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IGREJA | Morre o cardeal D. Paulo Evaristo Arns

Morreu hoje, aos 95 anos de idade, na cidade de São Paulo, o cardeal D. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo. Arms estava internado na Unidade Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Catarina desde 28 de novembro com um quadro de broncopneumonia e nos últimos dias apresentou piora do sistema renal.

quarta-feira 14 de dezembro de 2016 | Edição do dia

Assim como o irmão mais velho, frei Crisóstomos, Paulo Evaristo entrou em um seminário fransciscano, vocação que o seu pai agricultor sempre apoiou, apesar das dificuldades financeiras da família. Além de Paulo e seu irmão mais velho, outras três irmãs optaram pelo convento.

Foi professor de Teologia no seminário franciscano de Petrópolis (RJ), onde trabalhou dez anos em favelas. Em maio de 1966, foi nomeado bispo auxiliar do então cardeal de São Paulo por D. Angelo Rossi, que o designou para a região de Santana, na região da zona norte.

Durante a sua vida, dedicou-se aos presos da Casa de Detenção do Carandiru e criou núcleos da comunidade eclesiais de base, experiência pioneira na arquidiocese, quando um telefonema do núncio apostólico lhe comunicou que seria o novo arcebispo de São Paulo. Não era um convite, mas uma ordem do papa Paulo VI, que transferira o cardeal Rossi para Roma em 1970.

Um ano antes, o cardeal tivera os primeiros contatos com as vítimas da ditadura militar, o que o fez defender os direitos humanos que marcaria sua carreira. Foi designado para verificar as condições em que se encontravam os frades dominicanos e outros religiosos na prisão. A nomeação de D. Paulo para cardeal não agradou os militares. Quando foi elevado a cardeal, criou a Comissão Justiça e Paz, formada por advogados e outros profissionais, para atender pessoas perseguidas pela ditadura militar.

No período em que visitava trabalhadores, estudantes e políticos nas celas da polícia, conheceu Lula em uma prisão, após ser detido nas greves do ABC. Com isso, as comunidades eclesiais de base tiveram um papel importante na fundação do PT e nos rumos que este partido tomou.

Dessa forma, ainda que abrigasse os trabalhadores nas igrejas da diocese que eram impedidos de se reunir, contribuiu, junto ao PT, para frear as greves de trabalhadores que aconteciam naquele período. Apesar do ativismo do cardeal de São Paulo, através das comunidades eclesiais de base, pactuou para uma transição lenta, gradual e pacífica que fez com que os militares ficassem impunes até hoje.

Arns teve um papel muito destacado e ao mesmo tempo contraditório na luta dos trabalhadores do país. Se, por uma lado, era um forte líder democrático, que ajudou lutadores a estarem vivos até hoje, por outro, era uma figura progressista de uma das mais reacionárias instituições do mundo, a Igreja Católica.




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