMI e dos imperialismos “ocidentais”, é um dos países mais pobres da Europa Oriental), mas da própria Rússia, caso os cálculos políticos e militares de Putin se revelarem errados e ele acabar sendo varrido pela força dos acontecimentos. Desde a dissolução da União Soviética, a OTAN duplicou sua adesão ao Leste (algo que James Baker havia prometido que o governo dos EUA não faria em troca da aceitação da unificação alemã por Gorbachev) através do envio de tropas e mísseis destinados à Rússia. Esses mesmos poderes impulsionaram a política de "mudança de regime" na Ucrânia a fim de transferir o poder dos oligarcas pró-russos para os imperialistas pró-ocidentais. O curso da Ucrânia formalmente independente, que oscilou entre ser um vassalo da Rússia ou das potências imperialistas da OTAN, mostrou a exatidão da afirmação de Trotsky em 1939 de que a independência da Ucrânia estava indissociavelmente ligada à luta pelo poder dos trabalhadores, uma conclusão que a ocupação russa atualiza. A luta por uma Ucrânia independente, operária e socialista implica obviamente a defesa do direito de autodeterminação nacional do povo ucraniano. Ao mesmo tempo, aponta que a verdadeira independência não será conquistada nem por nacionalistas ucranianos “pró-ocidentais” nem por “pró-russos”, mas por um governo da classe trabalhadora.

5. Como já assinalamos, as potências imperialistas da OTAN estão usando a ocupação russa, que foi justamente repudiada por uma grande parte da população desses países, para justificar um recrudescimento do militarismo. No caso da Alemanha é uma “virada histórica”, como seu chanceler social-democrata Olaf Scholz a chamou, no intervencionismo militar desta potência imperialista. O governo “progressista” espanhol mobiliza tropas na Europa Oriental e rivaliza com seus aliados conservadores em sua retórica pró-OTAN. Na França, a imprensa está entusiasmada com a existência de uma política imperialista européia comum. Embora alguns analistas tenham assinalado que a ocupação russa favoreceu a unidade de uma OTAN que estava em crise, a verdade é que, embora isto tenha acontecido taticamente, o que está ocorrendo é um protagonismo maior das potências européias, o que hoje não é contraditório com a política dos EUA em relação à ocupação russa na Ucrânia, mas que poderia vir a ser amanhã. Ao mesmo tempo, toda a indústria de armas está vivendo tempos de glória pelo rearmamento dos vários estados, que é comemorado pela imprensa européia. De nossa parte, nos opomos abertamente a esta política reacionária e promovemos um movimento de repúdio ao militarismo imperialista nestes países, retomando a melhor tradição do movimento operário alemão (como dizia Wilhelm Liebknecht em 1897, “Nem um centavo, nem um homem para o militarismo”) antes da traição da social-democracia quando apoiou sua própria burguesia na Primeira Guerra Mundial. Dizemos claramente: Abaixo a OTAN e todas as políticas imperialistas de rearmamento!

6. Esta ascensão do militarismo e a chegada da guerra no coração da Europa Oriental mostra a falsidade de todas as previsões de que a “globalização” neoliberal e o fim da Guerra Fria inaugurariam uma nova era onde o poder dos Estados havia sido liquidado e as guerras eram uma coisa do passado. Depois que a miragem de um mundo capitalista governado por um único “hiperpoder” se desvaneceu, o declínio do poder dos EUA é agora visível para todos. A crescente integração da economia mundial através das “cadeias de valor” para a produção industrial e de serviços, bem como o sistema financeiro e de telecomunicações, longe de diminuir a concorrência intermonopólica e interestatal, não fez mais que a aumentar. A disputa por partes do poder mundial (entre Estados Unidos, China e Rússia, mas também as tentativas da Alemanha e França, bem como do Japão, de uma política imperialista mais independente para ganhar uma posição em sua esfera de influência) torna toda a situação internacional mais instável. Isso se expressa na atual guerra na Ucrânia, que pode se transformar em um confronto de proporções ainda maiores, devido à multiplicidade de contradições que condensa. Assim como há dois anos a pandemia do coronavírus perturbou toda a situação internacional, hoje a ocupação da Ucrânia pode acelerar as tendências latentes e provocar convulsões na situação política, incluindo ações revolucionárias do movimento de massas ou guerras contra-revolucionárias em uma escala maior. A definição de Lênin de que vivemos em uma época de “crises, guerras e revoluções” é atualizada. Com crises econômicas, pandêmicas e climáticas (aquecimento global), guerras que agora envolvem países europeus, lutas de classe e rebeliões populares que interagem com os elementos anteriores e preparam o terreno para o surgimento de situações pré-revolucionárias ou revolucionárias em diferentes países.

7. A partir da esquerda revolucionária, temos que encorajar mobilizações em todo o mundo contra a guerra, que exijam a retirada das tropas russas da Ucrânia e, ao mesmo tempo, denunciem o papel da OTAN e o rearmamento das potências imperialistas ocidentais. Devemos lutar para garantir que o repúdio à ocupação russa expresso por aqueles que se mobilizam em todo o mundo contra a guerra, especialmente na Europa, não seja utilizado para promover o militarismo e o rearmamento das potências imperialistas. Na própria Ucrânia, defendemos que a resistência à ocupação russa tome um caminho independente da subordinação à OTAN pregada por Zelensky. Na Rússia, defendemos que a oposição à guerra seja o ponto de partida para um fim revolucionário do governo reacionário de Putin (algo que não pode vir do setor burguês de oposição liderado por Navalny). Um grande movimento ao redor do mundo contra a guerra atual com estas características seria sem dúvida um grande ponto de apoio para o desenvolvimento de processos revolucionários para questionar toda a ordem imperialista. A unidade internacional da classe trabalhadora, mais necessária do que nunca, só pode se desenvolver com base em uma intervenção nos processos de luta que agora estão em pleno andamento. Os tempos estão acelerando.

A Fração Trotskista - Quarta Internacional (FT-QI) é uma organização revolucionária internacional, promotora da Rede Internacional de diários digitais La Izquierda Diario, presente em 14 países e 8 idiomas. A FT-QI é composta pelos grupos:

ARGENTINA: Partido de los Trabajadores Socialistas (PTS) / BRASIL: Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT) / CHILE: Partido de Trabajadores Revolucionário (PTR) / MÉXICO: Movimiento de los Trabajadores Socialistas (MTS) / BOLÍVIA: Liga Obrera Revolucionaria (LOR- CI) / ESTADO ESPANHOL: Corriente Revolucionaria de Trabajadoras y Trabajadores (CRT) / FRANÇA: Corrente Comunista Revolucionária (CCR) / ALEMANHA: Revolutionäre Internationalististische Organisation (RIO) / ESTADOS UNIDOS: Left Voice / VENEZUELA: Liga de Trabajadores por el Socialismo (LTS) / URUGUAI: Corriente de Trabajadores Socialistas (CTS)
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