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CORTES NA EDUCAÇÃO, GREVES, REPRESSÃO | Na UFMG, mesa de debate discute a “Pátria Educadora”

terça-feira 26 de maio de 2015 | 02:07

No último dia 20 aconteceu na FAFICH (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG) a mesa de debate “Cortes na educação, greves e repressão. Pátria Educadora?”, organizada pelo CAFCA (Centro Acadêmico da Filosofia/UFMG), que contou com um auditório de cerca de 50 pessoas.

A mesa contou com a presença de Marcella Campos, professora da rede estadual de São Paulo e militante da agrupação Professores pela Base, em greve há mais de 70 dias e com os salários cortados pelo governador Geraldo Alckmin; Deise Luiza Ferraz, professora da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG; e Francisco Marques, coordenador-geral do CAFCA e militante da Juventude às Ruas.
Marcella começou dando um panorama da greve em SP, contando sobre a força desta greve, onde as manifestações chegaram a reunir 60 mil pessoas e que vem expressando um novo ativismo de professores desde a base, que certamente foram influenciados por junho de 2013 e pela onda de greves em maio de 2014. Localizou esta greve no contexto paulista de 20 mil demissões de professores (a duzentena) no fim de 2014, fechamento de salas e grande corte de verbas (muitas escolas de SP não têm recebido a verba da limpeza e falta até papel higiênico), ao que se somou o arrocho salarial que quer fazer passar o governo Alckmin/PSDB neste ano.

Depois ligou essa greve dos professores a todos os ataques que vêm acontecendo na educação, como o corte de verbas feito pelo governo federal (Dilma/PT) e o novo documento “Pátria Educadora”, que se inspira em parâmetros mercadológicos para a educação pública do país. Denunciou a repressão às greves, dando como exemplos o corte de ponto inconstitucional em SP (que a justiça chegou a determinar ser ilegal, mas que o governador segue sem pagar os salários), e os ataques brutais da PM de Beto Richa/PSDB aos professores do Paraná.

Criticou a direção do sindicato dos professores de SP (APEOESP) filiado à CUT, que impede que se expressem os comandos de greve nas assembleias e conduz as negociações com o governo paulista burocraticamente, sem discussão na base da categoria. Também disse que esta direção cutista, ligada politicamente ao governo Dilma, apesar de estar também na direção do sindicato dos professores do Paraná e ser a maior central sindical do país, não teve nenhuma medida de solidariedade concreta contra a repressão no Paraná, contra o corte de salários em São Paulo ou qualquer outra medida de unificação das lutas. Isso por medo de que se expresse nacionalmente uma alternativa dos trabalhadores independente do governo do PT e da direita. Marcella pontuou como esta direção ligada à CUT também está no sindicato de professores em Minas Gerais, que aceitou como vitória a proposta do governador Fernando Pimentel (PT) de pagar o piso nacional dos professores de 2015 apenas em 2018. Terminou dizendo que era necessário acabar com os privilégios dos políticos e, para isso, que cada político, juiz ou alto-funcionário deveria ganhar o mesmo salário de um professor, e todo professor, um salário digno, como calcula o DIEESE: 3.118,62.

Deise iniciou sua intervenção colocando que acreditava que esse cenário atual e o documento “Pátria Educadora” poderiam ser bons para o país, pois por serem ataques tão profundos, é possível que gerem – e é necessário gerar, colocou a professora – uma forte mobilização nacional em defesa da educação brasileira e uma unificação dos trabalhadores como classe. Abordou o cenário em que a UFMG se encontra, que passou por crise de falta de pagamento das contas, falta de papel higiênico nos banheiros e atrasos em bolsas, e disse que os primeiros a sentirem os cortes na universidade foram os trabalhadores terceirizados, que são na sua maioria mulheres e negros, e foram os primeiros a serem demitidos.

Denunciou a tentativa de ampliação da terceirização por meio do PLC 30 (antigo PL 4330), em tramitação no Senado, e se colocou não apenas contra a terceirização das atividades fins (como propõe o projeto), mas também contra toda a terceirização, como a que vemos nos serviços de limpeza e jardinagem das universidades. Criticou também o sindicato dos professores da UFMG, que se cala frente a esses ataques e frisou a necessidade de unificação da classe trabalhadora contra os ataques e em defesa da educação brasileira, dizendo que é preciso lutar não só contra estes ataques, mas por todos diretos dos trabalhadores, como por universidades gratuitas, de qualidade e com acesso universal (sem vestibular).

Francisco encerrou as intervenções desde a mesa partindo de reivindicar as falas anteriores e situando todos os ataques que vêm sendo feitos pelo governo Dilma no contexto de uma crise capitalista mundial que tem arrasado países europeus desde 2008 e que agora chega com força na América Latina e no Brasil. Lembrou que o PT diz demagogicamente que defende os trabalhadores quando vota contra o PL 4330, mas foi o governo Dilma que implementou Medidas Provisórias que atacam os direitos dos trabalhadores, como as MPs 664 e 665, além de ser este mesmo governo que entre 2005 e 2013 triplicou as terceirizações e que segue destinando 45% do PIB brasileiro para o pagamento da dívida pública.

Citou o cenário de outras universidades federais, como a UFRJ que teve várias aulas suspensas por falta de professores, e também das universidades privadas, que com o corte no FIES fez com que centenas de milhares de estudantes tenham tido que optar entre se endividar ainda mais ou não seguir o curso na faculdade. Além de todos os ataques, lembrou que desde o início de 2015 esse regime e este governo vêm imersos em escândalos de corrupção que mostraram mais uma vez como os políticos dos partidos dominantes servem somente a si mesmos e aos empresários.
Encerrou dizendo que a saída para esta situação deve se apoiar nas várias categorias de trabalhadores que estão em greve (professores de SP, Paraná, Pará, Santa Catarina, entre outros) e nas mobilizações estudantis como na UERJ e UFRJ, organizando desde a base um plano de luta unificado em defesa da educação (), contra os cortes de verbas, pelo atendimento das reivindicações das greves e contra os ataques aos direitos trabalhistas. Defendeu que a esquerda, desde a ANEL, da CSP-Conlutas e desde o parlamento (os parlamentares do PSOL) deve levar à frente este plano de luta, pois as direções da UNE, CUT, Levante Popular da Juventude, pelas ligações que têm com o governo Dilma, não se colocam a tarefa de unificar as lutas contra este governo e com independência da direita. Reivindicando a experiência de luta pela educação pública e de qualidade da juventude chilena, chamou todos a participarem do 3º Congresso da ANEL junto à Juventude às Ruas, levando essas bandeiras expressas em sua intervenção.
Desde o plenário, a atividade foi saudada pelos militantes do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) e por Iaci Maria, que desde a Juventude às Ruas também saudou a atividade reforçando que para as mulheres, negrxs e LGBTs da universidade, que sofrem cotidianamente com as opressões, era necessário questionar a fundo as raízes da opressão, mostrando como os primeiros a serem atacados pelos cortes na educação são as mulheres e xs negrxs, tanto os trabalhadores terceirizados como os estudantes que dependem das bolsas de assistência estudantil e sentem seus atrasos e cortes desde o começo do ano. Isso enquanto a reitoria e os burocratas acadêmicos encastelados no Conselho Universitário permanecem com seus “salários de deputados” e com infinitos poderes sobre a universidade. Com isso, para sermos consequente com o combate às opressões diárias, também temos que nos unificar nessa luta contra os cortes, em defesa da educação, contra a reitoria machista, racista e homofóbica. Finalizou chamando todas as mulheres, negrxs e LGBTs a construírem o 3º Congresso da ANEL com essa perspectiva, contra as opressões e pela efetivação de todxs xs trabalhadorxs terceirizadxs.

Infelizmente, o novo DCE – Gestão Virada, chapa de esquerda que acaba de assumir a entidade com um discurso de defesa da educação e contra os ataques do governo federal, apesar do convite para que estivessem na mesa de debate e construíssem conjuntamente a atividade, não se fez presente nem mesmo para saudar a atividade, menos ainda colocou a entidade a serviço de construir a atividade e ser parte desse importante debate.




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