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ESPORTES | Membros de torcida de futebol do Cruzeiro falam sobre seus ideais

O Esquerda Diário entrevistou membros de uma torcida organizada de esquerda do Cruzeiro Esporte Clube de Belo Horizonte, a torcida conhecida como RESISTÊNCIA AZUL POPULAR. A RAP é uma torcida anticapitalista que luta por um futebol democrático e popular. Combatendo cartolas, empresas e políticos que se apropriam do nosso futebol. Confira a entrevista:

domingo 2 de abril de 2017 | Edição do dia

ESQUERDA DIÁRIO (ED): O que é a Resistência Azul Popular (RAP) e quanto tempo existe?

Membros da RAP: A Resistência Azul Popular surge da fundição da luta anticapitalista com a paixão pelo Cruzeiro, sendo uma torcida que está presente na arquibancada e em atos políticos. Começamos a nos reunir no princípio de 2015, mas colocamos a data do nosso primeiro ato como a fundação, o dia 09/08/2015, no jogo contra o Palmeiras no Campeonato Brasileiro.

ED: Qual o perfil de membros da RAP?

Membros da RAP: Pessoas que se identificam com os ideais de esquerda, sejam contra a reprodução de preconceitos e que torçam para o Cruzeiro.

ED: Vimos que a RAP possui um MANIFESTO, em que consiste esse manifesto?

Membros da RAP: Consiste em apontar nossos ideais, como está centrada nossa luta e contra quem é essa luta.

ED: Onde encontrar a RAP nas arquibancadas?

Membros da RAP: Ainda não temos um ponto fixo nas arquibancadas, mas nossos membros estão costumeiramente no setor amarelo do Mineirão, espalhados entre o amarelo inferior e o amarelo superior. Temos uma proposta de ter ponto fixo em breve, além da confecção de bandeiras que já está em processo.

ED: O que a RAP pensa sobre apropriação do futebol pelo mercado capitalista?

Membros da RAP: O futebol vai além do seu aspecto esportivo, através do seu caráter extremamente popular e da paixão envolvida, se tornou num dos mais marcantes traços da cultura do povo brasileiro. Por isso já há algum tempo é nítida a tentativa de apropriação do futebol pelo mercado de natureza capitalista. A classe que tem o poder da sociedade através do capital se apropria das produções da humanidade como a arte, o esporte e a ciência para se gerar lucro. Para que se torne algo rentável é necessário acabar ou modificar com suas características que foram sendo moldadas através de décadas onde o futebol era um esporte popular. O Cruzeiro surgiu através da união de trabalhadores imigrantes, a maioria da construção civil, que queriam construir um clube para um setor da população segregado. Logo se abriu para todas as pessoas da cidade, não se limitou a colônia italiana e sua torcida cresceu em torno desse caráter popular. Acreditamos que o futebol pode também ser revolucionário, é nítido o recorte de classes no meio futebolístico e podemos fazer essa luta com os torcedores.

ED: Como tornar o futebol uma aliança revolucionária para trabalhadores?

Membros da RAP: Os trabalhadores não se encontram apenas no local de trabalho, mas também em locais de sociabilidade e lazer. Temos que entender que apesar da maioria dos torcedores serem trabalhadores, naquele momento de frequentar ao estádio eles não estão indo como trabalhadores, mas sim como torcedores. Trabalhamos com ações contra o capitalismo no futebol sempre abordando que o futebol não é uma bolha, que tais ações do capital refletem em toda a cidade. Assim os torcedores podem levar essa ideia nos seus locais de trabalho. Uma arquibancada forte, organizada e anticapitalista além de bater nas empresas que se apropriam do futebol, pode também ser uma atuação sinergista com a luta dos trabalhadores.

ED: Como a RAP enxerga os torcedores rivais e quem são seus “inimigos”?

Membros da RAP: A Resistência Azul Popular não enxerga os torcedores de outros times como inimigos, os demais clubes também têm na composição de sua torcida trabalhadores que estão sendo excluídos do futebol através do mercado que visa o lucro. Nossos inimigos são os cartolas, as empresas e políticos que contribuem com essa gentrificação do futebol, transformando os estádios lotados, bandeiras com mastros, papel picado, sinalizadores e instrumentos musicais em arenas frias, onde o expectador deve se comportar como se tivesse assistindo um filme no cinema.

ED: Está se tornando “normal” gritos de OOOOOO “BICHA” nos estádios brasileiros, reforçando ainda mais um universo extremamente homofóbico. Geralmente o grito ocorre quando o goleiro adversário bate o tiro de meta. O que a RAP pensa sobre isso e sobre o tema nos estádios?

Membros da RAP: Somos veementemente contra a reprodução de preconceitos no futebol, nas várias formas que são colocados. Homofobia não é permitido em nossas fileiras, esse grito é de uma infelicidade gigantesca e buscamos combatê-lo sempre, assim como qualquer alcunha que traga conotação machista e/ou homofóbica. A homofobia, especificamente, exclui gays, lésbicas e transexuais dos estádios, por não se sentirem confortáveis naquele ambiente.

ED: A mulher nos estádios assim como na sociedade passa por momentos de luta, existem mulheres na RAP? Qual o pensamento sobre o MACHISMO no futebol para vocês?

Membros da RAP: As mulheres também não são recebidas de forma adequada, pois o assédio e a misoginia não promovem uma experiência agradável. Há mulheres atuantes na RAP, existindo inclusive um grupo para serem debatidas estratégias e ações para a luta contra o machismo, onde o coletivo das mulheres discutem pautas, vão ao estádio e escrevem sobre o assunto. O machismo é um dos nossos inimigos e nossa luta também é contra ele.

ED: A CBF a “dona” do nosso futebol vem cometendo atrocidades juntamente com a globo durante décadas, como a RAP vê essas instituições e suas influencias no meio do futebol?

Membros da RAP: Vemos de maneira muito negativa, uma vez que várias das dificuldades para um estádio mais popular passa por esse tipo de organização. Nos é muito claro, por exemplo, que um jogo durante a semana às 21:45h é um dificultador para a classe trabalhadora ir ao estádio. Enfatizamos também que CBF e Globo têm tanto controle pela subserviência dos clubes que não buscam outras formas de se organizarem. O objetivo da RAP é ajudar para que um dia os campeonatos sejam autogestionados pelos clubes

ED: O que representa o CRUZEIRO ESPORTE CLUBE para os torcedores da RAP?

Membros da RAP: Representa muito, o clube que desde criança nossa família e/ou amigos nos ensinaram a amar, para que o legado seja repassado e que assim podemos escrever novas histórias nas arquibancadas do Mineirão. Vemos no Cruzeiro algo que nos identificamos e quando estamos no Mineirão sentimos que todos da torcida celeste apesar de toda as diferenças de cada torcedor estão unidos pelo mesmo sentimento. Assim como para qualquer torcedor que é apaixonado pelo maior clube de Minas Gerais. Temos um posicionamento de que o clube precisa ser mais popular e democrático, e para isso estamos buscando estratégias para debater nosso estatuto e sistema eleitoral, que acabam restringindo o poder do clube nas mãos de poucos membros do seu elitista conselho.

ED: Como ser um membro da RAP?

Membros da RAP: Basta estar na luta anticapitalista, concordar com os princípios do coletivo, ser cruzeirense e se posicionar contra os preconceitos existentes no futebol. Podem nos encontrar no estádio através das nossas camisas ou via página no Facebook.

ED: Deixe contatos, páginas, sites, blog, etc…

Membros da RAP: Estamos no Facebook e também temos um grupo de Whatsapp. Caso queira ser adicionado basta enviar uma mensagem através do Facebook.

ED: Por fim um recado para toda torcida cruzeirense em principal a classe trabalhadora…

Membros da RAP: Sabemos que quem mais sofreu com a elitização do Mineirão foi o trabalhador, principalmente o mais precarizado. A Resistência Azul Popular não irá descansar enquanto o Mineirão não voltar aos braços do povo e convida a todos para somar nessa luta.

A equipe ESQUERDA DIÁRIO agradece a disponibilidade e torcemos que a iniciativa de fato cumpra seus objetivos e que mais torcidas como essa possam encher os estádios e retomar o futebol do povo.




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