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CORONAVÍRUS | Monitoramento por drones em Recife: incremento de vigilância para constatar o óbvio e não resolver nada

Capitaneado pelo Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD), projeto monitora a circulação de pessoas e também detecta eventuais contaminados via medição da temperatura.

sexta-feira 12 de março de 2021 | Edição do dia

Foto: Foto: Andréa Rêgo Barros/PCR

Está em operação na capital pernambucana, com o aval da Aeronáutica e da polícia militar, bem como de órgãos municipais, a circulação de drones (aeronave pilotada remotamente) como uma das medidas para conter o contágio e, assim, tentar aplacar o colapso por que passam os hospitais da cidade – e de todo o país.

Como reporta o Portal G1, da Rede Globo, o pesquisador que está à frente do projeto, Jones Albuquerque, avalia que “as medidas que restringiram o funcionamento de atividades não essenciais em Pernambuco foram efetivas, mas não resolveram o problema do aumento no número de casos da Covid-19.”

A razão disto, segundo o pesquisador e a apresentadora da Globo que o entrevistou, deve ser atribuída ao comportamento da população, que não estaria, ainda de acordo com eles, levando a sério as medidas de isolamento e distanciamento social.

Será mesmo que seria uma questão de comportamento individual ou a calamidade decorre das gestões ineficazes – quando não genocidas – de estados, municípios e federação?

Entre as ações adotadas pelo governador do estado, Paulo Câmara, do PSB, em relação à epidemia de coronavírus em Pernambuco estão o fechamento de alguns setores considerados não essenciais durante parte da noite e da madrugada, das 20h às 5h da manhã, e medidas ainda mais restritivas nos fins de semana. No sábado e no domingo, além de proibir o funcionamento daquilo que atende em horário comercial na semana, fecha praias e parques, e proíbe práticas esportivas ao ar livre – com exceção para o Campeonato Pernambucano que, sem público, segue conforme a tabela.

Poderíamos dizer que é sintomática, portanto, a explicação, a partir do plano-piloto em Recife, dada pelo especialista sobre o aumento de casos e de contaminações nos dias úteis em relação ao fim de semana, os dias do lazer. E mais ainda o é sua afirmação: “Muito infelizmente, com a velocidade que a gente tem hoje de vacinação, a gente precisa fechar a circulação de pessoas no estado como um todo. Porque a nossa população não aprendeu a seguir os protocolos, não aprendeu que estamos em um novo mundo” (destaque nosso).

É evidente que a calamidade que enfrenta a população – não apenas de Pernambuco, mas de todo país – precisa ser resolvida. No entanto, o caminho não está pura e simplesmente em incrementar as restrições com fiscalização que integra diversos órgãos, incluindo as polícias, e serve à repressão. Tampouco em confinar as pessoas em suas casas, ainda mais nas situações de moradia em que vive a maioria da população, ou seja, a classe trabalhadora e o povo pobre, em que medidas desse tipo, nas condições atuais, é concretamente infactível sem uma enorme carga de sofrimento e de opressão, e que, além do mais, pode colaborar para o espalhamento do vírus.

Durante a semana, o transporte que conduz as pessoas aos seus locais de trabalho está invariavelmente lotado – em outro momento de isolamento social mais recrudescido, a quantidade de ônibus foi diminuída, e agora não houve restituição da frota e muito menos ela foi aumentada. Nos fins de semana, essa mesma parcela da população deve ficar confinada em residências de poucos cômodos e muita gente. Trata-se, portanto, não somente de resultado direto dessa gestão – voltada a defender os lucros dos empresários e com total descaso pela vida dos trabalhadores – o aumento de casos no Recife, como ainda não há nenhuma novidade nisto, por mais que se incrementem os métodos de vigilância e repressão e ainda que o façam apoiados em alta tecnologia. Tecnologia, aliás, que deveria estar sendo usada para salvar vidas, não só em torno de prevenção, cuidados, tratamento e vacina para todas as pessoas que desejem a imunização, mas principalmente no socorro dos casos graves e gravíssimos, que necessitam de respiradores que poderiam vir da reconversão da indústria, por exemplo. Só assim evitaria a mortandade que graça em todo o país.

É notável, ainda, as áreas sobre a quais esses drones sobrevoam: as “comunidades”, define o pesquisador; bem como onde se concentra seu foco: na circulação de transeuntes.

Um plano racional e científico compreenderia a aplicação de quarentenas de infectados e potenciais infectados, com testagem massiva e identificação de contaminados e sintomáticos, rastreamento e isolamento de contatos para observação, que fossem alojados em hotéis e spas estatizados e tivessem garantia de salário quarentena, entre outras medidas, mas jamais o confinamento indiscriminado de toda a população, sem se importar com as reais condições de vida desses sujeitos e lançando mão de métodos coercitivos.

Não fica difícil, dessa maneira, compreender onde está o “furo” do estudo e da análise dos drones: não se considera as atividades e as condições de vida da maioria das pessoas e parte de uma leitura mecânica que visa a responsabilizar as próprias vítimas da catástrofe pela catástrofe em curso. Estes artifícios, contudo, não podem desviar nossa atenção do principal: por trás de toda a parafernália, sofisticam-se as formas de vigilância, controle e repressão por agentes do Estado capitalista burguês sobre a massa trabalhadora.




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