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EM DEFESA DOS METROVIARIOS | Mídia e governo culpam funcionários pelo caos no Metrô

terça-feira 28 de julho de 2015 | 00:01

Em meio à ameaça do Governador de privatizar o Metrô de SP, diversos casos de agressões e assédios no Metrô de SP têm sido veiculados pela TV e rádio, e em todos eles as emissoras e seus âncoras fazem uma operação de colocar a população contra os metroviários e se "esquecem" da responsabilidade do governo Alckmin e PSDB, que submersos a escândalos de corrupção precarizam cotidianamente os transportes públicos, querendo agora avançar na privatização dos mesmos.

Os casos veiculados são uma amostra dos milhares de casos que ocorrem todos os dias no principal sistema de transporte de São Paulo, que a mídia ignora.
Trens, metrô e ônibus são utilizados pela massa da população e estão numa situação calamitosa. Para garantir o financiamento eleitoral da campanha de seus partidos, o governo federal de Dilma, e estadual de Alckmin, preferem realizar seus "planos de concessões", que favorecem o lucro bilionário das empreiteiras e multinacionais, ao mesmo tempo que gera o caos no transporte urbano e ataca os direitos dos metroviários, ferroviários e rodoviários.

Entretanto, essa contradição se expressa no questionamento das manifestações de junho de 2013, que a cobertura da mídia conscientemente esconde. Prefere ter seções especiais nos seus jornais para falar do trânsito ou diretamente culpabilizar os trabalhadores, analisando casos isolados sem relacionar com o problema estrutural dos transportes.

Datena faz demagogia para atacar os Seguranças do Metrô

Geralmente, basta uma imagem de confronto entre trabalhadores e usuários do Metrô para que a mídia oficial responsabilize os funcionários, em particular os seguranças. Datena, um dos principais "porta-vozes" nesse quesito, generaliza em seus programas: "Normalmente, a violência é a atitude dos seguranças do Metrô". Quem conhece o âncora sabe do ódio dele contra os metroviários nas suas greves, e diante a um problema social como esse não perde o tempo em inocentar a Cia. do Metro e o seu Governador Alckmin. Não é de hoje, que Datena é conhecido por esse tipo de declaração, já chegou a dizer que "Segurança do metrô só sabe dar porrada e bala de borracha na população".

As verdadeiras balas de borracha que Datena não questiona, mesmo porque os seguranças do Metrô nem possui esse armamento, são da Polícia Militar. Pelo contrário, essa instituição, uma das mais violentas do mundo, é exaltada pelo apresentador e a grande mídia, que cotidianamente nos noticiários legitima a ação da Polícia nas favelas massacrando jovens e negros. Esta mesma polícia que na greve dos Metroviários em 2014 coordenou diretamente com a chefia do Metrô e o governo de SP o ilegal Plano de Contingência para furar a greve dos metroviários, como vemos nesse vídeo oficial feito pela própria PM:https://www.youtube.com/watch?v=52klgbAlQ94

Marilia, operadora de trem da Linha 3 e uma das metroviárias demitidas nessa greve, falou para o ED sobre o assunto: "A mídia cumprirá sempre seu papel de blindar o governo de sua responsabilidade com a tarifa cara e superlotação, e quando este caos politicamente construído pelo governo gera conflitos, os primeiros a serem culpados são os funcionários. Foi assim também na nossa greve. Datena mente para a população quando fala dos Seguranças do Metrô. Geralmente, eles são os primeiros a prestar os primeiros socorros em acidentes mais graves, como o resgate na via, e até trabalho de parto realizam nas Estações. Por isso, hoje se faz extremamente necessário a ampliação do quadro de funcionários de forma emergencial, tanto seguranças quanto funcionários da operação, para garantia de maior atendimento aos usuários do transporte!"

A portadora de deficiência física e usuária do Metrô Cátia Melo Oliveira, também defende os metroviários: "No mundo que vivemos onde o fluxo de usuários no metrô é cada dia maior, ter o auxílio dos funcionários do metrô é fundamental para o nosso ir e vir. Sou cadeirante e em uma cadeira motorizada ainda tenho que contar com as barreiras arquitetônicas, onde elevador vive quebrado, metrô reformado dificulta a entrada de uma cadeira devido a altura do degrau. Se Não tiver o auxílio e profissionalismo diferenciado dos funcionários para nos auxiliar. Não será o governador que todos os dias as 06:00 horas irá nos embarcar nos preservando da multidão do horário de pico. Hoje se vive uma época onde se tem o mínimo de funcionário nas maiorias das estações e o atendimento se torna precário onde ou abandona um pra salvar o outro. Só pra descer uma escada rolante tem que se dispor de no mínimo três funcionários para descer uma cadeira motorizada com segurança. Espero que isso seja revisto e o quadro visivelmente defasado de funcionários possa ser corrigido pelos nossos governantes".

De quem é a responsabilidade do assédio sexual no Metrô?

Em maio, uma jornalista da Record sofreu um assédio sexual onde um homem ejaculou em sua calça. Uma violência absurda que infelizmente milhões de mulheres estão sujeitas a sofrer todos os dias onde a superlotação e a falta de segurança deixam os vagões lugares propícios para assediadores. Talvez se não fosse uma jornalista de uma grande emissora, e sim uma trabalhadora comum assediada, seria mais um caso onde os poucos funcionários executam o atendimento as estas vítimas ficam sem atenção nenhuma da mídia.

Desde o ano passado, os metroviários vêm fazendo uma campanha contra a superlotação e assédios, e estão sendo feitas denúncias sobre a conivência no Metrô e Governo do Estado com os casos de assédio nos vagões. O Metrô chegou inclusive a veicular nas rádios uma notícia paga pelo Governo onde afirmavam que no Metrô lotado os jovens poderiam "aproveitar para dar uma azarada" nas mulheres (https://www.youtube.com/watch?v=zHuwIkOMqZs) . Mas a Record, ao denunciar a violência sofrida por sua repórter "esqueceu" do papel do Governo, e resolveu focar no "problema" dos funcionários:

"Chamei um funcionário do Metrô e aí que tudo ficou ainda mais estranho (...) Enquanto isso, ele me dizia que não tinha o que fazer. Nada de registro, nada de boletim de ocorrência, como se nada tivesse acontecido (...) Não sou funcionária do Metrô para pensar em soluções para essa situação corriqueira, não sou paga para isso".

Marília falou sobre o caso: "O Metrô puniu seu funcionário e a mídia prestou o (des)serviço de isolar um problema geral para um caso especifico de um funcionário. Deixou novamente a população contra os metroviários, salvou da responsabilidade o Governo do Estado e condenou a sua repórter e as milhões de mulheres a continuarem sendo agredidas dentro dos vagões."

Consequências da aplicação “correta” dos procedimentos da empresa.

No mês de junho, um idoso passou com seu Bilhete Especial um garoto que tentava embarcar na Estação Belém e não tinha dinheiro para pagar sua passagem. Tanto os funcionários da operação das estações, quanto os seguranças, instruíram e impediram o acesso do usuário, já que este estava fazendo o "uso indevido" do Bilhete Especial do idoso, segundo o procedimento da empresa. Houve uma enorme repercussão com vídeos devido as agressões desferidas por seguranças no rapaz imobilizado.

O Metrô e o Governo lucram milhões diariamente com a venda de bilhetes cuja tarifa é exorbitante, por conta disso seu procedimento concentra os poucos funcionários da operação e segurança das estações nas catracas e bilheterias. A falta de quadro impõe a uma situação de conflito dos funcionários contra a população, reforçada pelo procedimento da empresa que obriga, sob a pena de punição, o impedimento de burlas e abordagem de outros casos, como o da Estação Belém, decorrentes de problemas sociais que só tendem a aumentar com o crescimento da desigualdade social.

Em relação aos assédios, a empresa age com a mesma lógica: em maio, um supervisor do Metrô foi preso por mostrar o pênis e se masturbar para uma usuária dentro de um vagão. O mesmo supervisor havia sido detido pelo mesmo crime em 2013 sem nenhuma repercussão do caso, pois foi acobertado pela empresa. Este tipo de caso absurdo, vindo de um responsável pela chefia do Metrô, é expressão acentuada da conivência política e procedimental por parte de toda a cúpula de gestão da empresa com os problemas de assédio, superlotação e precarização do trabalho.

Felipe Guarnieri, membro da bancada de trabalhadores da CIPA da Linha 1 azul, questiona a política da empresa: “São inúmeros os casos debatidos de agressões aos funcionários nas reuniões da CIPA. A empresa é conivente com a situação e só diz para cumprirmos o procedimento, mesmo que esse coloque em risco a vida dos trabalhadores. Nos jogam em uma jaula junto com os usuários para nos devorarmos como leões. E tudo isso vira um prato cheio para falsos jornalistas como Datena e Marcelo Rezende. Com os impactos cada vez mais sentidos da crise econômica no Brasil, mais conflitos com comércio irregular e pedintes acontecerão, pois, entre morrer de fome e pedir dentro de um trem as pessoas tomarão a primeira opção. Nosso trabalho nas estações é de atender a população, assim como dos seguranças é garantir a integridade física de quem está no sistema. O Metrô e o Governo querem que sejamos sua polícia, não seremos, temos que ficar ao lado da população e em cada gesto nossa mostrar como o Metrô e os transportem funcionariam melhor se tivesse sendo controlado e gerido por nós em aliança com os usuários”.

Quando o funcionário, obrigado aplicar o procedimento que o coloca contra o usuário, acaba sendo vítima ou causador de violência, nenhum, nem outro recebe a assistência devida, e o funcionário leva a culpa.

Outra fonte de lucro do Metrô é o comércio regular dentro dos espaços das estações, onde são cobrados aluguéis exorbitantes por estes pontos privilegiados de comércio. Assim, o Metrô obriga que seus seguranças sejam manejados contra os pedintes e ambulantes irregulares que circulam dentro do sistema. Sendo assim, quando mulheres são vítimas de abuso ou usuários passam mau em decorrência da superlotação, os funcionários operativos e seguranças não são manejados para este tipo de atendimento, mas sim para outras funções que preveem o embate com pedintes e burladores do qual a empresa privilegia, fruto da desigualdade social que a sociedade capitalista impõe, fazendo destes casos desastres muito piores. Para a mídia a culpa, em casos de tragédia, sempre é atribuída aos trabalhadores, nunca à empresa.


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Foto: Flickr




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