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29M: DIA NACIONAL DE LUTA CONTRA OS AJUSTES | Mulheres na linha de frente: Como me senti ao ser atacada com spray de pimenta

"Devemos lutar pela tua vida como se fosse a nossa - ela é a nossa, aliás - e obstruir com nossos corpos o corredor que leva à câmara de gás. Porque, se eles te pegarem de manhã, voltarão para nós naquela mesma noite". (Carta Aberta para minha irmã, Angela Davis por James Baldwin)

Patricia GalvãoDiretora do Sintusp e coordenadora da Secretaria de Mulheres. Pão e Rosas Brasil

sexta-feira 29 de maio de 2015 | 08:00

A citação acima, extraída de uma carta de um militante negro, homossexual, James Baldwin, para a também militante negra Angela Davis, uma das minhas favoritas, diz muito sobre porque são os setores mais oprimidos da sociedade os que primeiro se levantam contra a opressão e exploração do homem pelo homem. Reconhecem no outro a si mesmos e entendem que lutar por aquele que hoje é oprimido é, no fim das contas, lutar por si mesmo.

Colocar nossos corpos no caminho da polícia, quando um dos nossos é ameaçado de uma injustiça, pareceu-me quase instintivo. Afinal, do outro lado estava o Estado (burguês), o mesmo que diariamente oprime as mulheres, através de representantes como Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha, ou Marcos Feliciano, para citar alguns. O mesmo Estado que criminaliza o aborto e deixa entregue a morte milhares de mulheres vítimas de abortos clandestinos. Enfim, o mesmo Estado que se utiliza do machismo da sociedade para ratificar a opressão às mulheres.

Esse Estado não está do lado das mulheres, nunca esteve! E se a polícia, braço armado do Estado, reprime uma manifestação, prende um manifestante, é contra ela que devemos nos colocar. Não conhecia o estudante preso hoje – Carlos, descobri seu nome depois. Mas sei de que lado ele estava. Estava ao meu lado e ao lado dos meus companheiros, trabalhadores, contra os ataques que estamos sofrendo tanto do governo federal quanto do governo estadual. Se ele estava ao nosso lado, nós estaremos ao lado dele na luta, por cima para proteger seu corpo e atrás para resgatá-lo. Porque defende-lo era defender nosso grito, nossas demandas.

Spray de pimenta no rosto arde! Muito! Ter um brutamontes, homem, muito maior e infinitamente mais forte que você, mulher, puxando seu braço, tentando acerta-la, realmente dói, machuca. Um homem que não apenas pode te agredir, pode também te prender, destruir sua vida é assustador. O mundo é muitas vezes assustador às mulheres. Mas o medo nunca as impediu de lutar. Em 1917 foram linha de frente; nas greves operárias perderam suas vidas. Resistir ao medo é resistir à opressão.

Não foi a primeira vez que eu e a polícia disputamos espaço. Em 2014, em um dos atos para denunciar os gastos excessivos da Copa, já havíamos nos atracado antes. Ela defendendo os interesses do Estado, eu ao lado dos meus companheiros defendendo nossos direitos.

Não somos, ainda, as mulheres de 17. Ainda não tentaram queimar nossos corpos em fábricas. Mas hoje estivemos, nós mulheres do Sintusp, mais uma vez lutando junto aos nossos companheiros e aos estudantes. E assim é a política da Secretaria de Mulheres, estar ao lado dos nossos companheiros na luta contra a exploração e a opressão da sociedade capitalista.

Nenhuma dúvida me resta de que lado estar e do que fazer. Nós mulheres faremos o que precisar ser feito!




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