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Militantes da Juventude Faísca saudam o lançamento do Quilombo Vermelho

No último sábado foi lançado do Quilombo Vermelho - Luta Negra Anticapitalista, impulsionado pelo MRT e independentes. O Esquerda Diário procurou militantes da Juventude Faísca - Anticapitalista e Revolucionária que comentaram sobre a importância dessa nova ferramenta para a juventude negra.

Faísca Revolucionária@faiscarevolucionaria

sexta-feira 24 de novembro de 2017 | Edição do dia

Jenifer Tristan, militante da Juventude Faísca e do Quilombo Vermelho:
O ano de 2017 foi um o ano do golpe contra os trabalhadores, mas também um ano onde mostramos nossas forças quando saímos às ruas em greve geral. O lançamento do Quilombo Vermelho é a resposta direta a essa direita golpista e racista. A reforma trabalhista veio pra atacar nossos direitos e os trabalhadores e a juventude negra são os mais atingidos. Os níveis de desemprego só aumentam, na juventude são quase 20% de jovens entre 18 e 24 anos sem emprego. Ao ir para o mercado de trabalho a realidade agora é de postos de trabalho oferendo R$ 4,50 a hora de trabalho. Além disso, Temer está aliado à direita golpista e racista para aprovar a reforma da previdência, e não se ouve das centrais sindicais que os trabalhadores serão organizados para barrar esse ataque. O Quilombo Vermelho vem como uma alternativa de organização também para juventude resistir aos ataques e lutar contra o racismo e o capitalismo.

Odete Cristina, estudante de letras da USP:
Nesse 18 de novembro nasceu um quilombo que quer resgatar a luta do povo negro, que se revoltou historicamente contra esses sistema de opressão, e isso significa também resgatar os elementos da nossa cultura que o capitalismo insiste em apagar – ou vender. Mesmo com o embranquecimento que enfrentamos desde crianças para que não nos orgulhemos de nossos blacks, dreads, cachos, traços, corpos, cultura e conhecimento, sabemos bem quem somos e o racismo cotidiano se encarrega de nos lembrar disso.
Como resposta, sempre que nos levantamos orgulhosamente, tentam nos calar. Historicamente as religiões de matriz africana, o samba, a capoeira foram perseguidos. Recentemente, representantes da direita mais reacionária desse país aumentaram o nível de perseguição racista através da censura a arte, da criminalização da arte de rua, a tentativa de criminalização do funk e do rap e repressão às festas da juventude que não tem opções de cultura e lazer gratuitas e acessíveis garantidas pelo estado, e esses jovens são majoritariamente os negros e negras.
Por isso, o lançamento do Quilombo Vermelho foi um evento claramente político, mas sem deixar de lado a capoeira, o samba e a música black. Esse evento serve também para que não nos esqueçamos de usar a nossa identidade para conquistar, através da luta anticapitalista e aliada aos trabalhadores, a nossa emancipação.

Willian Garcia, estudante de pedagogia da USP:
Como estudante de pedagogia e negro, sempre reflito sobre o futuro que os capitalistas estão reservando à juventude negra. O nosso lugar parece estar reservado somente aos cargos mais precários de trabalho e fazem de tudo para seguirmos sempre de cabeça baixa, mente vazia e de preferência calados.
É essa burguesia racista que fez passar a PEC do teto de gastos em saúde e educação e a reforma do ensino médio, uma dupla perfeita para formar mais mão de obra barata e sabemos que cor tem a esmagadora maioria dessas mãos. Como se não bastasse, quiseram impor o escola sem partido para impedir que professores e alunos tenham liberdade de discutir gênero, sexualidade, politica e para que não questionem as misérias desse sistema que de nada tem a nos oferecer.
O Quilombo Vermelho vem, certamente, como um potencializador da forca que temos para lutar contra essa direita e vamos fazer isso com independência do PT. Ao contrário, não perdoamos os golpistas e vamos levar a sério a luta negra anticapitalista em defesa de cada direito democrático para a juventude negra e sempre com a perspectiva de avançar para arrancar deles tudo o que roubaram de nós.

Pammella Teixeira, estudante de biologia da UFMG:
O lançamento do Quilombo Vermelho no último sábado com certeza é um marco pra juventude negra, e não só no Brasil. A luta negra é internacional e fomos inspirados pelo Black Lives Matter, pela Primavera Árabe e pelos estudantes da África do Sul. No Brasil, a juventude negra também luta pelo direito à educação, saúde, cultura, lazer e pelo direito mais elementar que esses sistema é incapaz de nos garantir, que é o direito à vida.
Os jovens haitianos, herdeiros de sangue dos revolucionários negros que se libertaram da escravidão, por anos foram mortos pelo exército brasileiro, enviado pelo PT para exterminar os negros daquele país. Agora o governo Temer ameaça enviar as tropas brasileiras para o Congo. O Quilombo Vermelho exige o fim das atrocidades causadas pelas tropas brasileiras aos negros de outros países, a nossa luta é a mesma.
Junto ao Esquerda Diário, queremos propagandear essas demandas e nos somar a elas com a perspectiva anticapitalista e antimperialista. Não nos venderemos às saídas individuais, como o empoderamento, que nos vende a nossa emancipação às custas de trabalho escravo de jovens e crianças em outros países e no Brasil também, principalmente com os imigrantes. Sobre isso, achei muito interessante uma fala do Claudionor Brandão, que disse que não nos contentamos com "capitães do mato" como Obama. Acrescento que, enquanto mulher e negra, me inspiro naquelas que lutaram e lutam pela emancipação de toda a humanidade.

Flávia Telles, estudante de ciências sociais na UNICAMP:
O lançamento do Quilombo Vermelho é um marco no movimento negro universitário. Alem de lidar com o racismo cotidiano, os negros e negras ainda enfrentamos enormes desafios para ter acesso ao ensino superior, ousarmos sermos os profissionais que sonhamos e termos direitos iguais aos dos brancos nas universidades.
Eu já lutava, com a Juventude Faísca, em defesa das cotas, pelo avanço desse sistema para que sejam proporcionais ao número de negros e indígenas de cada estado, e pelo fim desse filtro social racista que é o vestibular. Já lutava por permanência para toda a demanda e pela anistia das dívidas contraídas pela juventude precária nas universidades particulares. Já lutava pela estatização sem indenização dos grandes monopólios da educação que lucram nos vendendo o que é um direito gratuito, a começar pela Kroton – Anhanguera que se ergueu sob os demagogos governos petistas de “pátria educadora”, para que se abram vagas gratuitas para a juventude estudar, e que sejamos nós, junto e proporcionalmente aos professores e trabalhadores, os gestores de cada local de estudo. Lupei a reitoria contra o legado racista das estaduais paulistas.
Agora, com o Quilombo Vermelho, sei que essas lutas podem se potencializar ainda mais, com os companheiros negros e negras na linha de frente de cada reivindicação, pois se tratam de pautas que atingem principalmente à juventude pobre, trabalhadora e negra.

Isabella Santos, estudante de serviço social na UERJ:
O Rio de Janeiro foi o maior porto de pessoas escravizadas da África e tem cada parte da cidade marcada pela cultura do povo negro. Mas é também o Estado que nos primeiros 8 meses deste ano alcançou a marca de 712 assassinatos pela mãos da Policia.
Pra mim, que sou do Rio, ver tantos negros (jovens e trabalhadores) debatendo sobre a luta e resistência do povo negros, sobre os desafios colocados para o povo negro hoje e dispostos a se organizarem acredito que foi uma fortaleza para cada um dos presentes.
Hoje a juventude negra carioca, e de todo país, tem seu futuro roubado pelas mãos da policia ou pela justiça que encarcera em massa o povo negro em nome de uma falsa politica de combate às drogas. O lançamento do Quilombo Vermelho mostrou que os negros, e principalmente a juventude, está disposta a dar saídas profundas para as questões que impactam nossas vidas hoje. Não vamos permitir que a burguesia e os políticos corruptos sigam nos encarcerando e tirando nosso futuro por meio da redução da maioridade penal ou que sigamos morrendo nas periferias e nas favelas assassinadas pela polícia racista. Vamos lutar pela legalização de todas as drogas e estamos agora nos organizando num Quilombo Vermelho para por fim a esse sistema que nos oprime, mata e encarcera a cada dia!

Marlon Fidelix, ator e estudante de filosofia na UFRGS:
O dia 18 de novembro foi um dia histórico para o movimento negro no Brasil. Em meio ao conjunto de medidas reacionárias que atacam diretamente a classe trabalhadora e principalmente os trabalhadores negros, surgiu uma nova esperança; uma nova ferramenta de luta para os negros de todo o país.
No Rio Grande do Sul, estado mais racista do Brasil, do qual passa por momentos de lutas por parte dos professores do estado e municipários, é necessário que juventude negra levante suas reivindicações. Todos os ataques impostos pelo governador José Ivo Sartori (PMDB) e do prefeito Nelson Marchezan (PSDB) marcam explicitamente o caráter racista do estado do RS. É um momento de lutas, e de mobilização necessária para que todo o povo negro possa resistir aos ataques que jogam, não só nós negros mas também a classe trabalhadora, a beira da escravidão.
No dia 18 ao viajar para São Paulo, para participar do lançamento do Quilombo Vermelho, ao ver as declarações da mesa, fui tomado por um sentimento revolucionário de esperança e de indignação. Esperança, porque o Quilombo vermelho será Construído no Rio Grande do Sul e será uma nova voz anticapitalista de extrema importância para a juventude negra no estado da qual irá firmemente levar aquilo que é necessário para que sejamos realmente libertos das amarras impostas pela burguesia; indignação, porque é necessário nos indignarmos para que possamos ter forças para lutar e destruir o capitalismo e construirmos uma sociedade em que os negros realmente sejam libertos e tenham plenamente igualdade com os brancos. O Quilombo Vermelho se faz como uma força necessária e uma nova voz para a juventude negra. No RS, não será diferente. Avante Quilombo Vermelho!!!




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