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DIA MUNDIAL DA AGUA | Marina Silva e a hipocrisia do capitalismo sustentável

Em pesquisa realizada na semana passada, a candidata Marina Silva (Rede Sustentabilidade - Rede) lidera as intenções de voto para presidente nas eleições de 2018. Uma das motivações de simpatia a candidata é o cunho ambiental que a mesma sempre tenta demonstrar em seus discursos, desde quando foi ministra do meio ambiente, no primeiro mandado do ex-presidente Lula (PT). Entretanto, a candidata não se fez presente nas discussões sobre o crime socioambiental de Mariana (MG), sobre o pretexto de não usar a tragédia como palanque eleitoral. Assim, fica evidente que as questões socioambientais nada mais são do que uma tática política de oportunismo do que realmente uma preocupação. Marina Silva mostra também sua verdadeira cara ao defender frente ao cenário político nacional a derrubada da coalisão Dilma-Temer pela via do TSE e novas eleições para presidente, claramente uma política interessada por parte da candidata.

terça-feira 29 de março de 2016 | Edição do dia

No dia 22 de março comemorou-se o dia mundial da água. A utilização deste recurso natural vem sendo discutida durante os últimos anos de forma mais alarmante já que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), aproximadamente um bilhão de pessoas não tem abastecimento de água suficiente.

Em relatório (relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 - Água para um Mundo Sustentável), apresentado no começo do ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) também relata uma situação assustadora em forma de alerta: se não houver uma mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento do recurso, o mundo enfrentará um déficit de 40% no abastecimento de água em 2030, apesar de haver, no mundo, água suficiente para suprir as necessidades de crescimento do consumo.

Claro que este "terrorismo ambiental" usado para culpar e tornar cada cidadão como responsável pelo problema da qualidade e de abastecimento deste recurso natural não revela qual é a real causa deste problema: a exploração predatória gerada por um sistema que se mantém para privilegiar uma classe que comanda os meios de produção, para produzir em prol de seu lucro imediato, e essa é sua política vigente ao redor do mundo.

Para ficar mais palpável basta analisar a conjuntura nacional e relaciona-la com o maior crime socioambiental ocorrido no país há mais de 140 dias: a morte do Rio Doce devido ao rompimento de duas barragens feitas em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), pela mineradora Samarco, uma joint-venture da companhia Vale do Rio Doce e da anglo-australiana BHP.

Esse crime revelou, já no período, tanto o descaso do governo federal, estadual e das grandes empresas com as questões sociais e ambientais, como apresentado aqui no Esquerda Diário. Também aqui, no Esquerda Diário, apresentamos que esse crime socioambiental tomava proporções globais, colocando em risco um santuário da vida marinha do Oceano Atlântico – o arquipélago de Abrolhos – e o sustento de pessoas que dependem dos recursos naturais para sua sobrevivência.

Passados mais de quatro meses do crime é que o governo federal anunciou um acordo com a mineradora para o suposto reparo dos danos causados. Depois de inúmeros valores cotados para o acordo, decidiu-se que o aporte seria de R$ 4,4 bilhões de reais sendo liberados no decorrer dos três anos próximos. Esse valor é bem abaixo do que inicialmente planejado (R$ 24 bilhões de reais), mas é óbvio que a diminuição deste aporte influenciou nas ações da Vale do Rio Doce e a desculpa federal para a alteração do valor foi um erro no próprio comunicado federal.

A questão critica / decisiva é o gerenciamento do valor deste aporte. Estes recursos serão gerenciados por uma fundação que será criada para garantir a realização dos investimentos nos 38 programas econômicos e ambientais em toda a área atingida pelo desastre ambiental. Esta fundação será dirigida por um conselho de sete membros, com as três companhias – Samarco, Vale e BHP Billiton – nomeando dois membros cada uma, e as autoridades brasileiras nomeando um membro. Ou seja, quem julgou e quem irá determinar o destino, quantia e gerenciará a mesma serão os próprios culpados pelo crime! Mais uma vez cabe a ressalva e comparação com a conjuntura nacional: não foi e não é uma apuração independente, organizada pelo sindicato e organizações de base dos trabalhadores e moradores, de forma independente, com punição para os responsáveis e com atendimento à população e familiares das regiões afetadas.

Com este cenário, acreditava-se que a candidata Marina Silva (Rede Sustentabilidade) iria se pronunciar sobre o crime socioambiental, já que a mesma procura despertar simpatia do eleitorado por conta do cunho ambiental que tem seu discurso e sua militância em relação a sustentabilidade desde quando foi ministra do meio ambiente, no primeiro mandado do ex-presidente Lula (PT). Segundo pesquisas, Marina lidera as intenções de voto para presidente em 2018.

Entretanto, a candidata preferiu não se expressar politicamente sobre o ocorrido, pois, quando questionada, relatou que "preferia não se promover com a desgraça". A postura da candidata pode ser entendida por muitos como uma forma de conduta supostamente ética, como a mesma apresentou em seu discurso, mas, se a candidata realmente tem uma militância consequente com as questões socioambientais, este silêncio revela, na verdade, o contrário. O fato de se calar com as 17 mortes causadas pelo crime, com a devastação e morte de vários biomas, com consequências globais e em um desastre que, até o momento, continua liberando poluentes para o meio ambiente (pois a lama continua a vazar pela barragem de Mariana) realmente mostra que a candidata se preocupa mais com sua imagem para candidatar-se nas eleições de 2018, e que, também, se preocupa com o financiamento de sua campanha – já que a Vale do Rio Doce foi um dos grandes investidores de sua campanha nas últimas eleições presidenciais. Ou seja, o discurso de sustentabilidade é uma fachada para ganhar simpatia de uma parcela da população genuinamente preocupada com as questões ambientais, sendo que a verdade é que a candidata mantém seu alinhamento com um sistema que realiza a exploração predatória dos recursos naturais, valorizando, somente, o lucro dos grandes empresários em prol dos do meio ambiente e da classe trabalhadora.

Portanto, não devemos acreditar no discurso político, mesmo que supostamente progressista, de candidatos que, na verdade, defendem reformas neste sistema exploratório. É essa a forma funcional do sistema capitalista que gera os grandes problemas ambientais. Devemos é acabar com o sistema que depende, na sua base, da exploração descontrolada dos recursos ambientais, da exploração da classe trabalhadora que tudo produz e da elevação do consumismo, para o lucro de poucos. Por isso devemos ter em mente que somente com a estatização de empresas como a SAMARCO, sobre o controle dos trabalhadores e da população, teremos a real preservação e utilização sustentável dos recursos naturais. Também sobre o controle dos trabalhadores poderemos ter novas obras que garantam a exploração dos recursos de forma controlada e limpa - não como estava sendo feito, que foi a construção de uma barragem que represava dejetos químicos - garantindo, assim a manutenção e geração de novos postos de trabalhos para os moradores das regiões afetadas. Somente desta forma - com a classe trabalhadora sob o controle dos modos produtivos, do início ao fim - é que poderemos ter um desenvolvimento sustentável e uma utilização racional dos recursos naturais.




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